Um Arthur como você nunca viu acabou de chegar ao cinema, com ritmo intenso e uma direção cheia de personalidade, Guy Ritchie criou uma versão ultramoderna de Rei Arthur: A Lenda da Espada. Como em suas duas adaptações de Sherlock Holmes para as telas, o diretor não teve medo algum de mexer em mais uma leva de personagens icônicos, injetando seu estilo ágil e rápido na história. E contou com a ajuda de um velho aliado no projeto, reunindo-se pela terceira vez com Jude Law (o Watson dos filmes estrelados por Robert Downey Jr., e futuro Dumbledore da franquia Animais Fantásticos e Onde Habitam).
O Jovem Nerd News conversou com a dupla numa típica tarde em Londres (sim, com garoa e névoa) para falar sobre o longa, de onde surgiu o projeto e como Jude se preparou para interpretar seu primeiro grande vilão do cinema.
O quão familiarizado vocês eram com a história original? O os atraiu ao projeto?
Jude Law – Acho que conhecia a lenda do Rei Arthur como qualquer outra pessoa. Arthur, Merlin, Lancelot, Guinevere... Tinha visto o Excalibur quando era menor, que sei que inspirou bastante o Guy. Também sabia que a lenda não era totalmente baseada na realidade. Há muitas pontas soltas e eles poderiam brincar com a história por conta destas pontas soltas. Gostei desta ideia.
Guy Ritchie - Estou mexendo com a história de Arthur há uma década e as estrelas se alinharam para fazer este filme acontecer. Acho que tem um apelo inconsciente na maioria das pessoas.
É um gênero específico muito difícil de se fazer bem, especialmente se feito de maneira contemporânea. E queria de alguma maneira entender o sentido da mitologia. Qual o seu propósito, sua essência?
É verdade que foi difícil convencer o Jude Law a participar deste filme?
GR – Eu gosto muito do Jude. É fácil trabalhar com ele; ele confia em você e aceita direcionamentos. Estava confiante desde o início nesta escolha, e ele ficou ótimo, né? E olha que tivemos uma negociação difícil para ele aceitar estar no filme.
JL – É verdade. Não tinha certeza de que havia o bastante no personagem. Eu fiz um monte de perguntas, queria saber mais e mais. Então eu fui resiliente por um bom tempo. Também queria ver como o Guy colocaria seu estilo no longa. No fim, o que me convenceu foi o elemento de magia no papel. No começo isto não estava muito desenvolvido e, quando vi que seria levado mais a fundo, me interessei. Uma mistura do mundo real, sujo e detonado do Guy Ritchie com a grandiosidade da fantasia.
GR - Algumas pessoas envolvidas no projeto achavam que não era importante este elemento de magia no longa. Eu pessoalmente sempre soube, desde o início, que a fantasia iria fazer parte da mitologia. Ninguém sabe exatamente o que houve no período, então tínhamos a desculpa para fazer isso.
No final das contas você é um ótimo vilão. Como foi esta experiência para você?
JL – O que me intrigou nele foi o fato de ser um homem obcecado e intoxicado pelo poder. Em manter este poder. Mas o custo disso é o pesar que ele carrega. Eu queria que ele transparecesse como uma pessoa solitária, podre, há sempre uma atmosfera de morte ao redor dele. Pois a única pessoa que poderia dividir isto com ele é sua esposa, e o poder custou a vida dela. Mas, ao mesmo tempo, ele vê tudo como um jogo.
Há toda uma simbologia no filme, com ele mexendo em peças em um tabuleiro. É a maneira como ele vê o mundo. Os vilões não costumam se enxergar como vilões, não é?
GR – A gente misturou um pouco de tudo do passado! (risos). Pegamos alguns personagens que eram importantes na história, mas não necessariamente no período arturiano. Como o Vortigern, que foi um monarca da Britânia.
Os figurinos do seu personagem são realmente impressionantes...
JL – Para mim era muito importante, desde o começo, que os figurinos fossem impactantes. Que o visual do Vortigern fosse impactante, que falasse muito sobre o personagem. E acabaram fazendo muito do meu trabalho por mim (risos).
Você não tem medo de pegar estes personagens icônicos e modernizá-los. Como encara isto?
GR – É a mesma pergunta da época do Sherlock Holmes, e a resposta é que não sei ao certo. Eu deixo a minha sensibilidade me levar. O que eu quero ver na tela, e o que eu acharia divertido. Honestamente, eu só enxergo como um desafio. Como pegar isto e tornar em algo novo?
O produto final acabou ficando com bastante humor. Era algo consciente, esta decisão de inserir humor no filme?
JL - Este é o toque do Guy. Porém não do meu personagem. Chegamos a pensar nesta possibilidade, mas me parecia errado. Afinal, quem é o maior vilão do cinema? Darth Vader. Sem discussão. E você nunca o veria fazendo uma piadinha (risos), porque ele tem que ser impenetrável. No minuto que ele ficasse engraçado, ficaria brega. Este é o tom que queria para o Vortigern.
GR – Por mais que eu tente fazer com que estes filmes fiquem sérios, nunca consigo (risos).