Originalidade, super poderes, atmosfera envolvente e personagens que são fáceis de se identificar. Há quase 10 anos, esses foram os principais motivos que fizeram tantos jogadores se apaixonarem pela simplicidade e carisma do primeiro Life is Strange (2015), que se tornou franquias alternativas de maior sucesso da Square Enix.
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Como não é incomum acontecer na indústria, o imenso sucesso encomendou sequências, derivados e afins, expandindo um universo que não necessariamente precisava ser expandido. Mas cá estamos nós, com um novo Life is Strange batendo na porta.
Double Exposure, no entanto, é um pouco diferente, já que traz a ambiciosa proposta de ser uma sequência (quase) direta com Max Caulfield de volta à ativa. Uma ideia que causa estranheza, principalmente por não ter envolvimento dos criadores originais, mas também curiosidade.
Afinal, após o impactante desfecho (e o incessante debate sobre a escolha final) da história de Max e Chloe, como respeitar e fazer jus à franquia ao cutucar um jogo tão amado e sagrado para os fãs? Bem, acontece que Life is Strange: Double Exposure traz uma resposta perfeitamente clara a essa pergunta, só que ela não é lá muito positiva.
Problema duplo
Comandado pelo estúdio Deck Nine Games, responsável pelo DLC Before the Storm (2017) e Life is Strange: True Colors (2021), Double Exposure se passa cerca de 10 anos após os acontecimentos em Arcadia Bay.
Agora adulta, Max mora numa cidadezinha no interior de Vermont e trabalha como fotógrafa residente na universidade local, vivendo um cotidiano pacato, uma vez que perdeu o poder de voltar no tempo por ter parado de usá-lo. Tudo muda, no entanto, quando um assassinato sob condições inexplicáveis acontece, levando a protagonista a uma investigação por conta própria, que envolve diferentes suspeitos e, é claro, mistérios bizarros.

É aí que entramos no primeiríssimo problema de Double Exposure: a história. Tentando repetir o que tornou Life is Strange tão conhecido, o jogo falha em apresentar um mistério envolvente e tropeça no velho erro de achar (ou fingir) que é mais profundo e complexo do que realmente é.
São poucos personagens, poucas tramas, poucos mistérios — e nada é trabalhado a fundo ou com cuidado, fazendo tudo empacar em um só tom e pouca profundidade, além de vários pequenos furos, inconsistências e até reciclagens de artifícios narrativos de True Colors. As escolhas que o jogador precisa tomar, que são um dos pilares da trama, também decepcionam por serem relativamente simples demais e com consequências sem muito peso.

Se por si só a narrativa pode ser considerada fraca, ainda existe uma problemática pela maneira como Double Exposure usa o primeiro Life is Strange como uma muleta desnecessária. Max nem mesmo apresenta os mesmos poderes, e referências ao passado da personagem não passam de detalhes decorativos ao redor da nova história, então não há justificativas relevantes para dar suporte à reciclagem do original.
Importante citar que o jogo não força uma escolha canônica para o fatídico destino de Chloe e Arcadia Bay, fazendo o próprio jogador responder à pergunta do que aconteceu na cidade, mas força as consequências, o que pode ser frustrante para alguns fãs.
Repetitividade dupla
Como já citado antes, Max apresenta novos poderes. Em Double Exposure, a personagem pode transitar entre duas linhas temporais: a principal, e uma alternativa onde o assassinato não aconteceu. E isso acaba resumindo toda a jogabilidade.
A ideia é alternar entre os dois “mundos” e coletar informações de ambos para solucionar o mistério e superar quebra-cabeças de ambiente. Alguém que está bravo com Max numa realidade, por exemplo, pode estar disposto a ajudar na outra. Ou uma porta que está trancada numa realidade também pode estar aberta na outra, e por aí vai. Esse conceito é empolgante no papel, mas os desenvolvedores não aproveitam todo o potencial na prática. Isso resulta em quebra-cabeças bem simples, em que muitas soluções se resumem a só pular para a outra linha temporal e progredir, sem realmente colocar o jogador para pensar.

Assim, a jogabilidade é repetitiva e previsível, apresentando uma cadência com pouco dinamismo. Algo que funciona, no entanto, é o conteúdo opcional, com leves desvios bem-vindos da história principal. Há tarefas escondidas pelos cenários que instigam a curiosidade de quem está com as mãos no controle, trazendo aquele humor, leveza e esquisitice característicos da franquia.
Isso nos leva ao visual de Double Exposure, que se afasta do Life is Strange original e traz uma pegada cartunesca mais próxima de True Colors. Não é exatamente um problema, mas transmite mais ainda a sensação de não ser uma sequência para a história de Max, uma vez que a própria personagem está bem diferente em termos de aparência.

Entre trancos e barrancos para a história e jogabilidade, Double Exposure também encara problemas mais gerais, como desempenho. Há leves travamentos, carregamentos lentos de textura e quedas de frame em algumas cenas, mas nada que estrague a experiência como um todo.
O mesmo não pode ser dito, porém, da trilha sonora e da mixagem de som. Problemas de áudio como som abafado, trilha mais alta do que as vozes dos personagens e até diálogos completamente mudos foram recorrentes, prejudicando a imersão no jogo.
A escolha de músicas para a trilha sonora também não foi das mais inspiradas. Apesar de tentar reproduzir algumas ideias do original, como ter momentos diegéticos e lúdicos com sonoridade, muitas faixas destoam completamente de tom em relação ao que está acontecendo na tela. Um erro um tanto grave ao considerar que se trata de um Life is Strange, onde a música é quase um personagem à parte.
Por fim, outro problema está na localização em português brasileiro. A tradução, muitas vezes, prejudica o sentido de frases por se exceder num linguajar descontraído o tempo inteiro. Um exemplo é quando Max precisa encontrar um item que foi escondido num cofre, e a tradução parte de “hide in a safe” para “esconder num lugar safo”. Isso se repete com frequência, e a adaptação não parece considerar e nem ter cuidado com contexto ou personalidade dos personagens. Isso resulta numa distração constante, o que é um erro grave ao considerar que o jogo apresenta um foco narrativo.
Desnecessidade dupla
Em poucas palavras, Double Exposure é confuso dentro da própria proposta e não aproveita nada do que tem em mãos, deixando a sensação de que nem mesmo os desenvolvedores sabiam o que eles queriam e acabaram improvisando durante o caminho.
Outro retrogosto amargo é que o jogo não consegue (ou nem mesmo tinha a intenção) de andar com as próprias pernas, desesperadamente tentando abocanhar um pouco do sucesso do aclamado Life is Strange de 2015, sem ao menos ter um motivo para isso. Bem... quem queremos enganar? É claro que $abemo$ o motivo.
Se Double Exposure tentasse ser mais original e não depender tanto de um capítulo anterior talvez o estúdio pudesse ter brincado de forma mais solta e criativa com os personagens, as ligações entre eles, os mistérios e os novos poderes. Mas não é o caso. Assim, temos o título mais fraco da franquia até hoje, se afastando de tudo que a fez conquistar tantos fãs na última década.
Essa review foi feita com uma cópia de PlayStation 5 cedida pela Square Enix.
Life is Strange: Double Exposure será lançado para PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC no dia 29 de outubro. O jogo também chegará para Switch no futuro.
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