Para a realização de Vingadores: Guerra Infinita, 12 empresas dos mais variados estilos e tamanhos prestaram serviços para a produção dos efeitos visuais. Entre estas terceirizadas estão as gigantes Industrial Light & Magic e Weta, responsáveis por Star Wars e Senhor dos Anéis, respectivamente. Para que as centenas de funcionários dessas companhias se comuniquem e realizem um trabalho coeso, é necessário que alguém orquestre e conduza todos os departamentos que envolvem a criação de efeitos especiais.
O trabalho de harmonizar toda essa gente é feito pelo indicado ao Oscar por Capitão América: Soldado Invernal, Dan DeLeeuw, o supervisor de Efeitos Especiais de Guerra Infinita.

O supervisor de efeitos é a ponte direta entre os diretores, produtores e a parte técnica de um longa-metragem. Este profissional acompanha toda a produção do filme — desde sua concepção de arte até suas últimas semanas de finalização. O profissional precisa dirigir e trazer uma unidade entre as partes artísticas, técnicas e financeiras. Por conta disso, DeLeeuw trabalhou muito ao lado dos diretores, Joe e Anthonny Russo, e do diretor de arte, Ryan Meinerding.
DeLeeuw é um profissional com um vasto portfólio em Hollywood: seu currículo inclui trabalhos que vão desde os filmes do Capitão América até a saga Uma Noite no Museu. Apesar de ser um profissional respeitado, nos últimos anos, ele enfrentou desafios inéditos para sua carreira, como criar um antagonista inteiramente baseado em efeitos visuais, encaixar dezenas de personagens em tela e até conduzir a gravação de dois longas ao mesmo tempo.
A gênese de um Titã
A criação do Thanos é um trabalho que já dura quase oito anos, desde sua primeira concepção na produção de Os Vingadores (2012). Com o passar do tempo, o visual do vilão mudou graças à modernização de técnicas. “A tecnologia está sempre mudando, por isso o número de expressões faciais que Thanos tem nesse filme é muito maior do que naquelas pequenas cenas que vimos antes”, revela DeLeeuw.
Os vários anos entre uma aparição e outra do Titã Louco permitiu que o time de arte e efeitos pudesse pensar e construir o personagem com muita calma; fato raro neste tipo de produção.
Quando a pré-produção de Guerra Infinita começou, o chefe do departamento de efeitos visuais teve uma longa reunião com Ryan Meinerding, o diretor de arte do filme. Ambos saíram daquela sala com um veredito: para ter um Thanos melhor eles precisariam mostrar mais do trabalho de Josh Brolin.
A ideia é colocar o máximo do ator dentro da “escultura” que é este personagem. Então queríamos colocar mais Brolin dentro de Thanos para capturar o máximo desta grande performance que ele deu.

A vontade de capturar o melhor da atuação de Brolin foi um aspecto muito explorado e recorrente na produção do longa. Tanto é, que DeLeeuw diz que a equipe optou por colocar o ator no meio da ação, deixando que ele atuasse ao lado dos outros interpretes. Essa não é uma decisão tão comum: em O Hobbit, por exemplo, o ator Benedict Cumberbatch foi isolado do resto das filmagens e gravou sua voz e captura facial em uma sala especial para este tipo de personagem digital. A Marvel considerou replicar a fórmula, mas o supervisor de efeitos revela que a vontade de extrair o máximo da atuação de Brolin falou mais alto.
Tentamos ter as melhores interpretações possíveis ao usar captura de movimentos. Por isso, em vez de de isolar Josh Brolin, para fazer a captura, colocamos ele junto dos outros atores para que todos pudessem dar o melhor de si nas performances.
A Cor Púrpura
Uma das mudanças de Thanos que mais fascinou a internet foi a coloração da sua pele. Cada aparição do Titã em uma nova cena pós-créditos apresentava uma nova tonalidade de roxo no personagem — o que iniciou um questionamento por parte dos fãs: por que Thanos muda de cor?

