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Acesso antecipado de No Rest of the Wicked é um "Jogo do Ano" em desenvolvimento
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Acesso antecipado de No Rest of the Wicked é um "Jogo do Ano" em desenvolvimento

Novo jogo dos criadores de Ori tem imenso potencial, mas está longe de estar finalizado

Tayná Garcia
Tayná Garcia
03.mai.24 às 15h37
Atualizado há 11 meses
Acesso antecipado de No Rest of the Wicked é um "Jogo do Ano" em desenvolvimento
No Rest for the Wicked/Moon Studios/Reprodução

Participar de um acesso antecipado (“early access”, em inglês) é sempre uma experiência curiosa, seja por dar um gostinho do que está por vir, ou oferecer espiadas por trás da criação de um jogo. Isso, no entanto, exige que você saiba que é um projeto ainda em desenvolvimento, mas que se tornará melhor até ser finalizado. São poucas as vezes, porém, que dá para sentir logo de cara que existe ali um candidato ao cobiçado título de Jogo do Ano (o famoso "GOTY", Game of the Year) em um ano futuro — e é exatamente esse o sentimento que No Rest of the Wicked transmite.

Criado pelo Moon Studios, da aclamada franquia Ori, o jogo é um RPG de ação (ou “ARPG”) que ambiciosamente mistura fórmulas inspiradas em Diablo e Soulsborne. Assim, temos uma experiência que é um souls em combate e estrutura, e Diablo em perspectiva e gerenciamento, mas com uma alma totalmente única — que, ouso dizer, pode dar uma boa inovada no gênero.

Sobre ratos e reis

Foram 25 horas com o acesso antecipado de No Rest for the Wicked, que consiste apenas no primeiro capítulo (!) do jogo. Apesar do tempo investido, a sensação é de que o conteúdo é curto, mas não teve um minuto em que não era possível ver potencial em cada canto.

No Rest for the Wicked tem aquele tipo de história que não dá para confiar em ninguém... (Imagem: Moon Studios/Reprodução)

Em Wicked, o jogador é um Cerim, um guerreiro místico destinado a extinguir a Pestilência, uma praga que assola todo o reino. Esse é o pontapé inicial para uma jornada de exploração entre várias regiões, com muitos inimigos e chefes a serem derrotados, enquanto uma guerra política se desenrola de forma paralela.

Há uma boa e uma má notícia, no entanto, sobre a história. A boa é que o jogo é guiado pela narrativa e tem belíssimas cutscenes, que constroem uma trama densa, que aborda atritos entre realeza e plebe, crenças e mitos antigos, mutações humanas e personagens dúbios. A má, porém, é que o acesso antecipado apresenta poucas informações novas e serve apenas como introdução, deixando (muito) mais dúvidas do que respostas.

Consequentemente, isso faz com que a atenção, neste primeiro momento, seja voltada para a jogabilidade e o visual. Existe uma mistura entre fantasia sombria e temática medieval, que permeia No Rest for the Wicked, principalmente em ambientação e level design, tão bem feitos que chegam a ser hipnotizantes.

O jogo também trabalha (e muito bem!) a iluminação como quebra da atmosfera "fria" (Imagem: Moon Studios/Reprodução)

Toda a arte, desde os detalhes dos cenários até as aparências dos personagens, se assemelham a uma pintura animada — algo que lembra a série animada Arcane. Há ainda designs que têm um toque levemente esquisito, como o próprio corpo deformado dos Cerim e vários inimigos antropomórficos, que dão originalidade ao estilo visual do jogo. A direção de arte também realça, de forma inteligente, sombras e cores frias para construir uma atmosfera solitária e melancólica constante, justamente o que você sente ao explorar como um Cerim.

O level design aposta em áreas interligadas que não são imensas em tamanho, mas apresentam densidade em camadas. Isso gera uma exploração agradável que vicia e instiga os jogadores mais curiosos, com a presença de passagens secretas, muitos itens e baús escondidos e puzzles de plataforma. O que dá personalidade ao jogo nesse quesito, porém, é principalmente uma estrutura ambiciosa que brinca com os aspectos 2D e 3D ao vagar pelas regiões, intensificada pela câmera isométrica (ou seja, vista de cima).

Isso gera uma perspectiva diferente do que estamos acostumados ao pensar em soulslike, fazendo com que explorar o reino seja completamente empolgante e imprevisível, graças à mistura tão bem feita entre estrutura e visual. Além disso, o jogo implementa um sistema de atualização constante de cenários para auxiliar no “grind”. Ou seja, revisitar áreas resultam no encontro de novos inimigos, itens e equipamentos, além de mini chefes que mudam diariamente. É uma sacada criativa e que funciona dentro da proposta, tornando a tarefa de repetir confrontos em regiões antigas mais "palatável".

