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7º ano de Black Mirror funciona quando tenta não ser Black Mirror | Crítica
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7º ano de Black Mirror funciona quando tenta não ser Black Mirror | Crítica

Série da Netflix evolui além da distopia tecnológica, trazendo frescor às novas histórias

Pedro Siqueira
Pedro Siqueira
11.abr.25 às 15h06
Atualizado há 12 dias
7º ano de Black Mirror funciona quando tenta não ser Black Mirror | Crítica
(Netflix/Divulgação)

Se ainda não ficou claro, o mundo já foi para as cucuias há um bom tempo. E vai demorar para voltar aos eixos. Se você é capaz de acompanhar as notícias globais e não enlouquecer, talvez uma temporada nova de Black Mirror não fosse a opção mais indicada para a sua saúde mental. Mas e se alguém te disser que, na sétima temporada, a antologia distópica, na verdade, é uma ponta de esperança num universo cada vez mais caótico?

No ar desde 2011, a série virou sinônimo de “desgraçamento mental” ao apresentar contos de como a tecnologia nos molda para o pior enquanto sociedade. O que o criador, produtor e roteirista Charlie Brooker talvez não contasse é que o mundo real ficaria “muito Black Mirror” tão rápido em quase uma década e meia.

O que nos leva ao ano da graça de 2025, em que a sétima temporada de Black Mirror, curiosamente, funciona melhor quando não tenta ser Black Mirror.

Isso porque, embora a distopia tecnológica esteja sempre presente, os novos capítulos encontram humanidade em meio ao caos, na leva de episódios mais otimistas da série até hoje. Ou o quão otimista pode ser uma temporada de Black Mirror.

Rashida Jones e Chris O'Dowd em Pessoas Comuns. (Netflix/Divulgação)

O sétimo ano é aberto em boa forma com “Pessoas Comuns”. A trama acompanha o drama de um casal (Rashida Jones e Chris O’Dowd) no meio de uma situação inusitada. Após sofrer um derrame, a mulher é trazida de volta do coma por uma tecnologia revolucionária que copia e transmite sua consciência como um serviço de streaming.

Os problemas começam quando, ao longo dos anos, a assinatura vai tornando-se cada vez mais cara e segmentada, ao ponto de a moça até transmitir anúncios no meio de situações cotidianas. Uma sátira clara não só à precificação abusiva dos serviços de saúde, como ao modelo de negócios da própria Netflix.

Os outros dois grandes destaques são “Hotel Reverie”, que tem Issa Rae como uma atriz literalmente posta no meio de um clássico do cinema por meio de inteligência artificial, e “Eulogy”, estrelado por Paul Giamatti, como um homem viajando em memórias do passado por meio de uma tecnologia capaz de recriar, virtualmente, fotografias e lembranças.

Os três episódios são o melhor exemplo de como, na sétima temporada, Black Mirror consegue manter uma identidade própria, e ainda trazer frescor narrativo mesmo após 14 anos no ar.

Paul Giamatti é destaque no episódio "Eulogy". (Netflix/Divulgação)

Há uma dose de ironia em “Eulogy”, de longe, o melhor capítulo da leva, ser justamente o mais analógico. Sempre excelente em cena, e sem tecnologias mirabolantes, Giamatti carrega praticamente sozinho a narrativa do capítulo, que é também um dos mais humanos de todo o universo Black Mirror.

Também não é coincidência que o trio de episódios lide, de formas diferentes, com o amor, ainda mais em meio ao caos da vida moderna.

Isso tudo para dizer que, no fim, são as histórias das pessoas que importam, e o verdadeiro motivo pelo qual sentimos uma conexão profunda com cada protagonista.

De volta ao espaço (e à distopia)

Claro que, para quem prefere o lado cínico e sombrio da série, Black Mirror também oferece três doses de desgraça com “Bête Noire”, “Brinquedo” e “USS Callister - Infinity”, curiosamente, os episódios em que desliza com ideias cansadas e mal aproveitadas.

É aqui, inclusive, que a série se permite um feito inédito ao longo de sua história, a continuação direta de um episódio anterior. Um sintoma de que, embora sugira caminhos interessantes no trio citado anteriormente, Charlie Brooker e companhia ainda estão apegados à fórmula que os consagrou.

USS Callister - Infinity traz a tripulação virtual de volta. (Netflix/Divulgação)

Embora divertido, “USS Callister - Infinity” sofre sem o suspense e mística da aventura anterior (da quarta temporada), e não justifica a 1 hora e meia de duração, caindo na armadilha do fan service ao trazer de volta uma história querida pelos fãs, mas sem algo que faça valer a nova visita.

Uma casca de banana comum na criação de antologias é a irregularidade de qualidade entre episódios, e isso não é novidade nem na própria Black Mirror. Seria bem mais fácil até para quem vos escreve se houvesse uma balança clara. Tivemos mais episódios bons do que ruins? Mais episódios ruins do que bons? O que fazer quando, como é o caso, temos uma divisão igual entre bom e ruim?

Que prevaleça, então, a boa tentativa de uma série que, mesmo depois de tantos episódios, ainda mostra ter algum combustível no tanque para se reinventar, e é capaz de pequenos momentos de verdadeira genialidade.

Issa Rae, de Barbie, estrela remake de clássico do cinema em Hotel Reverie. (Netflix/Divulgação)

Se o futuro real parece cada vez mais sombrio, que a ficção continue sendo o nosso escapismo. De forma bastante inesperada, Black Mirror encerra o sétimo ano na TV com uma dose saudável de esperança. Afinal de contas, ainda somos humanos, e merecemos um pouquinho de conforto.

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