Adaptações dos quadrinhos protagonizadas por heróis não são novidade e, quase sempre, são garantia de sucesso de público. Todo estúdio que tem os direitos de algum superpoderoso no catálogo já explorou esse mercado de várias maneiras: a Fox com X-Men e Deadpool; a Netflix com toda uma linha de personagens Marvel; a própria Marvel/Disney, claro; a DC/Warner também não fica atrás... A lista é enorme, e inclui desde heróis muito conhecidos a nomes do lado B dos quadrinhos. A Sony Pictures, que já fez três versões do seu personagem principal, o Homem-Aranha, decidiu que era hora de explorar ainda mais essa fatia. E foi assim que surgiu a adaptação de Venom.
Teoricamente, o longa contaria a origem do simbionte e da relação com seu hospedeiro Eddie Brock (Tom Hardy), um jornalista investigativo arrogante e encrenqueiro que perde tudo após tomar decisões moralmente questionáveis.
Mas, na prática, a trama acaba focando na relação entre Brock e Anne Weying (Michelle Williams), o que dá ao filme um tom quase de comédia romântica, mais ou menos como aconteceu no primeiro Thor. Venom tenta ser uma mistura de ação e romance, uma coisa meio "ação-de-super-herói", vista em filmes do início dos anos 2000, como Demolidor (2003) e Quarteto Fantástico (2005). No fim das contas, o filme é confuso, com cortes drásticos e secos, que impedem que o público consiga se envolver com a história.
Entre os personagens, o destaque fica para o próprio Venom, que dá conselhos para seu hospedeiro enquanto salva a pele dos dois. A relação construída entre simbionte e Brock é divertida e sustenta parte do filme, mas não o suficiente para relevar as motivações dos outros personagens, que são apenas repetições do que já vimos inúmeras vezes: uma ideia megalomaníaca, uma ameaça global, um momento de heroísmo de alguém que não deveria ligar. A fórmula está lá, mas a execução deixa a desejar e faz com que o filme pareça apenas mais um, sem diferenciais, evidenciando os problemas de seguir a mesma "receita de bolo" das outras produções.
Nem mesmo a trilha sonora, que ajudaria a tecer a trama, parece se encaixar, cortando alguns momentos por estar muito alta ou por não combinar com o que estamos vendo.
A computação gráfica não é das mais incríveis, mas na luta final, a criatividade na utilização dos efeitos especiais compensa a falta de realismo e cria uma cena memorável (que perdeu parte de seu impacto por ter sido mostrada em um trailer).
O sentimento ao assistir Venom é de que ele foi lançado 15 anos atrasado. O longa poderia facilmente se encaixar como um spin-off daquele primeiro Homem-Aranha com Tobey Maguire, quando os filmes de herói ainda não haviam tomado as proporções de um MCU. Perdido no tempo, Venom desperdiça o potencial do anti-herói para protagonizar uma história — ou talvez ele só funcionasse mesmo quando dividia esse protagonismo com alguém.
Venom já está nos cinemas brasileiros.