Com o anúncio de que as produtoras Legendary Pictures e Sunrise estão desenvolvendo uma versão live-action de Mobile Suit Gundam, os fãs e entusiastas da franquia já iniciaram as suas teorias sobre como será a adaptação de um dos maiores símbolos da animação japonesa de todos os tempos. Principalmente, porque a gente já sentiu um gostinho de um "Gundam live-action" em Jogador Nº1 (imagem acima).
Criado em 1979 pela dupla Yoshiyuki Tomino e Hajime Yatate, Gundam é uma das marcas mais relevantes do gênero mecha, que se resume ao conceito de máquinas e veículos gigantes em batalhas épicas. Sendo um dos pioneiros em acrescentar elementos mais realistas aos animes desse estilo, Mobile Suit Gundam, de 1979, foi a base para uma enxurrada de novos produtos que são produzidos até hoje, como séries e filmes animados, além de livros, mangás e games.
Com grande importância no gênero, o que podemos esperar de uma versão live-action de Gundam? Formulamos um texto com cinco conceitos existentes na franquia (principalmente na série original) que são essenciais para sua adaptação:
O debate ético sobre a cultura bélica e a guerra
Em um primeiro momento, Gundam vai além de robôs coloridos e personagens marcantes: é uma franquia totalmente pautada no conflito e nas consequências aos seus envolvidos. Para os que não conhecem, a história original é baseada na guerra entre o Principado de Zeon (colônia terrestre recém-independente, com estrutura de uma monarquia totalitarista) e a Federação da Terra. Depois de um início de conflito trágico, com metade das populações dizimadas, passa a ser proibido o uso de armamento nuclear ou biológico na guerra.
Nesse cenário, Zeon torna-se pioneiro nos Mobile Suit, que são robôs de formato humanoide pilotados por soldados, e passam a ter vantagem sobre a Terra. Entretanto, a construção do protótipo RX-78-2 Gundam pode colocar a Federação em vantagem sobre os seus inimigos. Localizado na colônia Side-7, o modelo é resgatado pela nave de guerra White Base, que tem em sua tripulação um grupo de jovens com a missão de regressar a Terra e levar a arma em segurança ao planeta. Dentre os tripulantes, o jovem Amuro Ray – filho do engenheiro criador do Gundam – acidentalmente usa o robô em uma fuga de emergência e passa a integrar a força militar terrestre na sua missão de retorno ao lar.
Dentro deste contexto, os dilemas encarados pela tripulação refletem a realidade do conflito. Os males da guerra são mostrados de forma marcante durante a jornada da tripulação, ocasionando situações como a morte de personagens importantes da história e retratando as adversidades vividas por refugiados ou reféns. Em certo momento, inimigos e aliados são colocados em pé de igualdade pelo nível de atrocidades que ocasionam nos seus rivais e em sua própria população. Belicismo, nacionalismo exacerbado, campos de concentração... tudo está ali com um olhar crítico que questiona o papel do homem na sua lógica pela luta armada e vitória sangrenta.
Char Aznable, o Cometa Vermelho

