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Gavião Arqueiro: Como uma HQ sem história virou fenômeno e foi parar no MCU
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Gavião Arqueiro: Como uma HQ sem história virou fenômeno e foi parar no MCU

Quadrinho premiado se tornou queridinho de público e crítica antes de inspirar a série do Disney+

Gabriel Avila
Gabriel Avila
24.nov.21 às 17h45
Atualizado há mais de 3 anos
Gavião Arqueiro: Como uma HQ sem história virou fenômeno e foi parar no MCU

O Universo Cinematográfico da Marvel retornou ao streaming com a estreia de Gavião Arqueiro, a nova série do Disney+. A produção tem o grande desafio de dar destaque ao membro menos celebrado dos Vingadores, uma missão que foi concluída com louvor há quase uma década nas HQs. Primeira fase longa do herói em quase 50 anos, o quadrinho ganhou prêmios, caiu no gosto do público e da crítica e se tornou a grande inspiração da produção que estreou nesta quarta-feira (24). Um feito e tanto considerando que tudo começou com uma “HQ sem história”.

Para entender esse fenômeno, é preciso voltar a 2012, quando a editora anunciou que o Gavião Arqueiro ganharia uma nova HQ solo justamente no ano em que o herói ganhou destaque nos cinemas no filme Os Vingadores. Para a tarefa de escrever histórias de um dos heróis menos celebrados, a Casa das Ideias contratou o escritor Matt Fraction e o desenhista David Aja, que já tinham feito mágica ao transformar a revista do Punho de Ferro em uma das mais renomadas dos anos 2000 ao lado do roteirista Ed Brubaker.

A essa altura, Fraction já era queridinho dos leitores por ter escrito elogiadas fases nas HQs do Homem de Ferro e Thor. Seguindo essa lógica, parece uma escolha óbvia dar a revista de um dos seis membros da equipe nas mãos dele, certo? Por mais que o tempo tenha provado que a resposta é “sim”, o processo de criação da história foi completamente caótico logo de saída.

Inicialmente, o escritor queria criar uma história de espionagem “glamurosa e exótica” aos moldes das aventuras de James Bond na franquia 007. Essas histórias seriam curtas, completas em uma ou duas edições que aos poucos construiriam um enredo maior. Tudo começaria com uma missão em que Clint Barton e sua parceira Kate Bishop, precisariam recuperar uma fita comprometedora para o Gavião que havia sido roubada dos arquivos da S.H.I.E.L.D. pela máfia.

Cheia de ação, reviravoltas e bom-humor, a história era tudo o que o roteirista havia sugerido para a Marvel, mas não era o suficiente para dar início à uma série. Não havia muito contexto, a história começava do nada e não indicava a direção do que viria a seguir — grandes problemas para uma HQ longa. No fim, a ideia foi abandonada por não se encaixar na figura de Clint Barton.

Clint Barton e Kate Bishop em missão para recuperar a fita comprometedora

Com isso em mente, Matt Fraction se deparou com a tarefa de descobrir qual é a essência desse personagem. Após muito refletir e reler outras histórias, a resposta encontrada pelo roteirista foi que o Gavião Arqueiro é "só um cara".

Partindo desse princípio, ele se deparou com uma outra questão: o Gavião Arqueiro era parte de vários outros títulos em publicação pela Marvel, que iam desde Vingadores até Motoqueiro Fantasma. O que poderia ser uma dificuldade acabou se tornando o grande motor da série. Matt Fraction contou no livro Escrevendo Para Quadrinhos de Brian Michael Bendis que o dia a dia agitado de Clint foi o que ajudou a definir o tom da história após abandonar a ideia de James Bond:

"A série ia ser sobre o que o Gavião Arqueiro está fazendo quando não está sendo um Vingador, porque, quando me passaram a série, Clint Barton estava por toda parte e eu não queria pisar nos calos de ninguém. Deixem-no para mim nos dias de folga. Ia ser uma coisa mais urbana, mundo real, o cotidiano banal com uma estrutura complexa que seria bom para quem quisesse reler.”

Gavião Arqueiro é encontrado pela Gangue do Agasalho no meio de um cochilo

Assim, Fraction deu uns passos para trás e definiu o tom urbano, cheio de ação e um humor autodepreciativo que casa bem com a figura de um dos heróis mais subestimados do Universo Marvel. Foi definido também que apesar de Gavião Arqueiro ser sobre Clint Barton, a HQ definitivamente precisaria de Kate Bishop. Com isso em mente, ele voltou ao trabalho e escreveu uma nova história para ser a primeira edição, mas também não colou.

