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Mufasa: O Rei Leão é prelúdio competente, mas sem vida | Crítica
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Mufasa: O Rei Leão é prelúdio competente, mas sem vida | Crítica

Novo filme pena em dificuldades do realismo e sofre para justificar própria existência

Gabriel Avila
Gabriel Avila
19.dez.24 às 12h18
Atualizado há 4 meses
Mufasa: O Rei Leão é prelúdio competente, mas sem vida | Crítica
Disney/Divulgação

A morte de Mufasa é um dos momentos definidores de O Rei Leão (1994). Afinal, a trama dá fim à figura nobre e sábia do rei, desnorteando tanto o protagonista Simba quanto o próprio público. Em sua curta participação em um verdadeiro clássico, o personagem se tornou marcante ao ponto de, 30 anos depois, ganhar um filme próprio em Mufasa: O Rei Leão, uma produção que sofre para fazer jus à figura do protagonista.

Continuação do remake em animação realista de O Rei Leão, lançado em 2019, o novo filme volta suas atenções à origem nunca contada do leão Mufasa. Apesar do claro gosto de reciclagem, causado por uma Hollywood que investe cada vez mais em sequências de franquias já consagradas, há realmente uma lacuna que poderia facilmente ser preenchida de formas interessantes. Algo que produção a aproveita, ao menos em um nível superficial.

O longa retorna à infância do pequeno Mufasa, que se torna um desgarrado após se perder dos pais. Por sorte, ele encontra Taka, um príncipe com quem estabelece uma relação de irmandade, que é colocada à prova quando a dupla precisa buscar um local paradisíaco e lendário chamado Milele para sobreviver à perigosa alcateia dos Forasteiros, comandada pelo perigoso Kiros.

Essa breve sinopse sintetiza a missão do filme em contar como Mufasa se tornou um rei e explicar a origem de sua rivalidade com o irmão “Taka” – futuramente conhecido como Scar. Tudo isso com direito a perigos, momentos musicais, reviravoltas e tudo o que se espera de um filme da saga. Tarefas cumpridas com uma série de poréns.

O projeto herda muitos dos grandes problemas do remake realista de O Rei Leão. O principal deles é justamente um visual que joga contra a fantasia. Afinal, todo o esforço empregado em tornar os personagens verossímeis impede que o longa iguale pontos consagrados nesse universo.

Os principais prejudicados nesse aspecto são os momentos musicais, que nunca atingem o patamar de espetáculo por estarem presos a uma estética que não abre espaço para esse tipo de abstração. E isso não se deve exatamente à qualidade da animação, que se prova competente ao garantir expressividade facial aos animais. Porém, há um limite claro que faz os momentos de cantoria destoarem do resto – e não ajuda que as canções, compostas por Lin-Manuel Miranda, não sejam muito marcantes.

Por outro lado, Mufasa conta com a vantagem de não ser uma adaptação direta, o que dá ao diretor Barry Jenkins (Moonlight) a liberdade para fazer mais do que recriar cenas consagradas de um clássico. Uma oportunidade que o cineasta aproveita para buscar uma identidade própria ao projeto, aproveitando a estética para propor um tipo diferente de show.

Em vez de usar o realismo de forma monótona, o cineasta e a equipe de efeitos visuais se esforçam para tornar trazer dinamismo à aventura e encher os olhos com maravilhas do mundo real. Assim, a produção encontra uma forma de utilizar a fantasia para que cada passo da jornada pareça menos um documentário do National Geographic e mais um filme de aventura grandiosa, que torna perseguições e embates em florestas, correntezas e alpes divertidos de acompanhar.

Assim como o aspecto visual é marcado por altos e baixos, a narrativa de Mufasa também patina entre boas ideias e oportunidades desperdiçadas. O grande trunfo do roteiro de Jeff Nathanson (Prenda-Me se for Capaz) é nunca perder de vista o senso de aventura, o que torna a trama cativante graças ao descobrimento de paisagens inéditas, a chegada de novos desafios e as formas divertidas com que os personagens lidam com eles.

O problema é que, enquanto história de origem, a produção nunca parece fazer jus ao que já está estabelecido em O Rei Leão. As principais questões a respeito de como Mufasa se torna rei, a origem da rivalidade com Scar e até mesmo o início de outros de seus relacionamentos importantes estão no filme, mas nenhum deles é especialmente surpreendente ou envolvente. O que, no fim, tira a força de uma produção que explica, mas nunca faz o público sentir que está conferindo algo realmente grandioso.

Aliás, vale um breve comentário sobre como a história é contada. Mufasa se passa após os eventos de O Rei Leão, com Rafiki contando à Kiara – filha de Simba e Nala – a origem do avô dela. São vários os momentos em que a trama principal sobre Mufasa e companhia é interrompida por cenas no “presente”, que em grande parte não acrescentam nada e estão ali para o público matar saudades de Timão e Pumba.

Seja como um aceno a O Rei Leão 3 - Hakuna Matata (2004), que recontou o primeiro filme pela perspectiva da dupla, ou como uma forma de justificar a presença dela na nova trama, é fato que o truque não se sustenta. Ele até agrada no começo, mas se torna cansativo conforme a dupla passa a repetir a mesma piada de diferentes maneiras.

Com isso, o novo filme da Disney é marcado por uma inconstância que, no fim, pouco surpreende. Embora não seja tão brilhante quanto poderia e ou tão frustrante quanto conseguiria, a produção é divertida o suficiente para quem quer matar as saudades de leões falantes de sangue nobre, mas não tem fôlego o bastante para ir além disso.

Mufasa: O Rei Leão está em cartaz nos cinemas do Brasil.

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