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Dungeons & Dragons surpreende com capricho e honestidade | Crítica
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Dungeons & Dragons surpreende com capricho e honestidade | Crítica

Filme que adapta clássico dos RPGs mergulha em clichês, mas investe em carisma e criatividade

Gabriel Avila
Gabriel Avila
13.abr.23 às 09h00
Atualizado há mais de 1 ano
Dungeons & Dragons surpreende com capricho e honestidade | Crítica
Dungeons & Dragons/Paramount/Divulgação

O projeto de Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes nasceu com a complicada tarefa de trazer o famoso RPG para os cinemas. Afinal de contas, não é fácil capturar a magia dos jogos em uma mídia que retira seu o grande atrativo, que é dar ao jogador o controle da jornada. Felizmente, o filme é sagaz ao usar ferramentas do cinema para levar o espectador para uma aventura carismática e divertida.

O ponto de partida do longa é o mesmo de qualquer partida do jogo, em que um grupo de diferentes classes se reúne para cumprir uma missão. A aventura da vez coloca o bardo Edgin (Chris Pine), a bárbara Holga (Michelle Rodriguez), o feiticeiro Simon (Justice Smith) e a druidesa Doric (Sophia Lillis) para recuperar uma relíquia e, de quebra, impedir a destruição da terra de Nevenunca.

Mecânica básica dos games, a união de personagens com talentos únicos em busca de um objetivo é a base para qualquer filme focado em equipes. Com isso em mente, o roteiro dos diretores Jonathan Goldstein e John Francis Daley, em parceria com Michael Gilio, abraça os clichês desse tipo de história sem um pingo de vergonha.

O texto é carregado por uma simplicidade que não tenta esconder do público os rumos da história. É constante a sensação de estar prevendo o que acontece a seguir, já que motivações, objetivos e até as reviravoltas de Dungeons & Dragons são muito comuns. Porém, os realizadores são espertos e utilizam esses lugares-comuns como base para construir o que torna a produção um sucesso.

Essa autoconsciência fica aparente logo de cara com a escolha do elenco. D&D foi certeiro ao escolher atores com base na imagem que eles construíram ao longo de suas carreiras. É claro que, em teoria, dar a Michelle Rodriguez o papel de porradeira é quase tão óbvio quanto colocar Chris Pine como o líder falho e carismático. Mas é a união deles na prática que torna os personagens dignos de representar o público na aventura.

Mais do que avatares de classes de RPG, cada membro do elenco soma à aventura com uma composição que confere humanidade a personagens donos de magia ou força. Mesmo aqueles com participação menor aproveitam os minutos em tela e agregam à campanha, como é o caso dos galãs Hugh Grant e Regé-Jean Page. Um direcionamento que faz toda diferença em uma jornada que foca no fator humano.

Mesmo deslumbrado com magias e dragões, D&D é orientado pela jornada de seus personagens. Tal qual uma aventura dos jogos, a história progride valorizando os obstáculos superados e a evolução que eles trazem, tornando a experiência recompensadora. Não à toa a história vai na contramão do que se faz em blockbusters e torna a tarefa de “salvar o mundo” quase secundária perante o amadurecimento desse time.

Falar em mundo leva a outro enorme acerto do filme de Dungeons & Dragons. A parte técnica da produção promove um espetáculo ao construir um universo tão palpável e curioso, que sua exploração se torna um deleite. Uma trabalho executado com capricho pelos times de fotografia, design de produção, figurino e efeitos visuais, que uniram esforços para materializar em tela a fantástica fauna e flora encontrada nos livros.

O grande momento de fantasia no cinema e na TV graças a hits como O Senhor dos Anéis e Game of Thrones ajudou o público a se apaixonar pelo gênero, mas também criou um patamar a se atingir. Não é exagero dizer que Honra Entre Rebeldes faz bonito não apenas por ser visualmente encantador, mas por fazer esse espetáculo servir à história.

Na posição de diretores, Goldstein e Daley fazem um grande trabalho ao se apropriar das possibilidades trazidas por esse universo fantástico para além da aventura, mas sem deixá-la de lado. A dupla usa a gramática do cinema para traduzir o RPG para as telonas, o que tempera as missões dos protagonistas com outros gêneros, como filme de assalto, terror e até faroeste.

Em determinado momento do filme de D&D, por exemplo, o grupo precisa localizar um objeto perdido durante uma guerra ocorrida em tempos antigos. Assim, usam magia para reanimar cadáveres em busca de informações, obtidas através de flashbacks de uma batalha gigantesca. Mesmo vaga, essa descrição demonstra como os cineastas aproveitam o material em mãos para criar uma sequência com ação, humor e até um pouco de horror.

Tal condução condiz com a carreira dos diretores, que já haviam misturado gêneros na ótima comédia Noite do Jogo (2018). Porém, fazer essa mistureba dentro da fantasia não é tão fácil quanto em uma história no mundo real, o que torna Dungeons & Dragons um filme ainda mais respeitável.

De quebra, a produção cresce muito se levarmos em conta o momento em que ela é lançada. É claro que cada obra deve ser julgada pelos próprios méritos, mas o capricho de D&D se destaca no momento em que os blockbusters estão cada vez mais acomodados em depender de computação gráfica. Basta ver como o longa salta aos olhos em comparação a muitas produções da Marvel ou DC, mesmo tendo um orçamento igual ou até menor.

Dessa forma, mesmo com uma história repleta de clichês e um humor que às vezes deixa a desejar, Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes triunfa. A produção esbanja carisma e um capricho que conquistam graças à honestidade de um projeto que reconhece suas limitações e se esforça para tornar a aventura memorável de outras formas.

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