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Longlegs usa agonia para homenagear filmes de serial killers | Crítica
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Longlegs usa agonia para homenagear filmes de serial killers | Crítica

Filme com Nicolas Cage aterroriza com atmosfera perturbadora e elenco inspirado

Gabriel Avila
Gabriel Avila
28.ago.24 às 08h30
Atualizado há 10 meses
Longlegs usa agonia para homenagear filmes de serial killers | Crítica
Diamond Films/Reprodução

Mortes inexplicáveis unidas por um padrão sinistro colocam agentes da lei em uma corrida contra o tempo para impedir que um assassino desconhecido faça novas vítimas. Se essa descrição cai como uma luva para um sem-fim de filmes, como fazer com que o seu se destaque na multidão? A resposta encontrada pelo cineasta Osgood Perkins em Longlegs – Vínculo Mortal foi justamente não tentar reinventar a roda e focar todos os esforços em tornar a experiência uma aflitiva descida ao inferno.

O longa acompanha a agente do FBI Lee Harker (Maika Monroe) no encalço de um serial killer (Nicolas Cage). Envoltas em mistério, as mortes brutais são acompanhadas por cartas criptografadas, cuja única palavra legível é a assinatura do criminoso, que se identifica como “Longlegs”. Um caso bizarro que ganha contornos ainda mais tenebrosos conforme se desenrola.

O primeiro trunfo da produção é a construção cuidadosa de uma atmosfera perturbadora. Antes mesmo de Harker receber a tarefa de caçar o assassino, o longa instaura uma aura de inquietude calcada nos horrores escondidos na vida cotidiana. Uma tese levantada pelo constante lembrete de que basta dar o azar de estar no lugar errado, ou chamar a atenção da pessoa errada, para ter sua vida mudada para sempre.

Essa inquietude é apoiada pela direção de fotografia de Andres Arochi, que invoca o visual de produções das décadas de 1970 a 1980 para alimentar um senso de realismo cru que ancora a produção. Um trabalho afiado que o diretor Osgood Perkins aproveita para cozinhar a investigação lentamente, saboreando a agonia da antecipação por uma nova desgraça ou descoberta – especialmente ao retratar muitos deles em primeira pessoa, obrigando o espectador a encarar os horrores de frente.

Com o peso de ser a investigadora que conduz o caso – e o público –, Maika Monroe é competente ao encontrar uma identidade própria para sua Lee Harker. Afinal de contas, se a produção não esconde a influência em clássicos como O Silêncio dos Inocentes (1991) e Se7en – Os Sete Crimes Capitais (1995), a atriz marca uma das rupturas ao não parecer saída de nenhum desses títulos.

Mais do que encontrar formas diferentes de se fazer durona e habilidosa, ela interpreta a personagem com uma bem-vinda dose de mistério, que a torna tão enigmática quanto qualquer outro elemento da história. Por trás de uma fachada de desconexão, e até indiferença, há toda uma gama de sentimentos represados, que passam uma sensação de falsa segurança que ganha ainda mais força quando os horrores são fortes demais para sustentar.

Acontece que, apesar de ser uma ótima condutora, Maika Monroe não é a estrela do show. Esse papel cabe a Nicolas Cage, ator escolhido para interpretar Longlegs. Em primeiro lugar porque a própria direção valoriza seu assassino ao ponto de colocar um cuidado extra a cada aparição. É quase como se até mesmo os realizadores prendessem a respiração antes de deixar essa besta ganhar vida em uma interpretação ao melhor estilo Nicolas Cage.

O astro ganhou fama não apenas pelo talento, mas também pela forma exagerada com que dá vida a alguns de seus personagens. Com o serial killer não foi diferente, mas, nesse caso, os exageros de Cage são utilizados para dar alma ao assassino. Afinal de contas, se o roteiro dá a Longlegs uma personalidade excêntrica e imprevisível, é na atuação do astro que ele ganha a forma pavorosa que o grande vilão dessa história precisava.

E, ao melhor estilo ouroboros, a serpente que devora a própria cauda, a estranheza dele torna toda a investigação de Harker ainda mais sombria. Afinal de contas, a instabilidade violenta do personagem se torna um presságio terrível sobre o que sua obra é capaz de fazer. O que, por sua vez, surge a cada nova descoberta da agente, que caminha até um clímax que se torna a verdadeira prova de fogo de Longlegs – Vínculo Mortal.

O grande calcanhar de Aquiles da produção está na forma como ela amarra os mistérios. Sem spoilers, é possível dizer que, apesar de ser ótima em levantar questões, ela não as responde de formas tão satisfatórias, ao ponto de precisar tomar alguns atalhos para que a história avance.

Isso nos leva à conclusão, que apresenta uma reviravolta que é uma faca de dois gumes: para se fazer surpreendente, a revelação se baseia em um elemento que não ganhou a devida atenção ao longo da história. Ao ser introduzido nos finalmentes, ele pode parecer uma forçada de barra para conectar os fios soltos – e não ajuda que o momento que deveria marcar a explosão seja conduzido com a mesma cadência vagarosa do restante da produção.

Em contrapartida, o tal elemento faz pleno sentido e amplifica o sentimento de aflição que tomou conta da experiência e, em retrospecto, até ressignifica a produção. No fim das contas, Longlegs – Vínculo Mortal não é só mais um título em meio à multidão. O filme é um agoniante lembrete de que sempre há terrores a se descobrir em lugares que julgamos conhecer como a palma de nossas mãos – ou como aquele cômodo que guarda mais do que nossas bagunças.

Longlegs - Vínculo Mortal estreia em 28 de agosto, no Brasil.

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