Desenvolvido pelo Halberd Studios, 9 Years of Shadows é um jogo indie ao estilo metroidvania que entrega um universo com uma mitologia própria, em que a ideia é salvar o mundo de uma maldição.
Apesar de explorar vários conceitos chamativos, o game tem dificuldade em encontrar uma voz própria e acaba sendo apenas um vislumbre do que o gênero é capaz de oferecer.
Charmoso, mas limitado
Com uma trama que parece ter saído de um anime dos anos 1990, o game é ambientado em um universo devastado por uma maldição que “anulou” todas as cores do mundo. Assim, tudo se tornou frio e sem vida, com criaturas perseguindo os humanos.
A protagonista Europa é uma dos sobreviventes deste cenário caótico que, após perder todos a quem mais amava, promete encontrar uma maneira de reverter a situação.
Esse é o pontapé inicial para 9 Years of Shadows, que se passa em um castelo que guarda os segredos por trás da maldição. O início é em preto e branco, mas não demora para Europa encontrar um fantasma misterioso chamado Apino, que restaura temporariamente as cores do mundo, oferecendo uma chance para ela dar um fim ao pesadelo.

Com isso, o jogador fica livre para explorar o castelo, que apresenta cenários bem diversificados e detalhados em arte pixelada. Toda a ambientação brinca com o contraste entre elementos da natureza e uma paleta sombria de cores. É uma mistura visualmente chamativa e que até lembra clássicos que deram nome ao gênero, como Super Metroid e Castlevania: Symphony of the Night.
A trilha sonora, composta pelas lendas Michiru Yamane (Castlevania) e Norihiko Hibino (Metal Gear Solid), acompanha a grandiosidade da ambientação e intensifica o clima sombrio e misterioso a cada cômodo. As músicas mudam ao explorar o local e enfrentar inimigos, estabelecendo um novo tom a cada área.
Estruturalmente, no entanto, o castelo deixa a desejar por ser limitado. Isso faz com que o jogo ofereça uma falsa sensação de liberdade percebida logo nos primeiros minutos. Ao explorar o local, encontrei caminhos diretos (até demais) com frequência, o que naturalmente me levava para o trajeto correto em pouco tempo. Assim, existe uma linearidade em um mapa que, na verdade, deveria ter mais segredos e quebra-cabeças de ambiente para desafiar o jogador (e sua memória).
Em cima da estrutura linear, porém, há elementos divertidos de exploração, em que é possível encontrar NPCs com tarefas opcionais e relíquias que concedem habilidades e melhorias para Europa. São desvios bem-vindos, mas que perdem um pouco do charme por aparecerem no mapa e não estarem escondidos.

Como todo metroidvania, não poderia faltar um combate desafiador, e 9 Years of Shadows cumpre o prometido... em partes.
Sendo simples e direto, o gameplay consiste em ataques corpo-a-corpo, esquiva e pulo. É o básico para você se virar, mas as mecânicas não são fluídas, o que gera uma sensação truncada que dificulta a dominação dos comandos.
O diferencial do combate só aparece quando, ao avançar na história, armaduras com efeitos elementais são desbloqueadas. As vestimentas dão poderes à Europa, possibilitando que ela se transforme em uma sereia ou um pássaro, o que dá uma boa mexida na dinâmica.
Uma surpresa é a integração das barras de vida e de magia de Europa. Elas são interligadas, o que pode funcionar tanto a favor quanto contra o jogador. Isso porque a morte pode ser evitada e a vida praticamente ilimitada se você for rápido o suficiente para restaurar a magia com Apino — o que, acredite, não é tão fácil quanto soa, sendo uma mecânica desafiadora na medida certa.
Por trás do combate, há vários inimigos e chefões que estão espalhados pelo castelo. Apesar de não ter muita diversidade entre eles, a maioria oferece confrontos divertidos e recompensadores, só que existe a sensação de que a dificuldade está desbalanceada. Alguns são extremamente simples e fáceis, enquanto outros elevam o nível repentinamente, o que gera uma oscilação durante todo o game e não uma construção gradual.

A parte mais empolgante de 9 Years of Shadows é a história que guarda segredos e mistérios do início ao fim, atiçando a curiosidade do jogador. Assim, não ter texto e legendas em português brasileiro prejudica os jogadores que não dominam a língua inglesa. Além disso, também não há nenhuma opção de acessibilidade.
Por fim, minha experiência foi marcada por muitos problemas de performance, como falhas que forçaram o fechamento do jogo e bugs visuais. Tive a perda de progresso em vários momentos, chegando até a me prejudicar no meio de lutas contra chefões, o que foi frustrante e ofuscou o game. Por isso, entramos em contato com a Halberd Studios, que afirmou estar ciente dos erros e já trabalha em correções. Nenhuma previsão para os patches foi mencionada.
Uma aposta no seguro
9 Years of Shadows é um metroidvania que fica dentro da zona de conforto, pincelando as principais características do gênero, mas sem se aprofundar nelas.

É um jogo que demora para engrenar e existe a constante sensação de que alguns conceitos – principalmente ligados ao game design – podiam ter sido mais explorados. Gostaria de ter visto toda a complexidade e as nuances da história no próprio castelo e na jogabilidade, por exemplo. Mas é impossível não dizer que houve momentos em que realmente me diverti ao derrotar um chefão ou desbloquear uma nova área do mapa, esquecendo todos os problemas restantes.
Com isso, 9 Years of Shadows é uma experiência divertida e enxuta, mas limitada, que está longe de ser um jogo ruim. Mas também está longe de ser um jogo excepcional.
Esta review foi feita com uma cópia cedida pela Freedom Games.
9 Years of Shadows será lançado no dia 27 de março para PC. O jogo também chega ao Switch no segundo semestre de 2023.