A resposta desta questão pode ser um pouco mais científica do que você imagina: DeLeeuw conta que “a luz dos diferentes ambientes e mundos está constantemente afetando a coloração roxa”. Essa decisão de design, decidida no início da produção de Guerra Infinita, não foi tomada apenas devido a seu aspecto plástico, mas também como um elemento funcional e útil para o espectador.
Como o longa terá vários núcleos em diferentes partes do universo — Wakanda, Nova York e o espaço são só alguns deles —, é essencial que o espectador se situe no mundo, por isso, a coloração será um elemento importante para identificar o local onde certas cenas se passam.
No começo do processo, nosso designer de produção, Charles Wood, alertou que esse seria um filme enorme e com muitos núcleos. Por conta disso, ele queria que o espectador notasse uma mudança significativa quando mudássemos entre as diferentes aventuras do longa. A ideia é que você, como espectador, saiba onde estamos ao olhar apenas o visual da cena. É aí que a cor do nosso vilão entra.
A ideia de usar Thanos como um dos elementos de identificação do filme acarretou uma nova questão: como escolher qual tonalidade de roxo Thanos terá? Este foi um trabalho totalmente realizado pelo time de arte da Marvel, e envolveu pensar na quantidade de luz que incide sobre a pele em cada local — por conta disso, no espaço, o titã pode ser visto ainda mais roxo. Posteriormente, estas cores eram trabalhadas com o time de efeitos especiais.
A escolha da tonalidade de cada planeta foi parte do processo criativo do nosso time de design de produção e arte. Eles escolhiam as cores baseadas no estilo artístico de cada ambiente e, só depois disso, faziam reuniões com o departamento de efeitos visuais.
Vingadores: Guerra Infinita foi (e ainda está sendo) o maior desafio da extensa carreira do supervisor de Efeitos Especiais, Dan DeLeeuw. Mas a parte mais difícil deste trabalho não foi Thanos ou os quase 20 heróis que ele colocou em tela. Ao ser perguntado sobre o grande desafio, DeLeeuw não hesitou e me respondeu: gravar e finalizar dois filmes ao mesmo tempo.
Vingadores 3 e 4 foram gravados em sequência, um após o outro. Se passaram mais de 12 meses de filmagens (o normal para um grande filme são quatro ou cinco meses) — o que resultou em um trabalho duplo para o supervisor. “Nós estávamos na loucura da pós-produção de um filme enquanto já filmávamos o outro”, dispara ele. A jornada dupla envolvia estar presente no set de gravações para posicionar os atores, checar a iluminação e comandar uma equipe. Ao mesmo tempo, ele precisava reger o time de efeitos que já estava trabalhando na pós-produção de Guerra Infinita.
Nós filmamos dois filmes juntos, então estávamos indo para pré-produção de um filme [Vingadores 4] enquanto trabalhávamos para deixar tudo certo nos efeitos do outro [Guerra Infinita].
Nos filmes da Marvel, ainda que o público saia da sala dos cinemas discutindo as motivações desse ou daquele vilão, que tal filme teve ou não teve piadas demais, dificilmente os efeitos especiais são questionados. O trabalho de Dan DeLeeuw é bem sucedido porque se torna "invisível", diluído no meio de batalhas épicas. Ao mesmo tempo que é extravagante, se adequando à proposta de cada longa que construiu esse universo cinematográfico ao longo de 10 anos — que culmina em Thanos, sua tecnologia de captação mais madura, suas diferentes cores ao longo dos anos e nos episódios finais da franquia de heróis mais bem sucedida do cinema.
Além de falar sobre a criação de Thanos, DeLeeuw conversou com o NerdBunker sobre os a importância do tempo na hora de criar efeitos e a forma como dublês digitais ajudaram na construção das batalhas de Vingadores: Guerra Infinita.