É muito difícil ser um jogo de corrida relevante dentro desse mercado repleto de grandes clássicos. Quando não é um Need for Speed desfilando seus bólidos tunados em drifts malucos por suas ruas, temos a serenidade japonesa na criação de um ícone de gerações como Gran Turismo, ou os americanos do Turn 10 Studios entregando a soberba e espalhando a inveja diante do visual magnífico dos novos jogos da série Forza. Isso sem contar empresas menores, mas que se empenharam veemente na busca pela simulação perfeita dos esportes motorizados, como a série DiRT ou Project Cars. E aí, onde fica The Crew 2 nessa disputa?
O novo game do Ivory Studios é muito diferente do seu antecessor. Deixe de lado toda a história de Alex Taylor, ex-detento, traído por sua gangue, acolhido pelo FBI e com o coração cheio de ódio pela morte do seu irmão. Colocar uma narrativa de cinema dentro do jogo não fez muito bem ao todo, apesar de que, sinceramente, era muito gostoso acelerar com a vingança temperando cada um dos seus drifts.

Desta vez, o climão de festival de esportes motorizados se faz valer. E não estamos falando apenas de carros. O grande mote do jogo hoje é correr, não importa o lugar ou o veículo. A paixão pela velocidade em disputas de rally, circuitos asfaltados, corridas de rua, e agora também pelos céus, rios e oceanos é muito bem representada através de todo os Estados Unidos da América.
Impossível não ser tomado por uma sensação de déjà vu. “Ei, mas isso está muito a cara de Forza Horizon”, e sim, você tem razão. Mas também não tem. Não sei qual é a graça de ambientar um jogo de corrida dentro de um festival com milionários pilotando supercarros para todos os lados, mas se deu certo para um, por que não daria certo para outro jogo, né?

Em termos de roteiro, esse tipo de festival ameniza demais a rivalidade que poderia existir dentro de um contexto nas ruas, ilegal, que te forçasse a lutar pelo respeito dos demais rachadores. Uma coisa meio Velozes e Furiosos raiz mesmo, underground, com apostas, ruas abertas e sem minirampas de madeira. Estamos pilotando carros, não um skate, pelo amor de Deus. Devo ser somente uma opinião no meio de tantas que acha o estilo ultrapassado, mas tenho saudades de um jogo bem feito nesse estilo.
Família motorizada
O principal conceito do primeiro The Crew, em que você precisava montar um time com seus parças para vencer os desafios não deu muito certo, apesar de ter sido interessante. Ao invés de trocar de carros, mudar apenas o tuning dos veículos para realizar missões específicas era um lance inovador, transformava seu carro numa espécie de avatar, um companheiro para toda a aventura.
Em The Crew 2, o lance de “Crew”, que seria referente à equipe técnica, na verdade se encaixa melhor no conceito de “tribo” ou família dentro do esporte. Tem aqueles que se divertem em rachas de rua, outros preferem as corridas de dragsters, os apaixonados por drifts, circuitos profissionais, trilhas em montanhas, monster truck, motocicletas, monomotores ou barcos. No total são quatro grandes famílias (ou estilos de jogo), cada uma dividida em pelo menos, três categorias distintas. O jogo oferece toda uma variedade de atividades para entreter.

A melhor parte disso tudo é que o jogo se força a entregar experiências bastante distintas umas das outras. Um carro preparado para as corridas de arrancadas não será pilotado nas ruas da maneira que você pilota seu carro normal, por exemplo. Os carros de drift são construídos de maneira própria também, com uma cambagem específica nas suas rodas, fazendo-os deslizar mais nas curvas.
Sendo assim, a sua garagem precisa ser grande, já que cada modalidade vai exigir um carro diferente. O que é legal, já que explora bastante a habilidade do piloto em se virar nas mais variadas especialidades, evitando ser um jogador de um único tipo de evento.
Uma nova ferramenta que funcionou muito bem para mim, mas que é um tiro no pé no jogo como um todo, é o sistema de menu rápido para realizar as corridas do jogo. Ao invés de percorrer o gigantesco mapa do jogo, trafegando cada um dos milhares de quilômetros dos Estados Unidos em busca de novos desafios, entramos no menu, selecionamos a corrida e apertamos um botão para confirmar. Adeus exploração, destravamentos de viagens rápidas e afins. Mas, ao mesmo tempo, “olá, praticidade”.

