Nesta quinta (7), o The Game Awards realiza a cerimônia de entrega de prêmios para a indústria de games. Dessa vez, há sangue brasileiro em jogo com dois representantes na mesma categoria.
Tanto God of Rock, título musical da Modus Studios quanto Pocket Bravery disputam a estatueta de Melhor Jogo de Luta, brigando (risos) com Mortal Kombat 1, Street Fighter 6 e Nickelodeon All-Star Brawl 2. Ainda que os dois mereçam a torcida dos jogadores brasileiros, Pocket Bravery é um caso muito interessante, visto que a equipe da Statera Studio passou por maus bocados até conseguir entregar o jogo, e mesmo assim o resultado final acabou sendo excelente.
Como muito bem contada no documentário do canal Segredos dos Games, o título surgiu em outro projeto conhecido como Trajes Fatais, que nunca chegou a ser oficialmente lançado, por conta de um desenvolvimento turbulento. Obra do estúdio cearense Onanim Studio, o game de luta seria como uma mistura de Street Fighter e King of Fighters, mas com vários elementos da rica cultura brasileira. Isso, e uma demo jogável muito promissora, chamou a atenção de muita gente. A demonstração se consagrou como Melhor Jogo Brasileiro da BGS 2016, e uma campanha de financiamento coletivo no Catarse, em 2017, rendeu mais de R$114 mil na plataforma.

Um dos desenvolvedores que foi vítima do golpe é Jonathan Silva, produtor que se tornou o rosto do projeto graças ao seu carisma e canal relativamente grande no Youtube, chamado de Jon Satella. Em entrevista ao Start, em 2020, Silva falou sobre o incidente: "Confesso que naquele primeiro momento eu senti apenas ódio, depois de dias fui sentindo várias outras coisas". Essas várias sensações foram o ponto de partida para Pocket Bravery.
Humilde, mas completo

Esse projeto se tornou Pocket Bravery. O game é inteiramente moldado por dois fatores: recursos limitados, e transparência máxima com os jogadores, para reconquistar a fé que foi perdida em Trajes Fatais. A junção desses elementos é o que justifica, por exemplo, o estilo de arte mais simples, que foi uma medida para conseguir algo visualmente satisfatório sem grandes dificuldades. Mas o escopo ambicioso do projeto se dá justamente pelo desejo de presentear a comunidade brasileira de entusiastas de jogos de luta.
Ainda que seja um projeto independente, feito em poucos anos e com uma equipe minúscula, o game não deve em nada a muitos títulos grandes. Há um Modo História robusto, com cerca de 5 horas de duração; o tradicional Arcade, que pode ser zerado com todos os 13 lutadores jogáveis; e ainda cinco modos extras e, claro, a opção de tirar contras locais ou online com rollback netcode, praticamente uma exigência para garantir partidas justas via internet.
Por si só, esse já é um pacote de peso para um jogo que sequer custa R$ 60, mas o esmero que os desenvolvedores colocam em todos os aspectos é o que faz Pocket Bravery ser digno de atenção.
A jogabilidade é relativamente simples de entender, mas feita sob medida para quem já tem certa experiência com jogos de luta. Isso significa poder criar combos insanos e dominar o ritmo das partidas da mesma forma que você faria em um Street Fighter da vida. Se for novato, há um tutorial bastante compreensivo, que não se limita a só ensinar mecânicas, mas também terminologias importantes para curtir jogos de luta de maneira competitiva.

Pocket Bravery não conquistou a indicação do The Game Awards do nada. A equipe da Statera foi carinhosamente moldando o game em colaboração com a comunidade, para a comunidade. O jogo rodou todo tipo de evento, do BIG Festival a Brasil Game Show, em busca de feedbacks do público geral, e também caiu nas graças de gente grande lá fora, como o pro player Justin Wong e o Youtuber Maximilian Dood, entusiasta de jogos de luta.
A briga no The Game Awards é das mais difíceis. Além de encarar outro título brasileiro, o jogo bate de frente com dois capítulos aclamados de franquias mundialmente amadas, como Mortal Kombat e Street Fighter. Talvez essa não seja uma luta que conseguirá vencer, mas nunca deixará de ser impressionante o quão longe um projeto de paixão chegou, apesar dos vários buracos pelo caminho.
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Pocket Bravery está disponível para PC. Versões de PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch, PlayStation 5 e Xbox Series X | S já estão anunciadas, mas seguem sem data até o momento.