Espere por chefões com aparências bem intrigantes e, é claro, gigantescas (Imagem: Moon Studios/Reprodução)

Indo além da exploração, o combate é outro elemento que torna No Rest for the Wicked tão instigante. Com a essência do soulslike, o foco é em lutas contra poucos inimigos de cada vez utilizando vários tipos de equipamentos de curta e longa distância. De adagas duplas a cajados mágicos, as possibilidades de “build” são vastas, dando espaço para o jogador encontrar o próprio estilo. Além de ter um sistema de pontos para status como vida, estamina, destreza e por aí vai.

Os inimigos também não têm aparências imponentes à toa. Wicked é desafiador, e até mesmo um lobo solitário pode ser fatal se você abaixar a guarda. Os chefes são agressivos e têm diferentes padrões de ataques e fases, o que coloca a habilidade de quem está com as mãos no controle à prova.

O maior diferencial dentro do gênero fica para a delimitação do aspecto punitivo. Só que isso não quer dizer que o jogo facilita tudo para você. Há mecânicas que cutucam a zona de conforto do jogador com frequência, mas que são justas e dão espaço, tempo e incentivo para a curva de aprendizado — e sem entregar tudo de bandeja. Alguns exemplos são o "cooldown" (tempo de espera) para usar curas e a durabilidade dos equipamentos. Esses elementos podem até causar estranheza no primeiro contato, mas começam a fazer sentido ao entender e dominar a jogabilidade.

Outra mecânica que chama a atenção, e até surpreende, é a coleta de recursos como madeira, minérios e afins para não apenas aprimorar equipamentos e armaduras, mas também ajudar na reconstrução de cidades e até em uma moradia própria. Essa personalização é um elemento sutil, mas bem-vindo na fórmula. Afinal, poder ter um cafofo para chamar de seu, onde é possível armazenar itens, descansar e até brincar de design de interiores dá um quentinho no coração no meio de tanta pancadaria.

Horas de exploração parecem apenas minutos em No Rest for the Wicked! (Imagem: Moon Studios/Reprodução)

Com toda a mistura inusitada, No Rest for the Wicked é surpreendente ao gerar uma experiência diferente daquela que estamos acostumados ao pensar em um soulslike. Mesmo que de forma inicial, há muita criatividade e ambição no emaranhamento de elementos do jogo para criar uma atmosfera única, que pode ser descrita como uma releitura do gênero pelo Moon Studios. Essa é a primeira vez que o estúdio encara um território fora da fórmula metroidvania, e é possível ver suas marcas registradas de ambientação imersiva e level design cuidadoso por todo lado — algo empolgante de ver, como fã.

Ainda em estado inicial

É importante ressaltar que várias mecânicas citadas estão com aspecto inicial. Afinal, o acesso antecipado é apenas a ponta de um iceberg que ainda está sendo lapidado. Alguns equipamentos, por exemplo, estão desbalanceados e exigem muitos pontos em status específicos, que exigem horas desumanas de “grind”.

Muito, é claro, é reflexo desse método de lançamento, uma vez que os desenvolvedores estão usando esse período para colher feedback dos jogadores para correções e melhorias gerais. Outros problemas, no entanto, são mais graves, como falhas de performance. Bugs visuais, carregamento lento, travas na imagem e quedas bruscas em taxas de quadro são frequentes em máquinas não tão potentes — que são a maior frustração (e, consequentemente, reclamação) da comunidade até agora.

Por causa da má otimização, muitos estão, por ora, desistindo de jogar até que correções sejam feitas, uma vez que isso prejudica a experiência como um todo. E, por mais que minha experiência com o jogo seja positiva, concordo com a ideia de esperar para encarar No Rest for the Wicked. Como resposta, o Moon Studios está ativo nas redes sociais e nos fóruns do Steam, com a promessa de que mais atualizações estão a caminho. Eles também reforçam com frequência que todo feedback é importante para detectar erros do tipo e ajustar as próprias mecânicas do jogo. Assim, o estúdio soltou seis "hotfix" em apenas duas semanas — e está longe de parar por aí.

A aparência dos personagens também esbanja criatividade (Imagem: Moon Studios/Reprodução)

Apesar dos problemas de performance e do conteúdo enxuto, o acesso antecipado aponta para um jogo que pode ser grandioso no lançamento final, ao ponto de marcar não apenas o cenário indie, mas de estar presente na maioria das listas de melhores do ano — além de servir como uma boa porta de entrada para quem não é fã do gênero souls.

Então, seja gastando algumas horinhas no "early access" ou apenas ficando na espera pela versão final, é difícil que No Rest for the Wicked não roube os holofotes quando finalmente chegar com tudo.


No Rest for the Wicked está disponível em acesso antecipado para PC.

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