Assistimos a Férias Frustradas

Memória afetiva é uma questão complicada. Nós nos agarramos às lembranças do passado e elevamos experiências que tivemos há muito tempo a um patamar inatingível. Ao tentar reviver essas memórias percebemos um gosto amargo de que talvez tudo aquilo devesse ficar apenas no passado.

Férias Frustradas é uma continuação/reboot do filme de mesmo nome de 1983. Seguindo os passos de seu pai, Rusty Griswold (Ed Helms) decide surpreender a esposa, Debbie (Christina Applegate), e os filhos em uma viagem de carro para o Walley World. Como é tradição na família Griswold, nada dá certo.

A história começa mostrando o crescente desinteresse da família na rotina que Rusty criou. O pai da família é retratado como um cara chato, preso em um emprego medíocre que gosta de fazer sempre as mesmas coisas.

Para tentar se reconectar com a esposa e os filhos, ele decide que uma viagem de carro é uma boa ideia. Mas não vai ser com o mesmo carro que o pai usou, e sim com um Tartan Prancer, um veículo com funções bem esquisitas como porta-taças nos puxadores e assentos que giram 360 graus. Alguns diriam até “o pior automóvel do mundo”. E assim, a família parte em uma jornada rumo a Walley World.

O filme começa com a música do original, tentando evocar os mesmos sentimentos que o primeiro Férias Frustradas trouxe há mais de 30 anos. Um erro. Quanto mais comparamos com o longa de 1983, pior ele fica.

O novo Férias Frustradas não tem charme, e os atores aparentam ter assinado um contrato apenas para retribuir um favor para alguém. Tudo nele parece forçado e uma tentativa desesperada de arrancar dinheiro das pessoas que amavam o primeiro filme.

Ed Helms tenta fazer um personagem tão caricato quanto Clark Griswold (Chevy Chase), mas só fica perdido na própria interpretação. Isso fica ainda mais óbvio quando o próprio Chevy Chase entra em cena para fazer uma pontinha. É até difícil de explicar tanta falta de carisma considerando que Helms é um ator que consegue arrancar risadas em Se Beber Não Case. Certamente uma evidência da falta de uma direção competente.

Christina Applegate fica tão apagada no papel de “mãe” que é fácil esquecer até o nome do personagem dela. Debbie é o membro menos detestável da família, mas só porque ficamos com pena da moça presa em um casamento com sexo chato e um marido estúpido.

O relacionamento dos dois irmãos, James e Kevin Griswold, é tão errado que mesmo quando tudo se resolve e eles ficam em “paz”, parece pior do que quando eles estavam se odiando e brigando.

A dupla é constantemente usada para comentários sobre pedofilia. O primeiro deles poderia ser facilmente esquecível, se fosse deixado de lado, mas quando acaba virando um tema recorrente é simplesmente desconfortável e nojento.

As piadas do novo Férias Frustradas tem um timing tão ruim que é possível percebê-las vindo em sua direção a quilômetros de distância. Mesmo referências a cenas do longa original, como a da garota em um conversível que flerta com o pai da família, são completamente arruinadas por um roteiro que não sabe como concluir as linhas de pensamento.

Alguns momentos soam completamente defasados, como se fossem as cenas descartadas do filme de 1983. Em um diálogo entre Stone Crandall (Chris Hemsworth) e Audrey (Leslie Mann), irmã de Rusty, a piada é só a de que ela gostaria de trabalhar e o marido não deixa. Não evolui, não se conclui, é isso. A garotinha, filha de Clark e Ellen Griswold, que vimos implicando com o pequeno Rusty no original, agora é uma mulher que é submissa ao marido. Essa é a piada. Em 2015.

Durante boa parte da história, o meu maior desejo foi de que toda aquela família simplesmente apertasse um botão do Tartan Cruiser, explodisse junto com o carro e parasse de estragar as minhas memórias de infância.

Férias Frustradas de 1983, com Chevy Chase, já teve continuações anteriormente. Cinco delas. Férias Frustradas II (1985), Férias Frustradas de Natal (1989), Férias Frustradas em Las Vegas (1997), As Ridículas Férias de Eddie (2003) e Hotel Hell Vacation (2010). Todas, exceto o de 2003, tiveram Chevy Chase e Berverly D’Angelo como Clark e Ellen Griswold. Talvez esteja na hora de deixar a franquia descansar e ficar apenas nas boas lembranças.