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Pânico VI assusta e surpreende apesar de roteiro frágil | Crítica
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Pânico VI assusta e surpreende apesar de roteiro frágil | Crítica

Novo filme supera anterior graças a diretores mais confiantes e elenco carismático

Gabriel Avila
Gabriel Avila
09.mar.23 às 09h09
Atualizado há mais de 1 ano
Pânico VI assusta e surpreende apesar de roteiro frágil | Crítica
Pânico VI/Paramount/Divulgação

O filme Pânico (2022) chegou aos cinemas como um paradoxo. Apesar de se tratar do quinto capítulo, ele também marcou o reinício da franquia ao trazer uma equipe criativa completamente nova. Tratado como fanfic por uns e como novo testamento por outros, é fato que a produção fez sucesso ao ponto de rapidamente garantir uma continuação em Pânico VI.

Enquanto o anterior focou em um retorno confortável a esse universo, o sexto Pânico mirou na novidade. Porém, os realizadores sabem que inovação é relativa dentro de um subgênero acostumado a obedecer regras, como é o horror slasher. A saída foi transformar limitação em ferramenta, tática verbalizada dentro do filme. Ao descrever o slasher como um amontoado de clichês que pode dar origem a uma arte bruta, Pânico 6 lança a si mesmo um desafio que cumpre, mas com ressalvas.

A primeira grande mudança é a de ares. O longa deixa a pacata Woodsboro por Nova York, cidade que abriga o quarteto sobrevivente do quinto longa. Calouros na faculdade, eles vivem entre paranoia, estado de negação e a vontade de seguir em frente. Questões que se misturam quando um novo assassino vestindo a famosa máscara de fantasma começa a matar na nova vizinhança.

O local serve como um terreno fértil para as boas ideias que conduzem a trama. Os roteiristas James Vanderbilt e Guy Busick retornam do filme anterior dispostos a chacoalhar as expectativas do público, seja com novos conceitos – como na excelente cena de abertura –, ou com uma abordagem que atualiza recursos utilizados anteriormente na saga. O problema é que a dupla não é bem-sucedida na conexão entre ideias, tornando o encadeamento delas um tanto frouxo.

Essa dificuldade fica clara primeiro no uso da metalinguagem. Mesmo se tratando de algo que Pânico sempre fez tão bem – mesmo no quinto, que apontou o dedo para a toxicidade de parte dos fãs – esse quesito deixa a desejar no sexto capítulo. Nos melhores casos, parece colocada meramente porque a saga exige. Nos piores, se torna invasiva ao ponto de praticamente ditar como o público deve absorver e interpretar o que está acontecendo.

Os problemas continuam no tratamento artificial e, por vezes, apressado dos dramas dos personagens. É claro que uma certa dose de breguice sempre esteve presente no DNA de Pânico, mas ela nunca apareceu como obstáculo para a conexão com os protagonistas. Por sorte, o filme conta com um elenco carismático capaz de garantir a empatia do público mesmo diante de um texto fraco.

A essa altura, rasgar elogios a Jenna Ortega é como chover no molhado, mas a atriz serve como um dos fios condutores de Pânico VI ao receber mais espaço do que no longa anterior. Não é exagero dizer que Tara é a alma do grupo protagonista e promove dinâmicas que tornam o time cativante. É o caso da superproteção da irmã Sam (Melissa Barrera) e o desenvolvimento da complicada relação com Chad (Mason Gooding). Apenas Mindy (Jasmin Savoy Brown) dispensa o empurrãozinho por já contar com um carisma próprio de sucessora espiritual de Randy Meeks como a nerd cinéfila.

O quarteto tem reforços mais do que bem-vindos em velhos conhecidos e novos nomes. Entre os retornos o grande destaque vai Hayden Panettiere, que ganha a chance de interpretar uma versão mais experiente de Kirby Reed. De volta após mais de uma década, ela não perde de vista o carisma que tornou a personagem tão amada em Pânico 4 (2011).

Do lado dos novatos, é quase impossível entrar em detalhes sem esbarrar em spoilers, mas basta dizer que a adição de Dermot Mulroney, Samara Weaving, Tony Revolori e Liana Liberato engrandecem o filme ao honrar algumas das raízes mais fundamentais da franquia, que vão da comédia às ameaças.

Maior, melhor e mais sangrento

Além do elenco, quem merece palmas são os diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, que chegam muito mais seguros e à vontade após o sucesso do quinto Pânico. Sem as limitações de filmar no meio de uma pandemia e munidos de liberdade para usar a própria assinatura, os cineastas mostram a que vieram com uma condução competente no quesito terror.

A famosa regra de que uma continuação deve ser “maior, melhor e mais sangrenta” que o filme anterior não garante aumento na qualidade do produto final. Porém, Pânico VI oferece um salto em relação a Pânico em partes por obedecer essa lógica, aumentar o escopo da história e tratar cada ataque com a devida atenção.

E veja bem, esse elogio não se deve ao fato de as mortes serem mais gráficas e sangrentas que em capítulos anteriores. Mas sim porque a direção alimenta o suspense das perseguições e a imprevisibilidade de cada ataque. Ghostface se torna uma figura sinistra não por utilizar armas de fogo ou pela forma chocante que mata as vítimas, mas pela forma como encurrala seus alvos e se diverte com o sofrimento.

Essa atmosfera de tensão acompanha também o andamento da trama, que é habilidosa em manter o espectador tentando adivinhar a identidade do assassino. Ao contrário do longa anterior, a entrega das pistas é mais sutil e a revelação é tão surpreendente quanto satisfatória. Especialmente porque as reviravoltas não param e boa parte delas chega de forma realmente inesperada.

Em seus melhores momentos, a direção é capaz até mesmo de evitar armadilhas deixadas pelo roteiro. É o caso da participação de Gale Weathers, a única protagonista do “velho testamento” de Pânico a dar as caras. Se o texto a traz de volta quase por obrigação e de forma até forçada, a dupla aproveita o talento de Courtney Cox para um dos momentos mais aflitivos da produção.

Por outro lado, não é como se a condução de Bettinelli-Olpin e Gillett fosse infalível. A dupla não se sai tão bem no drama, que ganha mais espaço, mas não necessariamente de qualidade, e também pela falta de inspiração em cenas inteiras que parecem estar presentes apenas para atender alguma expectativa dos fãs da franquia. Além de provocar comparações com os filmes antigos, essas sequências demonstram o quanto a produção se baseia nas convenções que finge desafiar.

Com isso, é fato que Pânico VI está longe de ser tão esperto quanto acredita. Porém, a franqueza em não ter a pretensão de reinventar a roda garante que essas derrapadas chamem menos atenção do que os pontos altos da produção. Fonte de tensão genuína e cheio de reverência aos filmes que tornaram essa franquia grandiosa, o novo lançamento não chega a se tornar uma obra de arte bruta, mas amontoa os próprios clichês de forma apaixonada e divertida.

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