Uma franquia de sucesso não é só formada por protagonistas marcantes, como também por grandes antagonistas. E nesse quesito, Gundam apresenta um dos personagens mais icônicos do universo dos animes: o comandante Char Aznable, o Cometa Vermelho.
Filho de um dos fundadores da antiga República de Zeon (transformada em Principado), Char é um exímio piloto que inicialmente aparece na obra para atrapalhar a trajetória da White Base até a Terra, formando um conflito pessoal com Amuro e seu Gundam. Entretanto, aos poucos o vilão torna-se muito mais do que apenas uma versão contrária ao mocinho da história. Baseado em motivações que remontam a sua conturbada infância e a sede de vingança, além de uma consciência maior de seu papel em uma complexa “luta de classes”, o Cometa Vermelho toma um papel que supera o vilanismo e se coloca como um anti-herói rico em idealismo e paixão. Não é a toa que sua visão de mundo e suas metas serviram de base para muitas obras posteriores da franquia. Dar essa magnitude a ele é essencial para que um filme live-action tenha a intensidade necessária para honrar seu produto original.
Newtypes
Elemento introduzido nos capítulos finais da primeira série de Gundam, o conceito dos Newtypes tem tudo para ser explorado ao extremo nas telonas.
De acordo com a ideia de que a vida fora da Terra proporcionaria a evolução extra-sensorial da humanidade, os Newtypes são indivíduos que apresentam um certo nível de “consciência espacial” e tem maior rapidez nas respostas físicas e psíquicas. Ao longo da trama, percebe-se que pilotos como Amuro e Char fazem parte deste grupo, o que cabe aos dois também sentir a presença do outro e realizar proezas impossíveis ao comando de seus Mobile Suits.
Entretanto, após a entrada da misteriosa Lalah que tudo ganha um ar mais onírico e quase profético na trama. Resgatada de um bordel indiano por Char, a jovem apresenta uma intensa consciência cósmica e se transforma na base de estudos para a compreensão do nascimento de Newtypes na sociedade humana. Isso cria no Cometa Vermelho um sentimento de luta social em defesa destes seres, o que lhe faz questionar o seu papel na guerra e o uso de newtypes como marionetes do estado. Uma boa forma de acrescentar mais conteúdo a trama e dar ao filme um panorama maior aos conflitos relacionados a ética e a luta pelos direitos civis.
Universo Expandido

Ao todo, Gundam tem mais de 30 obras, considerando animações, livros, quadrinhos e games, com muitas se passando em realidades alternativas (como é o caso de Gundam Wing, exibido no Brasil) ou seguindo a mesma linha cronológica. Nesse ponto, a obra original carrega uma extensa linha do tempo com materiais adjacentes que são criados para dar mais força ao contexto entre a luta da Federação contra Zeon.
Dentro dessa linha – mais conhecida como Universal Century (UC) – Gundam tem um conjunto de obras posteriores e anteriores a sua primeira história que logicamente seriam utilizados para prováveis continuações cinematográficas. Entretanto, isso não quer dizer que elementos destas séries (ou longas animados, livros, games...) não sejam inseridos logo em sua primeira adaptação. Na verdade, com o atual clima de filmes compartilhados e grandes encontros, ter a liberdade de adicionar ganchos fundamentados em outras obras é quase uma obrigação, já que arredonda os roteiros e dá muito assunto para que fãs conjecturem teorias.
Um exemplo disso é a Caixa de Laplace, item que aparece inicialmente na série Gundam Unicorn e que poderia já servir como um mistério conhecido por altos escalões, podendo mudar todo o entendimento do mundo. Outro ponto interessante são histórias de projetos paralelos ou anteriores ao “primeiro” Gundam, que poderiam ter citações ou até pertencerem efetivamente na trama principal do primeiro filme. Parece besteira, mas a lógica de entender o UC como fonte de roteiros desde o inicio pode fundamentar uma franquia live-action de maneira mais fácil e natural.
O Gundam (ou muitos Gundams)

Ok. Este é um tópico muito, muito óbvio. Mas altamente necessário e indispensável na lista. Para que Mobile Suit Gundam tenha sucesso, a película precisa de uma (ou mais) adaptações fieis ao robô mais famoso do universo nerd.
E, nesse caso, é lógico que o formato e o traço sejam adaptados para uma nova mídia. Possivelmente, suas cores e alguns aspectos de seu formato precisem de um olhar mais realista e científico. Porém, ideias chocantes ou muito fora do design inicial serão difíceis de aceitação com um símbolo tão imortalizado no imaginário popular e que serve até hoje como base para outros tantos modelos de suas séries adjacentes.
Por falar nisso, será que caberia um espaço para que outros Gundams já apareçam em um primeiro filme? Vale lembrar que o robô original tem dois “companheiros” de combate, o RX-77-2-Guncannon e o RX-75-4-Guntank, que fogem muito do visual do protagonista e podem até funcionar como alternativa de experimentação.
Mas quando você já tem um Gundam gigantesco em tamanho real no Japão, fica até difícil pedir alguma mudança drástica em um filme live-action, não? Vamos aguardar para ver...