Paranormasight: The Seven Mysteries of Honjo é aquele tipo de jogo que, em poucos minutos, já percebemos que se trata de uma experiência única e especial.
Desenvolvido e publicado pela Square Enix, Paranormasight é uma visual novel que mistura elementos de terror e mistério, fazendo o jogador mergulhar em uma investigação sobre lendas urbanas de terror de forma bem criativa e, ouso dizer, até genial.
Lendas, mistérios e originalidade
A trama é ambientada em um pequena cidade japonesa durante a década de 1970, onde os habitantes estão obcecados com os “Sete Mistérios de Honjo”, histórias originadas durante o período Edo, que se tornaram lendas urbanas locais com o tempo.
Supostamente, as tais lendas são chave para um poder oculto conhecido como “Ritual de Ressurreição”, que seria capaz de trazer alguém que já morreu de volta à vida – poder cobiçado por várias pessoas da região. Dentro deste contexto, a trama se desenrola pelo olhar de múltiplos protagonistas. A ideia é que o jogador investigue cada arco para desvendar mistérios interligados entre eles, enquanto descobre as motivações dos personagens.

No entanto, os “Sete Mistérios” são mais do que parecem. Alguns habitantes (incluindo os protagonistas) foram “amaldiçoados” pelos espíritos das lendas urbanas, o que os concedeu o poder de usar uma maldição para matar outros humanos. E, caso matem uma quantidade específica de pessoas com a “habilidade”, eles poderão realizar o cobiçado ritual. Cada maldição, no entanto, exige uma condição para ser usada. Uma delas, por exemplo, só pode ser acionada quando alguém dá as costas para o portador “amaldiçoado”.
Assim, o objetivo é investigar os segredos por trás dos assassinatos e acontecimentos paranormais da história, enquanto soluciona enigmas de ambiente que envolvem as maldições. É preciso tomar cuidado para não se tornar vítima de outro portador, além de ser esperto e rápido o suficiente para saber como usar a sua.
De forma geral, a história é complexa e cheia de camadas, sendo praticamente uma teia de aranha de arcos interligados. O ritmo é relativamente lento e depende da sagacidade e da atenção do jogador para engrenar — o que não é algo ruim, pelo contrário. Com isso, a sensação é que você está literalmente nas rédeas da investigação, sendo responsável por interligar informações e acontecimentos. A mistura gera uma sensação empolgante em quem está com as mãos no controle!
Já a jogabilidade é simples e intuitiva. Há poucos comandos e eles são baseados na ideia de “apontar e clicar”, contando apenas com um sistema de escolha de diálogos e movimento de câmera para analisar os cenários.

Algo inusitado é que a história conta com o Narrador, um personagem misterioso que quebra a quarta parede e conversa diretamente com o jogador em momentos específicos, como nas telas de “game over”.
A metalinguagem também é um elemento do gameplay. O Narrador alerta que o jogador é “onipresente” em Paranormasight, o único com acesso a todos os acontecimentos, sabendo mais do que os próprios personagens. Então é preciso usar essa vantagem para solucionar enigmas. Por exemplo, às vezes é preciso forçar um “game over” para descobrir informações específicas ou mexer nas configurações do menu para gerar um acontecimento. Esses momentos brincam com a natureza interativa dos jogos de forma brilhante e são um toque de originalidade à narrativa principal.
A história ainda guarda surpresas do início ao fim. Após o capítulo de introdução, uma mecânica chamada “Story Chart” é desbloqueada. Ela possibilita transitar entre os arcos e até voltar no tempo em alguns momentos-chave para mudar o rumo da trama e abrir um caminho alternativo — o que consequentemente gera múltiplos finais para a narrativa.

No entanto, Paranormasight é um jogo com bastante texto. Até o menu tem uma área reservada para arquivos com informações sobre personagens, locais e itens importantes para o entendimento da história. Então o fato de não ter localização em português brasileiro prejudica (e muito) quem não domina a língua inglesa.
Terror bem pensado e retrô
Paranormasight usa o aspecto limitado de visual novel ao seu favor, construindo uma atmosfera sombria e inquietante, que deixa o jogador tenso e curioso o tempo inteiro. Por exemplo, sentir que está sendo observado e ter que olhar ao redor com a movimentação limitada da câmera sempre dá aquele friozinho na barriga.
O jogo ainda apresenta uma estética retrô, em que a imagem conta com um efeito granulado, como se fosse um filme antigo de terror. Além de uma paleta de cores focada em tons escuros. O resultado é chamativo e conversa diretamente com a narrativa.

A trilha sonora também contribui para a construção da atmosfera, brincando com a ideia de se intensificar ou cessar subitamente de acordo com os acontecimentos ou falas dos personagens.
Paranormal de tão bom!
Paranormasight: The Seven Mysteries of Honjo é uma visual novel com personalidade, apresentando uma história complexa, bem escrita e cheia de camadas e reviravoltas, além de um game design simples, mas eficiente. Os toques de metalinguagem ainda amarram a narrativa e o gameplay de forma criativa e envolvente.
O jogo ainda é desafiador na medida certa e tem um ritmo que depende do jogador, o que faz com que solucionar quebra-cabeças ou desvendar sozinho algum segredo seja imensamente recompensador.
É uma das maiores surpresas do ano até agora e uma das experiências de terror mais inusitadas que já tive com videogames, gerando momentos em que fiquei boquiaberta com a originalidade das mecânicas e da mitologia do game.
Acredite: Paranormasight é uma experiência obrigatória para todo fã de mistério e terror.
Esta review foi feita com uma cópia cedida pela Square Enix.
Paranormasight: The Seven Mysteries of Honjo está disponível para PC e Nintendo Switch.