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Um Tira da Pesada 4: Axel Foley se apoia na nostalgia e em Eddie Murphy | Crítica
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Um Tira da Pesada 4: Axel Foley se apoia na nostalgia e em Eddie Murphy | Crítica

Comédia disfarça o cansaço com reciclagem de piadas, cenas de ação e uma ou outra novidade

Daniel John Furuno
Daniel John Furuno
05.jul.24 às 14h44
Atualizado há 9 meses
Um Tira da Pesada 4: Axel Foley se apoia na nostalgia e em Eddie Murphy | Crítica
(Netflix/Divulgação)

“Moça, ele não parece uns dez, quinze anos mais velho que eu? Temos a mesma idade. A mesma!”, diz, a certa altura, o protagonista de Um Tira da Pesada 4: Axel Foley a uma segurança do aeroporto. Na cena, ele se refere a seu antigo parceiro e atual chefe na polícia de Detroit, Jeffrey Friedman (Paul Reiser).

Com alguma boa vontade, a piada poderia funcionar na vida real. A diferença etária entre os dois atores é de cinco anos, mas Reiser, aos 68, com seus assumidos e respeitáveis cabelos brancos, aparenta ser ainda mais velho que o colega. Em contrapartida, além da questão física, Eddie Murphy tem a seu favor a inesgotável energia juvenil e o carisma que demonstra diante das câmeras desde que despontou no humorístico televisivo Saturday Night Live, em 1980.

Estes, por sinal, são os trunfos do novo filme do astro, que chega à Netflix quatro décadas depois do lançamento de Um Tira da Pesada (1984) nas telonas. A sequência apresenta Axel Foley (Murphy) ainda trabalhando como detetive em sua cidade natal depois de todos esses anos, tendo se tornado uma espécie de lenda no departamento de polícia. Porém, quando sua filha, a advogada Jane Saunders (Taylour Paige), é ameaçada de morte, ele se vê obrigado a voltar a Beverly Hills, desta vez para desbaratar um esquema envolvendo corrupção e tráfico de drogas.

Trata-se de um projeto que o próprio Murphy vinha tentando tirar do papel desde meados dos anos 1990, em um esforço para se redimir do desastroso Um Tira da Pesada III (1994), mal recebido por público e crítica — o novo longa-metragem até faz piada sobre isso. Depois de um processo cheio de idas e vindas e inúmeras trocas de mãos, a versão que se concretiza agora tem roteiro assinado por Will Beall, Tom Gormican e Kevin Etten.

É preciso reconhecer que, em alguns aspectos, o trio de escritores procura trazer atualizações para a franquia. Exemplo disso é a tímida tentativa de comentar sobre os clichês homofóbicos tão comuns nas comédias de outrora. “Tenho camadas, sou complexo”, afirma o traficante Chalino (Luis Guzmán) em evidente ironia, já que o personagem é o próprio estereótipo unidimensional: o gay que se comporta como diva, usa glitter e joga beijos para provocar o bonitão hétero.

Há também novos coadjuvantes. O detetive Bobby Abbott (Joseph Gordon-Levitt), que se junta a Foley em sua empreitada, claramente está lá para reeditar a dinâmica de buddy cop do filme original, em que os parceiros divergem na abordagem profissional. Fora isso, todavia, ele não tem muito mais o que fazer, além de dar suporte ao protagonista em algumas boas sequências de ação, filmadas com competência pelo diretor estreante Mark Molloy.

Imagem de Um Tira da Pesada 4: Axel Foley Joseph Gordon-Levitt chega ao filme como um contraponto a Axel Foley, mas não passa disso (Netflix/Divulgação)

Algo similar acontece com Jane, papel que praticamente se resume à relação de atrito e mágoa com o pai. Sem aprofundamento, no entanto, se torna repetitiva, girando em falso até a resolução, motivada por uma demonstração de amor um tanto cômica — pela obviedade e pela câmera lenta.

O longa se sai melhor quando assume, sem reservas, sua vocação de servir o que o público espera. Caso do retorno da dupla de apoio, formada por John Taggart (John Ashton), agora promovido a chefe de polícia de Beverly Hills, e Billy Rosewood (Judge Reinhold), desligado da força e atuando como detetive particular. Apesar do pouco tempo de tela, os dois cumprem bem suas funções: reproduzir falas e cenas do original e fazer graça da própria velhice.

O próprio Foley chega a brincar com isso, se dizendo “exausto” ao desistir de uma de suas infames pegadinhas. Mas é uma das poucas instâncias em que o protagonista demonstra cansaço — na maior parte do tempo, ele esbanja a força caótica, a cara de pau e o deboche que o ajudaram a se tornar um ícone. Mérito de Murphy, que consegue fazer funcionar até mesmo a mais fraca linha de diálogo (e há algumas delas ao longo do roteiro).

Um Tira da Pesada 4: Axel Foley é uma obra que se vale da nostalgia. Às vezes excessivamente, tendência ilustrada com perfeição pelo célebre tema instrumental “Axel F”, do alemão Harold Faltermeyer. A música, executada à exaustão em múltiplas versões — clássica, moderna, tensa, triste (?!) —, acaba se tornando uma excelente piada, mesmo que não intencional. No fim das contas, não é isso o que importa?

Antes de se despedir do amigo no aeroporto, o chefe de polícia de Detroit, Jeffrey Friedman, diz a ele: “Se cuida lá, você não tem mais 22 anos”. Foley então retruca: “Não se preocupe, vou ficar bem; Beverly Hills me ama”. Substitua o nome da cidade por “público” e aí está a única justificativa de que um projeto como este precisa.

O longa está no catálogo da Netflix. Aproveite e conheça todas as redes sociais do NerdBunker, entre em nosso grupo do Telegram e mais - acesse e confira.

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