Gosto bastante quando o ano nos entrega um monte de jogos de luta. Deixando de lado (por enquanto) os menores, mais de nicho, o primeiro dos grandes títulos AAA deu as caras no dia 16 de maio, com os poderosos heróis (e vilões) da DC Comics se enfrentando em Injustice 2.
A Netherrealm Studios, mais uma vez, coloca sua expertise na franquia, que segue bem de perto os acertos de seu antecessor. Um elenco de personagens (quase) inédito, novos golpes especiais e, claro, uma campanha que narra os acontecimentos pós as confusões de mundos paralelos do primeiro jogo.
Dessa vez, nada de misturar heróis de duas Terras distintas. Injustice 2 entrega uma aventura focada somente nos acontecimentos da versão da Terra em que Superman virou um tirano e metade da Liga da Justiça segue as ordens do novo ditador. E ficou bem melhor assim, diga-se de passagem.
Liga da Justiça em frangalhos
A história do game não se preocupa muito em localizar exatamente o jogador. Isto porque ele segue o mesmo modelo do seu antecessor, com uma história em quadrinhos que serve de prólogo para os acontecimentos do novo jogo. E aí (e também no final da série antiga), temos o motivo do Arqueiro Verde ainda estar vivo no universo de Injustice (caso não lembrem, no primeiro jogo ele é citado como morto, um dos pivôs para a separação da Liga).
Enfim, essas lacunas podem ser facilmente preenchidas pelos mais curiosos com uma rápida busca no Google. Desta vez, com Superman encarcerado, não existe mais o Regime criado por ele, tampouco a necessidade de Batman de continuar erguendo sua bandeira da insurgência. No entanto, os esforços do Cavaleiro das Trevas continuam e, aos poucos, tenta reaprender a confiar nas pessoas que um dia deram as costas para ele.
Acontece que alguém muito pior que o Superman está prestes a invadir a Terra. Seu nome é Brainiac, e nem mesmo os esforços conjuntos dos maiores heróis da Terra podem resolver o problema.
No meio dessa confusão toda temos a Sociedade, um grupo de supervilões encabeçados por Grodd resolve tentar a sorte como mercenários da ameaça alienígena, mas perdem força diante da trama maior. Aliás, um descuido da história do jogo, que deixa esse grupo um tanto abandonado e sem importância no meio do todo. Vilões que se unem, mas que são ridicularizados por todos os lados, dos mocinhos aos próprios bandidos.
A ameaça real, no entanto, merece seu respeito. Brainiac trilhou seu caminho de destruição e caos até o planeta Terra, sempre em busca de espécimes que merecem a preservação como dados armazenados em um computador. Só que a impressão que fica ao final da história, é que o Superman ainda é o pior vilão que esse mundo já conheceu.
Sem minigames durante a campanha, o básico de uma história contada dentro de um jogo de luta permanece: diálogos que sempre vão acabar em pancadaria. Mas agora Injustice 2 conta com um final alternativo que, sem sombra de dúvidas, é muito melhor que o primeiro final que você vai encontrar (se seguir a história direitinho como deve ser seguida).
Tirando os gemidos de golpes dos personagens durante os combates (e alguns especiais), o game inteiro está dublado em português. Com o retorno triunfal de Márcio Seixas, o Batman da série animada dos heróis da DC, as vozes em português dão um charme especial ao game, mesmo errando em algumas escolhas secundárias de elenco que podem estragar uma ou duas cenas do todo, que soma mais ou menos entre 3 e 4 horas de jogo.
De um modo geral, você não verá uma história tão bem contada (tecnicamente falando) para um jogo de luta em outro lugar. Cutscenes, interações com os cenários (entradas e saídas) do jogo e diálogos dirigidos como numa daquelas animações da DC Comics, quase sempre aplaudidas pelo público.
Novas ferramentas
Injustice 2 evoluiu bastante em comparação com o primeiro. Dentre as principais novidades temos uma nova esquiva ao custo de uma barra de Super, o jogo de chão de MKX (os tech rolls — rolamentos de chão — e atraso no levantar do personagem) e até um tech air (levantar de um combo no meio de um juggle — combos malabaristas). O jogo em si parece mais ágil, apesar de ainda manter sua cadência particular, algo que funciona mais ou menos como a marca registrada dos jogos da Netherrealm.