Minha dica é que, apesar disso, não deixem de explorar o mapa. Ele está incrível e repleto de novos detalhes.
Vença em todas as categorias
O jogo ainda segue o estilo arcade de diversão. Atropele postes de iluminação, salte por rampas de madeira (eca) no meio de Las Vegas, destrua canteiros, bata em muretas e não se importe com pedestres. Acelerar é a sua única obrigação. Mas não vai ser sempre assim.
Ao migrar das corridas de rua para um circuito profissional, as coisas ficam um pouco mais difíceis. É preciso que você descubra o botão de freio, e se acostume a usá-lo nas entradas de curvas. Breque na entrada da curva, acelere na saída, já dizia o tutorial de Gran Turismo, e é isso que você precisa fazer nessas corridas especiais. Sem regras exigentes como as encontradas em Project Cars, mas cada batida na mureta é um segundo a mais longe do primeiro lugar.

Para o rally existem dois tipos de corridas: as abertas, onde o seu destino fica marcado no mapa e você escolhe o caminho a seguir; e as corridas em circuito, mais técnicas, com joke laps (uma espécie de atalho dentro do circuito) e tudo mais.
As corridas de avião, meu amigo, são um desafio particular. Muito mais difíceis que os desafios livres de manobras, durante os pegas aéreos é preciso controlar muito bem a inclinação do seu monomotor, realizar as curvas mais fechadas e ainda acertar os malditos círculos de marcação.

The Crew 2 brilha muito no quesito de separação de modalidades. Ele não carrega aquele tom de simulação blasé e música clássica, mas se esforça em entregar experiências diferentes sempre que possível. Mesmo nas corridas de Fórmula 1, difíceis, mas não “Codemasters-difíceis”, o jogo tenta ensinar o jogador a pilotar com um tiquinho mais de realidade, mas se divertindo.No final das contas, talvez o game até abra o apetite para experiências mais sérias dentro do universo dos jogos de corrida, quem sabe?
Live Extreme
A coroação de todo o festival proposto em The Crew 2 vem com os eventos Live Extreme, corridas que se dividem em três partes distintas, com uma vibe de Sonic Allstar Racing Transformed, com carros, barcos e aviões funcionando ao mesmo tempo.
Cada trecho do desafio é percorrido com um veículo diferente, o narrador fica na sua orelha o tempo todo fuzilando comentários do tipo “Olha só como nosso novato é corajoso, ficando em último lugar apenas para dar o bote no último trecho do circuito. Que coragem!”, e até ajuda na autoestima, mas no fundo a gente sabe que a realidade é outra.

E assim como no mundo aberto, a transição de veículos é instantânea e não destrói em nada o fluxo da corrida. É parecido até demais com o último Sonic de corrida, lançado em 2010, que citei anteriormente, mas é muito legal que um jogo mais sério de corrida (pelo menos perto de Sonic) conseguiu adaptar uma das melhores ferramentas já vistas num jogo do gênero de forma tão natural.
The Crew 2 em nada se parece com o primeiro jogo. E digo isso como um ponto positivo, já que as melhorias técnicas se destacam sozinhas. Um mundo gigantesco, online, cheio de jogadores (esperamos) e pronto para ser desbravado via carros, motos, barcos ou aviões. Seja você apaixonado por jogos casuais ou com aquela pegada mais hardcore, o novo jogo da Ivory Tower vai lhe reservar alguma surpresa.