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Gotham Knights | Review
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Gotham Knights | Review

Apesar da trama intrigante, combate medíocre e elementos rasos de RPG de ação resultam em um “Batman: Arkham de segunda categoria”

Arthur Eloi
Arthur Eloi
03.nov.22 às 19h30
Atualizado há mais de 1 ano
Gotham Knights | Review
Gotham Knights/WB Games Montréal/Divulgação

Obras de heróis são um fenômeno no cinema e na TV, mas ainda não se consagraram como tendência nos games. As adaptações interativas de HQs ainda não dominam o grande fluxo de lançamentos como nas outras mídias, apesar de já terem comprovado seu enorme sucesso há décadas. Lá atrás, quem demonstrou esse potencial foi a série Batman: Arkham.

A saga desenvolvida pela Rocksteady trouxe uma versão bastante sombria do mundo do Homem-Morcego, pegando carona no tom dos filmes de Christopher Nolan, e foi muito elogiada por seu ótimo combate e trama instigante. Agora, sete anos após a conclusão em Arkham Knight, a WB Games Montréal tenta reviver e modernizar essa franquia com Gotham Knights - em um esforço que, curiosamente, parece mais datado do que tudo que veio antes na série.

É bom esclarecer que não se trata de um Arkham propriamente dito. Não só a trama sequer é ambientada no mesmo universo, como também há uma diferença ainda maior: aqui, o Batman está morto. A história mostra os últimos momentos da vida do Homem-Morcego, vítima de um atentado por Ra’s Al-Ghul. Cabe aos discípulos do herói - Batgirl, Asa Noturna, Robin e Capuz Vermelho - assumirem a responsabilidade de proteger Gotham dos vários vilões e bandidos que vagam pelas ruas.

Ainda assim, Gotham Knights é indissociável dos games da Rocksteady. Primeiramente, a WB Games Montréal tem experiência por ter desenvolvido o derivado Batman: Arkham Origins e, depois, porque claramente toda a premissa do novo jogo é resgatar a pegada da série em forma de experiência cooperativa e online.

Trama de Gotham Knights, com a Batfamília desvendando intriga com a Corte das Corujas, é um dos poucos acertos do game

O problema está justamente na junção entre o que consagrou a franquia anteriormente com tendências modernas. Nessa combinação, os elementos parecem se contradizer: a trama, que poderia ser muito bem explorada em uma campanha mais focada, é ofuscada por uma tentativa de design expansivo, mas que só é raso e irritante.

Narrativamente, o game poderia ser um prato cheio para os fãs da Batfamília, especialmente por ficar cada vez mais intrigante ao ritmo que forças ocultas se revelam. Os heróis investigam um caso deixado pelo Batman, e rapidamente desvendam uma conspiração envolvendo a guerra entre a Corte das Corujas e a Liga das Sombras.

Além disso, os próprios heróis passam por infernos pessoais. O jogo entende que cada personagem tinha uma relação diferente com o Homem-Morcego, portanto cada um lida com o luto de sua própria forma, seja a Batgirl que lamenta também ter perdido o pai Jim Gordon, ou então todo o ódio internalizado do Capuz Vermelho, que busca soluções mais agressivas para o aumento da criminalidade em Gotham.

Destino confuso

Tentando ser um RPG de ação, Gotham Knights é marcado por inúmeras atividades tediosas

Infelizmente, aproveitar a ótima trama pede paciência. Enquanto a trilogia da Rocksteady cada vez mais abraçou o design de mundo aberto, sem perder o foco da jornada principal, Gotham Knights coloca grande ênfase em fazer atividades tediosas e repetitivas para poder avançar a campanha. Muito disso se dá em uma pegada a lá Destiny, em que é preciso “patrulhar” Gotham City para impedir crimes, subir de nível e desbloquear novas habilidades.

A inspiração na obra da Bungie é visível em tudo de Gotham Knights. Eventos e atividades acontecem em diversos pontos da cidade, e é preciso rodar pelas ruas com uma moto em busca de objetivos para concluir. Além de tudo ter sido pensado para ser aproveitado em até dois jogadores online, os personagens têm níveis próprios e árvores de habilidades, e podem encontrar loot pelas fases, como novos equipamentos e peças para confeccionar armas e trajes inéditos.

Seus esforços em Gotham Knights são recompensados com novos trajes e equipamentos - mas será que vale a pena?

Isso contribui em algo na experiência? Não. É só uma forma artificial de prolongar o tempo de jogo que, diferente de Destiny, não conversa em nada com a proposta ou jogabilidade do game. É uma pena, pois sua versão de Gotham City, repleta de pedestres, luzes e caos, talvez seja a melhor da franquia - apenas para ser desperdiçada com sistemas desnecessários de RPG e um mapa lotado de objetivos cansativos para patrulhar.

Mesmo quem quer apenas concluir as missões principais eventualmente precisará parar e fazer atividades secundárias, por não estar no mesmo nível dos oponentes. E até as atividades primárias são tediosas, curtas e sem nenhum tipo de profundidade além de chegar em algum lugar, derrotar um pequeno grupo de inimigos e escanear alguns objetos pelo cenário.

Soco fraco

O sistema de combate de Gotham Knights deixa a desejar quando comparado com os jogos Arkham

É possível argumentar que Batman: Arkham era exatamente igual, claro. Mas as obras da Rocksteady tinham o diferencial de um excelente sistema de combate, que permitia o jogador se preparar para lutar contra multidões de variados oponentes, e que transmitia o peso de cada soco e esquiva. A porradaria em Gotham Knights é inferior, bem menos satisfatória, sem tantas opções e com mecânicas truncadas.

É preciso aperfeiçoar cada personagem individualmente, mas mesmo suas árvores de habilidades completas não trazem tantas mudanças para o combate padrão, feito com ataques fracos, fortes e distância. Há pouca variação entre cada um dos personagens também - mesmo o Capuz Vermelho, que é um brutamontes armado com duas pistolas, enfrenta oponentes de forma muito parecida com a ágil Batgirl e seus dois bastões.

Falta impacto na trocação de socos, e também não há bom controle de multidões ou habilidades que encorajem um planejamento prévio, especialmente porque há pouca variedade de oponentes com ataques únicos. Isso, aliado com uma câmera que se perde durante as brigas, e a falta de poder travar a mira em um único inimigo, criam uma experiência de combate bastante medíocre. É um retrocesso em relação ao maior acerto dos antecessores.

Gotham Knights tem uma ótima versão da cidade de Gotham, mas é rápido se cansar com mecânicas tão repetitivas

Na verdade, isso é o que define Gotham Knights como um todo. Definitivamente não é um game péssimo, mas a ausência de qualidades marcantes ou diferenciais criam uma experiência estática e cansativa. É de se esperar, visto que a intenção não era outra além de criar mais um jogo-como-serviço para tentar fisgar o público além de uma campanha single-player, mas não deixa de ser um pouco frustrante.

Com tantas opções, fica difícil encaixar ainda mais um game que pede por comprometimento de tempo e esforço a longo prazo - especialmente um tão raso assim, que mal esconde servir apenas para surfar uma onda. Infelizmente, Gotham Knights demonstra o problema em tratar tudo pelos números: de nada vale uma avalanche de conteúdo se o mesmo for tão repetitivo e artificial.

Gotham Knights já está disponível para Xbox Series X | SPCPlayStation 5. A review foi feita com base na versão de Xbox Series X, com código cedido pela assessoria de imprensa.

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