Combos, golpes especiais e a utilização das barras de Super para ataques mais fortes ou fugas inesperadas mantiveram-se. Apesar do novo elenco e todas as melhorias já citadas, a sensação de “estar em casa” deve acometer os que já estavam habituados com o game anterior.
Crie seu herói (ou vilão)
Canário-negro com algumas modificações
O sistema de personalização de personagem, que serve como um dos principais motes do jogo, é interessante, mas tem suas ressalvas. Equipar novas partes ao seu personagem preferido para lhe conceder um visual único é muito divertido. Capacetes, tiaras, braceletes, emblemas e armaduras, e todo esse sistema de loot funciona muito bem no jogo. O problema são os atributos que vêm com estes itens.
Conhecer e se adaptar aos atributos originais do seu personagem é a melhor forma de aprender suas virtudes e fraquezas. Misturar isso a atributos de equipamentos pode desfavorecê-lo quando, por exemplo, você entrar num campeonato onde esses itens não são permitidos. E tenha certeza de que isso não será permitido em nenhum lugar.
Alterar atributos de personagens em campanhas para um jogador não é uma novidade nos jogos de luta. O modo M.O.M., de Guilty Gear já fazia isso há bastante tempo, ou mesmo o Heroes and Heralds, de Marvel vs. Capcom 3, se preferir algo mais recente. E, por mais legal que seja, você se acostumar com um personagem modificado só vai prejudicar a sua performance numa disputa ranqueada, por exemplo.
As mudanças são mais voltadas para o status dos personagens, então, contanto que você não se espante quando seu lutador favorito não causar mais aquele dano colossal no oponente, vai ficar tudo bem. Mas fica o aviso.
Coletar esses itens de personalização é uma tarefa trabalhosa. Tudo é servido ao jogador de maneira aleatória, via Caixas Maternas adquiridas na campanha principal, na realização dos tutoriais e claro, através do Multiverso, a grande novidade da campanha para um jogador de Injustice 2.
Coisas para fazer sozinho
O Multiverso é uma sacada inteligente da Netherrealm Studios, que aplica alguns conceitos do imediatismo dos jogos online do mercado. A ideia aqui é explorar os mundos gerados pelo sistema no tempo estabelecido para cada um deles. Ao término de cada relógio o planeta se desfaz e um novo assume seu lugar.
Cada planeta possui seus próprios desafios, exatamente como as ‘Living Towers’ de Mortal Kombat X. Dentro dos desafios é preciso derrotar uma quantidade pré-estabelecida de personagens, cada qual com suas regras (quando aplicáveis). Batalhas sem barras de vida, de ponta cabeça, com as leis da gravidade alterada... É possível encontrar de tudo por lá.
Seu nível de personagem será levado em consideração em cada uma das batalhas. As batalhas de nível 20, as mais difíceis, não podem ser vencidas (facilmente) com lutadores de nível mais baixo. Às vezes é preciso certos pré-requisitos para ingressar na batalha, forçando o jogador a trocar de equipamento constantemente.
Até mesmo o modo arcade, onde cada personagem tem seu próprio final dentro do jogo, está no Multiverse (aliás, um tanto confuso encontrá-lo a primeira vez). Ao vencer nesse modo, o jogador tem acesso a finais simples que tendem a complementar a história principal, nada muito grandioso.
Algo similar aos desafios diários de Street Fighter V também aparecem com uma nova roupagem, discretamente no canto da tela principal. Nada que você acesse diretamente, apenas um guia para o cumprimento de missões como acertar 15 voadoras, lutar três vezes com a Mulher-Gato, vencer uma partida sem defender, etc.
Sem dúvidas um trabalho primoroso dos envolvidos para tentar manter o interesse dos jogadores por mais tempo. Outro fator que ajuda nisso é o balanceamento do elenco, mas isso só poderemos ter uma breve noção depois que o jogo rodar um pouco entre os jogadores (mas que já tem gente chorando pitangas pelo Deadshot, ah tem).
Injustice 2 acrescenta um pouco de tempero a receita já tradicional da Netherrealm Studios. Deve agradar aos jogadores da casa, causar algum barulho nos campeonatos que estão para acontecer até o final do ano e já garante uma boa história com os heróis da DC fora dos quadrinhos.
Injustice 2 está disponível para PlayStation 4 e Xbox One. Esse review foi feito com uma cópia cedida pela Warner Bros. Games.