Com uma fórmula característica e diferentes temas sociais, Persona 3, Persona 4 e Persona 5 foram os responsáveis por firmar a Atlus como um dos estúdios mais marcantes do mundo dos JRPGs. E, segundo os próprios desenvolvedores, essas experiências passadas estão prestes a culminar em um só jogo: Metaphor: ReFantazio.
Foi na sinagoga mais antiga de Nova York (que existe desde 1849!) que, a convite da SEGA, tivemos a oportunidade de jogar mais de três horas do novo projeto da Atlus e descobrir, em primeira mão, o que nos aguarda.
Importante ressaltar que o local não foi escolhido por acaso. Estar em uma estrutura antiga e imponente, com arquitetura gótica e vitrais chamativos, nos fez imediatamente entrar no clima de fantasia — a temática que molda Metaphor: ReFantazio, desde o título até as diferenças com a franquia Persona.
E, após adentrar esse universo mágico, tudo o que conseguimos pensar é que um dos melhores RPGs da atualidade pode estar a caminho.
Conto de fadas ao inverso
Ambientado num mundo fantasioso, onde a magia existe, a história de Metaphor: ReFantazio gira ao redor de uma guerra de sucessão no reino de Euchronia. O rei foi morto por um regicida que, por meio de mentiras e manipulações, tem o apoio do povo para suceder o trono. Assim, o objetivo do Protagonista, com a ajuda da fada Gallica (a “navegadora” do grupo), é desmascarar o vilão. Além de lidar com problemas sociais pelo caminho, como discriminação, corrupção, pobreza e extremismo religioso.
Algo curioso é que a sociedade contemporânea como conhecemos hoje — um mundo sem magia, com regime político em que todos são vistos iguais perante a lei (em teoria, pelo menos…) — é um conto de fadas nesse universo. Os personagens sonham em viver num mundo que não é regido por força e gerações de famílias, e existe um mistério por trás de tudo isso no jogo, que torna a trama multifacetada e ainda flerta com metalinguagem.
Outro detalhe é que existem monstros perigosos em Euchronia, que são apelidados de “humanos”, apesar de não terem a aparência de um, sendo uma forma genial e explícita de brincar que a linha entre seres humanos e monstros é mais tênue do que parece.

A Atlus sabe narrar uma história como ninguém — e é justamente o que sentimos com o início do jogo, apresentando um imenso potencial para uma narrativa densa, impactante e movida a boas construções de personagens. A sensação é que o estúdio sabe e conhece suas marcas registradas, e quer mergulhar nelas em Metaphor: ReFantazio.
Inevitavelmente, comparações com Persona são traçadas ao jogar. E, de fato, há semelhanças na jogabilidade, mas também várias diferenças. A base principal é a mesma: um RPG, com combate em turno, sistema de calendário, mecânicas sociais e mapas interligados. Só que a roupagem de fantasia altera a essência de alguns desses elementos, dando um sentimento único à experiência.
Os personagens principais, por exemplo, não são estudantes, o que não os prende a uma escola ou lugar parecido. Isso faz o calendário ser mais flexível, e o mundo dar uma sensação maior de liberdade e possibilidade. A história ainda progride em datas específicas, oferecendo dias “livres” para fazer o que quiser, e há muito a ser explorado e descoberto — uma simples conversa com outros jornalistas no evento, após a sessão, mostrou que fizemos tarefas completamente diferentes no gameplay. Assim, manusear o tempo livre é desafiador e divertido nas mesmas medidas.

Ao explorar livremente as cidades, nos deparamos com missões secundárias e atividades sociais por todo o lado, que melhoram os atributos do Protagonista (status como coragem, sabedoria, tolerância e por aí vai) e aumentam o vínculo com outros personagens, desbloqueando habilidades e melhorias variadas.
Há ainda detalhes que aprofundam o universo do jogo. Um exemplo é o sistema dinâmico de clima, em que temporais e chuvas anulam os pontos fracos dos inimigos, tornando a viagem entre as cidades mais perigosa. E também é preciso lidar com missões que têm data limite — ou seja, se não forem cumpridas dentro do prazo, o jogador falhará.

Isso nos leva ao combate, que repete a essência de Persona, mas com um diferencial: uma mecânica tática que ameniza o “grind” (ou seja, a repetição de lutas para subir de nível).
Com turnos, o combate apresenta habilidades especiais com Arquétipos (os Persona da vez), golpe corpo a corpo, danos elementais, grupo com quatro integrantes, possibilidade de dobrar o turno ao acertar pontos fracos e por aí vai. Também é possível mudar o Arquétipo dos personagens além do Protagonista, aumentando as possibilidades de formação de equipe. É o estilão clássico da Atlus, com a roupagem de Metaphor: ReFantazio.
A principal novidade é que você pode automaticamente eliminar inimigos já conhecidos e mais fracos (que foram derrotados antes) sem entrar em turno — ou seja, metendo a porrada com um combate de ação. É uma opção simples e direta, mas que é bem-vinda em dungeons por poupar bastante tempo.
O que também chama a atenção é que os desenvolvedores seguem inspirados para a criação de visuais mirabolantes para os inimigos, com monstros que esbanjam toda a bizarrice esperada do estúdio. Foi difícil não se encantar (ou se assustar, dependendo do ponto de vista), com muitas criaturas antropomórficas, como flores mutantes com rostos humanos, dentes vivos e até representações bíblicas.

Como uma forma de amarrar todos os elementos e conversar diretamente com a temática, a trilha sonora é imponente e grandiosa, sem tirar o pé do acelerador em nenhum momento. As músicas conseguem transmitir constantemente as nuances de realeza, fantasia e magia, com o uso abundante de instrumentos de percussão e coros de vozes.
Há até um momento divertido de “quebra da quarta parede” envolvendo a trilha, em que Gallica diz que a música é o que dá magia ao mundo, então a própria fada adiciona uma sonora — o que, mais uma vez, reforça o quanto a Atlus está confiante em apostar em suas marcas registradas.
RPG do ano?
Após mais de três horas, a sensação que fica é de que o jogo realmente evolui o que a Atlus faz de melhor, como prometido pelos desenvolvedores. Além de ser o primeiro projeto do estúdio a chegar, logo no lançamento, com localização em português brasileiro — que está bem feita e respeita o material de origem, mantendo o tom rebuscado das falas e os termos específicos desse universo.

Se o ritmo do que vimos em Nova York for mantido, Metaphor: ReFantazio tem tudo para ser o RPG do ano, e um dos candidatos mais fortes a Jogo do Ano.
Metaphor: ReFantazio será lançado em 11 de outubro para PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X|S e PC (via Steam), com legendas em português.
Aproveite e conheça todas as redes sociais do NerdBunker, entre em nosso grupo do Telegram e mais - acesse e confira.