A expressão whodunit (também grafada como whodunnit) tem sido cada vez mais usada no meio do entretenimento para categorizar um certo tipo de narrativa. O termo pode parecer novo para o público, mas é a maneira correta de chamar um subgênero do suspense que existe há muito tempo.
O que é whodunit?

Também conhecido como "who [has] done it" ("quem fez isso?", em português) é um estilo de histórias de ficção que começam com um crime (frequentemente se trata de um assassinato), no qual um detetive é chamado para resolver o caso. O interessante deste tipo de narrativa é acompanhar os métodos usados, analisar todos os suspeitos, criar teorias e, é claro, assistir atentamente ao seu desfecho.
O real assassino e as suas motivações são as últimas informações a serem reveladas neste tipo de trama, então vai do criador da história saber prender o público durante toda a jornada. Normalmente, o detetive tem características peculiares e excêntricas, o que ajuda a adicionar humor e permite resoluções mirabolantes.
Um elemento comum do gênero é o chamado red herring ("arenque vermelho", em português, mas este termo não costuma ser traduzido), quando algo é inserido à narrativa para distrair a atenção do leitor ou espectador. A ideia é dar pistas falsas que causem dúvidas no público e dificultem a resolução do caso. Por isso, é normal suspeitar de diversos personagens antes de chegar ao verdadeiro criminoso neste tipo de história.
Whodunit na literatura

Na literatura, este tipo de história entra também na categoria "policial". Inclusive, grandes escritores foram consagrados escrevendo as suas obras dentro desta categoria. Sherlock Holmes, criado por Arthur Conan Doyle, é um dos principais detetives do gênero. Sua primeira aparição aconteceu em 1887, na história Um Estudo em Vermelho. Ele entrou para o Guinness World Records como o personagem literário humano mais retratado nos cinemas e em séries. Uma das produções mais recentes baseada na obra de Conan Doyle foi Sherlock (2010), da BBC: um sucesso de púbico e crítica, estrelada por Benedict Cumberbatch como o famoso detetive e Martin Freeman no papel de John H. Watson, o seu fiel companheiro.
Outro importante nome da literatura whodunit é o da autora inglesa Agatha Christie. Com cerca de 72 obras lançadas, a escritora nascida em 1890 faz sucesso até hoje. Ela foi criadora de dois emblemáticos personagens, o detetive Hercule Poirot e a amadora Miss Marple. Os livros de Christie também serviram de inspiração para diversas obras audiovisuais, como Assassinato no Expresso do Oriente, que ganhou uma versão em 1974 e outra em 2017.
O gênero não é exclusivo de autores dos séculos passados, e há escritores de muito sucesso com tramas que se assemelham às de Christie e Conan Doyle. Harlan Coben, Stieg Larsson e Gillian Flynn são alguns dos escritores contemporâneos com obras consagradas e muito adaptadas para o cinema e TV. No Brasil, Raphael Montes, Tony Bellotto, Gustavo Ávila e Victor Bonini são alguns dos importantes nomes de literatura whodunit nacional.
O gênero no cinema

O cinema também explora o gênero que nasceu na literatura. Muitas vezes são com adaptações de livros clássicos de autores famosos, como acontece muito com Sherlock Holmes e Hercule Poirot. Mas há também roteiros originais, com tramas pensadas diretamente para as telonas.
Recentemente, o longa Entre Facas e Segredos (2019) foi um sucesso de público e recebeu até mesmo uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Original – algo que não é muito comum para o gênero, que costuma ser esquecido na maior premiação do cinema. Escrito e dirigido por Rian Johnson, o longa acompanha a investigação feita pelo detetive Benoit Blanc (Daniel Craig) para descobrir o assassino de um famoso escritor. Leia a nossa crítica de Entre Facas e Segredos aqui.
Já o filme Os 7 Suspeitos, de 1985, dirigido por Jonathan Lynn, teve uma inspiração bem diferente do que estamos acostumados. O longa se baseou no famoso jogo de tabuleiro Detetive, no qual o participante tem que descobrir o autor do crime, o local e a arma utilizada.
Whodunit também em novelas

A teledramaturgia também se utiliza do gênero whodunit para prender a audiência. Uma das novelas brasileiras mais famosas, Vale Tudo (1988), fez com que o país inteiro tentasse descobrir um dos grandes mistérios da televisão até então: quem matou Odete Roitman? O questionamento durou apenas 13 dias, mas foi o bastante para fazer o Brasil inteiro voltar a sua atenção para a história. Para que ninguém soubesse da reposta antes do tempo, cinco finais diferentes foram gravados no mesmo dia em que o episódio final e a resolução do crime foram ao ar.
O estilo ainda aparece nas tramas de novelas, mesmo depois de Vale Tudo. Títulos como A Indomada (1997), Celebridades (2003), Avenida Brasil (2012) e O Sétimo Guardião (2018) também apresentaram mistérios que prenderam o público curioso às narrativas.
E, com certeza, ainda teremos muitas obras dentro desse subgênero. Quem não gosta de tentar desvendar um bom mistério, praticamente sem solução? Quando bem feito, essas histórias têm o poder de marcar época, gerar discussões, teorias e bons papos. Whodunit coloca o espectador ou o leitor dentro da trama, capaz de criar as teorias mais absurdas, mas, inevitavelmente, sendo surpreendido. E é aí que fica a graça!