Ray Stevenson morreu aos 58 anos na tarde da última segunda-feira (22). Ele pode ser lembrado por sua participação no universo de Star Wars, seja como Gar Saxon nas animações ou como o vindouro vilão de Ahsoka na série live-action. Ou talvez até por papéis em Vikings e no épico indiano RRR (2022).
O ator também passou pela Marvel como Volstagg nos filmes do Thor, mas o papel que definiu sua imagem na cultura pop é o divisivo Justiceiro: Em Zona de Guerra (2008). Em homenagem a Stevenson, afirmamos que é a hora certa de revisitar o longa - e enfim abraçá-lo como a melhor versão do personagem nas telas até hoje.
É fácil entender os motivos para o fracasso do longa, quando lembramos que ele foi lançado meses após Homem de Ferro e Batman: O Cavaleiro das Trevas. O filme de Lexi Alexander (Hooligans), curiosamente, se encaixa entre essas duas visões contrastantes que mudaram para sempre as adaptações de HQs. É sujo, saturado e extremamente violento, praticamente o oposto do que Jon Favreau apresentou na primeira aventura de Tony Stark, mas também sem o realismo e sofisticação que Christopher Nolan conferiu ao Homem-Morcego.
Em Zona de Guerra não tinha conexão com o vindouro Universo Cinematográfico da Marvel, não tinha a intenção de criar algo refinado, e definitivamente, não era algo que pudesse ser aproveitado por toda a família. Podemos dizer, então, que este filme nasceu datado, uma relíquia tardia do início dos anos 2000. As circunstâncias do lançamento, porém, não dizem respeito a qualidade do longa. Muito pelo contrário: ser uma antítese da sensibilidade e das formas de produção altamente digitais do atual MCU é o que o torna digno de ser revisitado quase 15 anos depois.
Sem Medo da Sujeira

O resultado é que Em Zona de Guerra é cheio de vida, fruto da dedicação de Alexander e do comprometimento de Ray Stevenson. A cineasta cria uma atmosfera pesada e opressiva em que Frank Castle se encaixa perfeitamente, mas sem nunca humanizar ou justificar suas ações, como todas as demais adaptações tentam fazer. O ator, por sua vez, impressiona ao retratar o personagem como um maníaco contido, estrategista e com sede de sangue em sua cruzada contra o crime.
Stevenson entrega a melhor versão do Justiceiro em tela. Seu personagem se diferencia tanto do vingativo anti-herói de Thomas Jane no longa de 2004 quanto do personagem amargurado e relutante que Jon Bernthal interpretou nas séries da Netflix. Aqui, Frank Castle não foge do manto de vigilante e é motivado por um senso de dever em lutar contra o crime, mas sem esconder que gosta da adrenalina e da violência.
Em Zona de Guerra traz uma autenticidade que simplesmente não se encontra em nenhuma das demais adaptações do personagem. O filme de 2004 e a série da Netflix buscam que o espectador crie empatia com Castle ao se passarem por dramas de ação e estudos de personagem, que buscam entender a mente do protagonista. No caminho, se distanciam do gênero de heróis, com muita relutância de abraçar o lado empolgante e também a feiura do material-base.

Para se preparar, Stevenson mergulhou de cabeça na fase MAX dos quadrinhos do personagem, o que lhe deu a capacidade de improvisar muitas das falas de Castle. Ainda assim, o filme não o faz gastar palavras ao ponto de que o vigilante não fala nada por quase 25 minutos de duração, ainda que esteja em tela durante quase todo esse período.
Em 2008, os fãs de adaptações de quadrinhos talvez quisessem algo mais sério ou mais leve, mas Justiceiro: Em Zona de Guerra é a pedida perfeita para quem busca um filme de HQ que não foge de ser absurdo e violento. Dê uma segunda chance para homenagear o falecimento prematuro de Ray Stevenson, mas fique pelas ótimas cenas de ação, pela estética urbana imunda repleta de neon, e pelo bom uso de efeitos práticos na sanguinolência.
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O Justiceiro: Em Zona de Guerra está disponível no catálogo do Disney+.