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Como Hunter x Hunter entrega um dos melhores antagonistas dos animes
Animes e Mangás

Como Hunter x Hunter entrega um dos melhores antagonistas dos animes

Dez anos depois, o arco das Formigas Chimera continua uma obra-prima do Togashi

Tayná Garcia
Tayná Garcia
12.abr.24 às 10h00
Atualizado há 12 meses
Como Hunter x Hunter entrega um dos melhores antagonistas dos animes
Hunter x Hunter/Madhouse/Reprodução

Criada por Yoshihiro Togashi, Hunter x Hunter sempre foi uma obra que chamou a minha atenção, até mais do que os shonen "clássicões" e amados pelos brasileiros como Naruto, Os Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball e One Piece. Mas, seja pela quantidade de capítulos ou pelo fato de que está longe de ser finalizada (desculpe pelo gatilho), nunca dei o primeiro passo para conhecer a história de Gon Freecss… até agora.

Após algum tempo sem consumir tantos mangás ou animes, decidi que queria retomar minha paixão pela cultura japonesa, e a tarefa nada fácil caiu justamente nele: Hunter x Hunter. Devorei todos os episódios do anime — a belíssima versão de 2011, produzida pelo estúdio Madhouse (Monster, Parasyte) —, e encontrei uma história que esbanja não apenas carisma e diversão, mas também profundidade e dilemas morais. Além de personagens pelos quais me apaixonei e amei odiar, e filosofias que são difíceis de esquecer.

Minha maior surpresa, porém, foi que também encontrei um dos antagonistas mais bem construídos que já vi em qualquer mídia. E, é claro, estou falando de Meruem, o Rei das Formigas Quimera.

O preço do poder

Dizer a outras pessoas que eu estava assistindo a Hunter x Hunter pela primeira vez sempre levou a comentários sobre o arco das Formigas Quimera. Algumas das frases que mais ouvi foram “você precisa assistir logo!”, “é o melhor arco do anime!” e “é um dos melhores arcos de todos os animes!”. Então foi difícil manter as expectativas baixas quando finalmente cheguei lá.

As Formigas Quimera também é o ápice da obra de Togashi em design e desenvolvimento de personagens (Imagem: Madhouse/Reprodução)

Sendo o arco mais longo de HxH na adaptação do anime, a história das Formigas Quimera se desenrola com “slow burn”, como uma vela que queima lentamente, até se tornar um completo incêndio. Isso leva a um ritmo mais cadenciado, que é até estranho em um primeiro momento, mas se prova necessário diante da complexidade do que é construído. Muitos personagens são introduzidos, e tramas paralelas acontecem simultaneamente. É um emaranhado que não apenas dá continuidade ao desenvolvimento de Gon e Killua, como aborda a dualidade entre “natureza versus criação”, questões políticas e a essência da humanidade.

O que desencadeia o arco é a própria biologia das Formigas Quimera, que é algo horripilante por si só. As criaturas são carnívoras e nascem de uma Rainha, que é capaz de se autorreproduzir ao comer imensas quantidades de comida. Ela, então, transmite características do que comeu aos “filhos”. Inevitavelmente, a situação se torna uma bola de neve, uma vez que a Rainha passa a se alimentar de pessoas. Isso resulta em gerações de Formigas que descendem de humanos e herdam características humanas, como falar, desenvolver sensos de individualidade e civilização, e, é claro, tomar gosto pelo poder.

O objetivo da Rainha ainda é comer o suficiente para dar à luz ao Rei, quem é fadado a governar o mundo (Imagem: Madhouse/Reprodução)

Algo curioso é que as Formigas Quimera são inicialmente retratadas como seres desprovidos de moralidades humanas. Assim, Hunter x Hunter flerta com um cenário de polarização — uma vez que tomamos o lado dos humanos de forma quase instintiva, ao ver os massacres de vilarejos para a alimentação da Rainha e um dos momentos mais tristes e revoltantes da obra (sim, Kite, falo de você). Só que Togashi meticulosamente cria um cenário com um reflexo turvo da humanidade nas Formigas, que percebemos aos poucos. As criaturas, sem querer, causam ações que questionam o que significa ser humano, e desafiam os julgamentos preconcebidos dos personagens e do próprio espectador.

Então, o que era “preto no branco” toma camadas de cinza. Literalmente.

Nada além de ruínas

Empatia, lealdade, compaixão, raiva, medo, ódio e amor são os sentimentos que regem o cabo de guerra entre as Formigas Quimera e os humanos do início ao fim. Mas é com o nascimento de Meruem, o Rei das temidas criaturas, que se inicia a etapa mais profunda do arco, fazendo tudo culminar em um único momento.

Sem que o espectador nem mesmo perceba, Togashi faz com que os papéis dos personagens se misturem tanto ao ponto de que não há foco em um único protagonista ou na construção de um confronto final, como é comum ver em obras ao estilo “shonen”. O arco, na verdade, é uma guerra que pode tomar proporções enormes, com figuras importantes e diferentes motivações dos dois lados.

Partidas de Gungi com Komugi fazem o Rei perceber que existem a existência de forças mais importantes do que a bruta (Imagem: Madhouse/Reprodução)

O Rei das Formigas, dentro desse cenário, é retratado como um autoritário impiedoso, mas que ainda está aprendendo sobre o mundo que governará. Essa ânsia em aprender o leva a conhecer Komugi, quem, completamente sem querer, usa um jogo de tabuleiro para fazê-lo se sentir “humano”. Com uma simplicidade que beira a genialidade, uma conexão entre Meruem e Komugi é criada, fazendo com que o Rei se torne uma figura multifacetada e gerando uma história sutil e delicada sobre o que é ser humano. Paralelamente a isso, os humanos provam o mesmo ponto; só que de uma forma diferente.

Mostrando por que humanos estão no “controle” do mundo, uma bomba nuclear é usada para colocar um ponto final na guerra — resultando em uma sequência pesada, que faz referências diretas a Hiroshima e Nagazaki. E que, amargamente, nos faz perceber que não estamos tão distantes assim das Formigas.

"Não somos tão diferentes das Formigas. Somos muito piores..." (Imagem: Madhouse/Reprodução)

Há ainda muito a ser debatido e analisado sobre o arco das Formiga Quimera, como a própria desconstrução de Gon que nos leva a ver como o Nen é um sistema flexível, porém impiedoso; ou o poder imensurável de Netero, cujas forças vêm de rezas que não exigem mãos, e sim do coração. Mas a imagem das mãos entrelaçadas e sem vida de Meruem e Komugi é o momento que mais persiste na mente do espectador, além de ser aquele mais incomoda. Possivelmente porque torcemos pela queda do Rei por muitos capítulos, mas, quando finalmente acontece, é uma das cenas mais difíceis de assistir da obra. Justamente por ser triste e necessário nas mesmas medidas — uma verdadeira aula de desenvolvimento de personagem.

Pois é. Diria que Hunter x Hunter não só cumpriu o objetivo que eu (injustamente, confesso) dei a ele ao começar a assistir a história de Gon Freecss, como também me marcou de uma maneira que eu não esperava.


A versão de 2011 do anime de Hunter x Hunter está disponível na Crunchyroll e Netflix.

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