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Operação Red Sparrow | Crítica
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Operação Red Sparrow | Crítica

Jennifer Lawrence salva este thriller de espionagem irregular

Daniel John Furuno
Daniel John Furuno
01.mar.18 às 11h00
Atualizado há mais de 1 ano
Operação Red Sparrow | Crítica

É comum os filmes de espionagem privilegiarem um entre dois elementos: ação ou suspense. No primeiro caso, o protagonista é colocado diante de desafios majoritariamente físicos, como lutas, tiroteios e perseguições, até chegar ao confronto final — é o que costuma acontecer, por exemplo, nos longas-metragens da franquia James Bond. Já no segundo, é o mistério que prevalece, com uma série de pistas falsas, becos sem saída e reviravoltas que, eventualmente, conduzem à grande revelação — estrutura recorrente nas adaptações de romances do autor britânico John le Carré.

Não há juízo de valor nessa distinção. Enaltecer uma ou outra vertente depende, basicamente, de gosto pessoal, da mesma forma que preferir o turbilhão empolgante de Cassino Royale (2006) ou a intensidade cadenciada de O Espião Que Sabia Demais (2011).

Operação Red Sparrow bebe na fonte do suspense, embora introduza outros traços pouco habituais nos spy thrillers — e os resultados são irregulares.

Com sua promissora carreira encerrada após um incidente, a bailarina Dominika Egorova (Jennifer Lawrence) se vê forçada a ingressar em um programa do serviço secreto russo, cujo objetivo é treinar recrutas para usar manipulação e sexo como armas. Ao se tornar uma sparrow, Dominika recebe a missão de se aproximar de um agente da CIA, Nate Nash (Joel Edgerton), e, assim, descobrir a identidade de um informante infiltrado no alto escalão do governo.

O roteiro de Justin Haythe (que adapta um livro do norte-americano Jason Matthews, inicialmente publicado no Brasil pela editora Arqueiro como Roleta Russa e agora rebatizado com o mesmo título do filme) se esforça para estabelecer a protagonista. Suas motivações são claras: ajudar a mãe doente (Joely Richardson) e escapar da situação para a qual foi arrastada. O arco da personagem é satisfatório, passando de menina impulsiva a mulher que consegue se adaptar às adversidades e até colocar-se “um passo à frente”, como observa seu tio, Vanya (Matthias Schoenaerts). Contribui para isso o fato de Jennifer Lawrence entregar mais uma excelente performance, esbanjando magnetismo — seu sotaque russo, no entanto, se alterna entre bastante carregado e praticamente inexistente.

Também são acertadas algumas escolhas do diretor Francis Lawrence. A nudez da atriz principal, por exemplo, não ocorre nas cenas sensuais, mas sim em duas sequências-chave — uma em que Dominika é brutalmente subjugada e outra na qual é ela quem assume o controle, reforçando a ideia da sexualidade como poder. Da mesma maneira, a violência gráfica beirando o gore em certos momentos — quando uma perna é fraturada ou um naco de pele é arrancado — ajuda a criar uma sensação de perigo real.

Porém, nem tudo são flores. Desprovido de carisma, Joel Edgerton interpreta um mocinho genérico e apagado — personagens com significativamente menos tempo de tela se revelam mais interessantes, como a diretora da escola de sparrows (Charlotte Rampling), o general Korchnoi (Jeremy Irons) e até o crápula Volontov (Douglas Hodge).

A forma como o suspense é construído também oferece problemas. O grande segredo — a identidade do informante — é ignorado durante a maior parte da narrativa, que prefere tratar como mistério o jogo duplo de Dominika. As intenções da ex-bailarina até parecem dúbias em certos trechos, mas não é muito difícil adivinhar qual lado ela escolherá.

Com isso, o filme se torna arrastado por volta da segunda metade, valendo-se dos já mencionados rompantes de violência para tirar o espectador do marasmo. Todos os acontecimentos a partir daí — incluindo a desconexa e pouco interessante subtrama envolvendo a funcionária da embaixada norte-americana (Mary-Louise Parker) — servem apenas para justificar o plot twist, que não é lá dos mais surpreendentes ou entusiasmantes.

Competente em alguns aspectos, enfadonho em outros, Operação Red Sparrow carece daquele toque de mestre capaz de destacá-lo de seus pares. Tem gosto de Guerra Fria requentada.

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