Durante a mostra NewGame+, tivemos a oportunidade de conversar com Ariel Veloso e Sofia Wickerhauser. Ambos são produtores e curadores do evento, e também levaram seus respectivos jogos para o evento: Deliria e Um Domingo à Tarde.
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Deliria é o jogo de Ariel. Trata-se de uma visual novel em que todos os personagens são LGBTQIAP+. O game foca em um bar que aparece misteriosamente para pessoas que se sentem perdidas e precisam de acolhimento. O local abriga seres cósmicos de diferentes realidades com os quais a protagonista pode ter conversas reveladoras e assistir performances.
Já Um Domingo à Tarde, outra visual novel, foca na exploração narrativa e se passa em São Paulo. O jogador controla Lucas, um jovem nipo-brasileiro gay e assexual que precisa explorar a cidade, resolver quebra-cabeças, e coletar figurinhas pra completar um álbum de figurinhas. O objetivo é entregar o livrinho completo para seu crush, que se chama Léo.
“A gente raramente tem essa representação [assexual], e colocamos isso de maneira bem fluida, o jogo não para pra ficar explicando o que é assexualidade ou como isso funciona, é simplesmente falado isso, e a história continua com o mesmo senso de humor e drama de antes”, explica Sofia.
Origens da mostra NewGame+
E como a união dos poderes de Sofia e Ariel fez o festival NewGame+ acontecer, afinal? Segundo a produtora, a iniciativa surgiu de tentar fazer algo que lembrasse um festival de cinema queer. “Temos muitos festivais de cinema LGBT ao redor do mundo, que são de muito sucesso, tem muito público e tem muita produção pra esses festivais. A gente queria fazer o mesmo pra games”, relata Sofia.
Mas a intenção não era fazer apenas um festival de games com uma pequena mostra de jogos e outras criações LGBT. A meta, diz Sofia, era realmente “abraçar tudo que está sendo feito atualmente, e que é novo”. Por isso, todos os jogos da mostra for inéditos, tendo sido lançados há pouquíssimo tempo, ou que ainda estão para chegar. Ao todo, foram 5 jogos brasileiros e 5 internacionais, com títulos para a família inteira, e de gêneros diversos. “São vários tipos de experiência, discussões sobre sexualidade e pertencimento”, ela finaliza.
Ariel, por sua vez, conta que eles começaram como “parceiros de um evento de audiovisual LGBT”, funcionando como um braço dessa feira. “Fomos contemplados para edital, e enfim tivemos a oportunidade de dar a nossa própria cara e identidade. Fomos pesquisar no Google pra ver o que tem pelo mundo de mostras de games LGBT.” Para a surpresa do produtor, existe apenas um.
O festival em questão contempla games queer e acontece em Melbourne, na Austrália. Atualmente, o evento está em sua quarta ou quinta edição. “Basicamente só tem ele de evento um pouco mais estruturado, que acontece todo ano e que tem uma curadoria mais potente. Então talvez a gente seja o segundo no mundo?”, questiona Ariel. “Estamos desbravando território."
Os jogos disponíveis na mostra NewGame+ foram selecionados por meio de uma chamada e alguns desenvolvedores internacionais se prontificaram para participar, mas Ariel e Sofia também foram atrás de outros, se apresentando e tranquilizando os estúdios e devs sobre o evento.
“A gente percebeu que existe um receio dos desenvolvedores internacionais de associar o seu nome, a sua produtora, a um evento que eles não conhecem que é em outro país. Afinal, é um tema delicado e vai que de repente a gente tem um viés, um discurso que não compactua com o que eles acreditam… Então com alguns desenvolvedores a gente teve que fazer esse trabalho de aproximação, chamar pra uma conversa”, destrincha Ariel.
O produtor afirma que isso o marcou bastante: “é um pouco triste que exista essa temerosidade, mas também é compreensível porque tem muitas ocasiões em que buscam cooptar as pautas LGBT pra elevar coisas que não necessariamente são benéficas pra essa comunidade.”
Diversidade de conteúdo e público
A mostra NewGame+ começou a ser estruturada em fevereiro de 2024, levando dez meses para sair da concepção, passar pela pesquisa da curadoria, achar espaço, lutar pelo edital, e todos os dramas que perpetuam a área de produção de qualquer tipo.
Com uma estimativa de até 3000 visitantes, Sofia destacou como o público que compareceu ao evento era super diverso: “crianças, crianças com pais, adolescentes, pessoas bem mais velhas que às vezes nunca nem jogaram videogame na vida. É realmente uma amostra que tá conseguindo acolher muita gente porque tem jogos pra todos os gostos, pra pessoas com habilidades diferentes e perspectivas diferentes. Estamos sentindo que o pessoal tá muito entusiasmado”, ela comenta.
Ariel e Sofia já têm expectativa de uma segunda edição do NewGame+ em 2025, mas é possível que a mostra aconteça de maneira itinerante. “Talvez passe por outros Sesc, Senacs, ou outros equipamentos culturais, e queremos sim que no próximo ano seja maior, que tenha mais games, de repente tenha curadorias paralelas como, por exemplo, de jogos adultos”, compartilha o produtor.
Tudo ainda está no campo das ideias, claro, e a dupla está começando a listar os ingredientes que vão para o caldeirão.
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