A tal história parecia ser mais sobre Kate do que Clint, e como a HQ é dele, isso poderia causar estranhamento no público. Repetindo o processo ele retornou com uma ainda mais nova primeira edição, que realmente se tornou a aventura inicial dessa fase que se tornou um marco nos quadrinhos de heróis da década de 2010.

Gavião Arqueiro ganha o mundo

Esse começo atribulado parece uma receita para o desastre, afinal de contas como uma HQ escrita fora de ordem e cheia de empecilhos poderia dar certo? Simples, ela cumpria o papel de contar o cotidiano de um herói com quem ninguém se importava de uma forma única e honesta.

A história não quer convencer ninguém de que Clint Barton é mais do que o cara sem poderes nos Vingadores. Pelo contrário, o quadrinho faz questão de lembrar disso tanto em texto, quanto ao colocá-lo para brigar com vilões ridículos como a “Gangue do Agasalho de Ginástica”.

O quadrinho não mostra ele lidando com invasões alienígenas ou salvando o mundo de um holocausto nuclear. No lugar, vemos o herói fazendo o possível para ajudar pessoas comuns que sofrem com a violência de gangues, se metendo em problemas amorosos, sabotando cada relação pessoal, entrando no caminho da máfia, fracassando e triunfando. Tudo isso em histórias curtas que no fim realmente ganham um tom épico no final das contas.

Clint Barton e Kate Bishop, os Gaviões Arqueiros da Marvel

Muito desse sucesso se deve a David Aja, artista de mão cheia que fez com que o roteirista Matt Fraction decidisse trabalhar de uma forma totalmente nova. O escritor se lembra que quando trabalharam juntos em Punho de Ferro, os momentos de maior brilho da série aconteceram quando Aja deu um jeito de “desviar” das rígidas instruções do roteiro para colocar ideias próprias. Assim, ele optou por roteiros menos detalhados e mais livres para que o parceiro pudesse colocar toda a sua magia em ação. Foi assim que um roteiro de seis parágrafos virou esta página:

É claro que com uma série grande, outros artistas também passaram pela série, como Javier Pulido, Steve Lieber, Jesse Hamm, Francesco Francavilla, Matt Hollingsworth, Chris Eliopoulos e especialmente Annie Wu. Mas sem a característica identidade de Aja, o quadrinho não teria se tornado o fenômeno que virou. Um ótimo exemplo é a famosa 11ª edição, que é protagonizada e contada pelo ponto de vista do fofo Sortudo, o cãozinho que Clint resgatou da Máfia do Agasalho.

A história, que caiu nas graças tanto de quem já estava acompanhando a HQ, quanto dos novatos atraídos pela narrativa exótica rendeu à série o troféu de Melhor Edição Única no Eisner, prêmio que ainda reconheceu o trabalho de Aja nas categorias de Melhor Artista/Arte-Finalista e Melhor Capista.

Página da HQ de Gavião Arqueiro contada na perspectiva do cão Sortudo

Das HQs ao MCU

Como o quadrinho começou a ser publicado quando a história de Clint Barton já estava em andamento no MCU, elas demoraram bastante para se encontrar. Por exemplo, enquanto o Gavião Arqueiro das HQs era um mulherengo solitário, em Vingadores: Era de Ultron ele ganhou esposa e filhos. Dessa forma parecia quase impossível que a obra de Fraction e Aja se encaixasse com o tom dos cinemas, mas a série deu um jeito.

Desde o anúncio de que o herói ganharia uma série no Disney+, essa aproximação ficou evidente. Matt Fraction se envolveu como produtor, os pôsteres da série recriavam capas icônicas das HQs e todo o material de divulgação prestou tributo a cenas e personagens criados ou desenvolvidos nessa fase. É o caso do cãozinho sortudo, a Gangue do Agasalho de Ginástica e a parceria inusitada entre Clint Barton e Kate Bishop.

Os dois primeiros episódios da série confirmam essa inspiração ao aprofundar ainda mais essas referências, chegando a prestar tributo a momentos específicos da HQ, que até ganham novo contexto, mas que sem dúvida estão ali. A busca por uma ação impressionante, os mistérios, o humor, tudo se encaixa e mostra que a produção acertou o alvo ao misturar as diferentes versões que tornaram o Vingador menos querido de todos em um personagem querido e digno de nota.

 

Os dois primeiros episódios de Gavião Arqueiro já estão disponíveis no Disney+. A série vai ganhar novos capítulos às quartas-feiras.

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