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Doom: The Dark Ages pisa no freio para reinterpretar a série | Review
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Doom: The Dark Ages pisa no freio para reinterpretar a série | Review

Game peca pelo excesso, mas subverte expectativas sem perder a identidade

Marcellus Vinícius
Marcellus Vinícius
14.mai.25 às 11h05
Atualizado há 15 dias
Doom: The Dark Ages pisa no freio para reinterpretar a série | Review
Id Software/reprodução

O que define um bom jogo de Doom? Qual característica é a mais determinante para a identidade da franquia?

Em uma série tão longeva e influente como essa, é comum que cada pessoa tenha uma opinião distinta sobre os pontos fortes da experiência. Há quem preze pela velocidade da ação, enquanto outro perfil de jogador pode preferir a exploração e a tensão da sobrevivência. É natural também - e até desejável - que cada jogo traga uma interpretação própria das diferentes mecânicas e propostas.

Em Doom Eternal (2020), a aposta foi na agilidade de movimentação e reação para um sistema de combate cada vez mais frenético. Agora, com The Dark Ages, a ID decide olhar para o passado da série. Esse resgate do passado está presente não apenas na história, mas também - e principalmente - nas mecânicas, com a intenção de proporcionar um outro tipo de experiência.

As mudanças e adições que o novo título traz podem ser encaradas como controversas ou muito bem-vindas. Para fazer esse julgamento, é importante entender primeiro o que mudou e por quê.

Poucos sabem, mas Doom tem história

Em consideração às duas dúzias de pessoas que precisam de contexto para sair caçando demônios, The Dark Ages conta uma história que se passa em um ponto anterior da mitologia. Na prática, funciona como uma desculpa para reimaginar os equipamentos do Slayer dentro da temática de fantasia medieval.

A história é contada predominantemente por cenas não interativas no começo de cada capítulo. Elas são mais longas e numerosas do que se esperaria de Doom, e às vezes é difícil entender se a narrativa mirou na sátira, ou se realmente devemos prestar mais atenção em todo aquele “quiprocó” bélico e político. Especialmente na versão dublada, as cenas narrativas ficam parecendo um episódio de He-Man de grande orçamento, só que com o Esqueleto se levando a sério demais.

Tem seu charme, mas convém admitir que pouquíssimas pessoas jogam Doom pela história. O que nos faz voltar para a série é a adrenalina da sobrevivência dentro do sistema de combate. E é justamente nesse ponto que The Dark Ages procura deixar uma assinatura própria.

Pisa no freio, Slayer

O maior desafio da Id Software com os jogos modernos de Doom está em manter o combate intenso e exigente como o público cativo curte, mas sem alienar potenciais novos fãs. Em Eternal, a balança pendeu para algo mais de nicho, com um ritmo frenético e desafiador que, embora tenha sido muito aclamado, chegou a assustar novatos e se distanciar da cadência dos jogos clássicos.

The Dark Ages desacelera a ação para resgatar esse sentimento dos anos 90. O Slayer é muito mais pesado, a maioria dos projéteis dos inimigos voam até você em um ritmo mais lento e toda a ação é muito mais horizontal - não há, por exemplo, o pulo duplo. Em vez de pensar na melhor arma e abordagem para cada adversário, aqui temos um arsenal capaz de lidar com vários inimigos ao mesmo tempo, reforçando a ideia de que estamos no papel de um “exército de um homem só”.

A adição do escudo é determinante para essa experiência. Ele não deixa a abordagem dos confrontos mais cautelosa e defensiva, como poderíamos imaginar. Na prática, funciona muito mais como uma variação nas formas de atacar. A maneira mais rápida de se deslocar durante as lutas, por exemplo, é travar a mira em um inimigo e usar a investida do escudo contra ele. O famoso arremesso do Capitão América pode destruir fileiras de monstros mais fracos em instantes, liberando caminho para focar os maiores esforços nos oponentes mais cascudos.

Mas a maior novidade do escudo está na inclusão da mecânica de aparar - o famoso “parry”, para os íntimos. Apertando o botão de defesa no tempo certo, podemos abrir a guarda adversária e devolver projéteis, rebatendo-os na direção dos inimigos. Os golpes e tiros “pareáveis” são codificados na cor verde e merecem especial atenção, principalmente nos embates mais difíceis. O combate se torna assim uma dança onde o ritmo é determinado pela capacidade de reagir a diferentes cores e estímulos em sequência.

No seu melhor, The Dark Ages consegue manter o sentimento de transe típico da série, aquele estado de consciência em que a reação aos estímulos da tela é rápida a ponto de “esvaziar” nossa mente. A simplificação e desaceleração do combate pode deixar essa sensação mais branda, porém, especialmente para quem se acostumou com os níveis de dopamina que só o caos de Doom Eternal poderia proporcionar.

Quantidade em vez de qualidade

A campanha de The Dark Ages é bem mais longa e inflada do que a média da série. São 22 capítulos, com a maioria deles trazendo mapas amplos e cheios de segredos. A Id Software provavelmente percebeu que o ritmo mais cadenciado e acessível do jogo poderia torná-lo repetitivo para uma duração de aproximadamente 20 horas.

A solução encontrada foi variar a dinâmica de alguns capítulos focados em veículos com propostas distintas. O robô gigante - ou o que quer que seja aquilo - traz um combate corporal mais lento, enquanto o dragão serve de montaria para desafios de tiro e esquiva. O melhor que pode ser dito sobre essas sequências é que elas são raras.

Nenhum dos dois sistemas recebeu o mesmo polimento da experiência de controlar o Slayer. As lutas de robô são sonolentas em comparação com a ação convencional. O dragão é mais interessante e funciona muito bem em caminhos lineares, remetendo à experiência de jogos como Star Fox. Tragicamente, alguém teve a ideia de colocar o bicho para explorar mapas abertos, diluindo muito as partes mais interessantes dessas fases.

A impressão que passa é que os capítulos de veículos foram colocados ali na tentativa de mascarar eventuais problemas de ritmo. Dragões alados e robôs gigantes são sempre bem-vindos, mas faltou capricho na execução para não destoar de todo o resto. A régua de Doom é alta demais.

O melhor Doom medieval já feito

The Dark Ages, é o resultado de um exercício criativo que se voltou para o passado da série em busca de respostas. Embora não tenha o impacto dos anteriores, ele impressiona por subverter expectativas no sistema de combate sem perder de vista a identidade da série.

Esse é um jogo que prefere pecar pelo excesso do que pela omissão. Tal aposta nem sempre se paga tão bem, mas essa mesma coragem também proporciona os melhores momentos da reinterpretação da franquia. É admirável o comprometimento em explorar outros caminhos e possibilidades em vez de se apoiar no resultado positivo dos dois últimos jogos.

Se o seu sonho sempre foi se transformar em um tanque humano que dilacera demônios com um escudo de serra enquanto ouve riffs de guitarra ecoando no próprio inferno, esse é o seu dia de sorte. Mesmo flertando com a era das trevas, Doom continua sendo brilhante.

Doom: The Dark Ages está disponível para PlayStation 5, Xbox Series X|S, PC e Game Pass.

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