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Os Fabelmans | Crítica
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Os Fabelmans | Crítica

Steven Spielberg revisita os encantos e as tristezas da vida em família em uma aula de cinema

Gabriel Avila
Gabriel Avila
12.jan.23 às 12h47
Atualizado há cerca de 2 anos
Os Fabelmans | Crítica

Responsável por grandes clássicos do cinema, Steven Spielberg tem crédito o suficiente para contar a história que quiser – basta lembrar que ele foi da celebração nerd Jogador Nº1 (2018) ao remake de um musical clássico Amor, Sublime Amor (2021) em apenas dois filmes. E dessa vez, o cineasta decidiu voltar ao passado para narrar a própria jornada em Os Fabelmans, uma aula de cinema em forma de semi-autobiografia.

No novo projeto, o diretor parte das próprias memórias para contar uma tocante história de amadurecimento em meio aos encantos e desgostos da vida em família. Para poder voltar ao passado com liberdade criativa, ele se inspira nos Spielbergs da vida real para criar os Fabelmans, e em si próprio para Sammy, o protagonista que descobre logo cedo o amor pelo cinema.

Os Fabelmans encanta por encontrar equilíbrio entre seus dois enredos principais. O roteiro, escrito por Spielberg com o velho parceiro Tony Kushner (Lincoln), une os dramas familiares dos Fabelmans e a formação de Sammy como cineasta em uma relação de causa e consequência que torna impossível separar uma coisa da outra.

Porém, esse equilíbrio nada significaria caso as histórias não fossem interessantes o suficiente. Sem a necessidade de se ater apenas aos fatos, Steven convida o público a experimentar o dia a dia de sua família em um retrato sóbrio. O diretor recusa a tentação da nostalgia de um passado idealizado, assim como evita cair de cabeça na melancolia – um caminho até esperado, considerando quão aberto ele sempre foi sobre a crise no lar dos Spielbergs.

Com uma matéria-prima tão delicada, Os Fabelmans encanta ao caminhar por momentos de alegria extrema, dor cortante e tudo o que há pelo meio. Os problemas evoluem de forma natural e se tornam grandiosos graças a uma construção eficaz em fazer com que o público se afeiçoe a cada personagem, e entenda os motivos por trás de cada decisão. E faz tudo isso sem o menor interesse em apontar mocinhos ou vilões, uma saída fácil que poderia tornar o filme raso e genérico.

Essa construção deve muito ao afiado elenco. Centro do núcleo familiar como a mãe e o pai dos Fabelmans, Michelle Williams e Paul Dano impressionam com performances singelas, que se fazem grandiosas à própria maneira. Incorporando os traços principais dos dois – a mãe artista, o pai cientista –, a dupla traz uma dinâmica que se destaca e ao mesmo tempo cria a estrutura necessária para que o resto do elenco brilhe.

Quando entra em cena como a versão mais velha de Sammy, Gabriel Labelle justifica a escolha para representar Spielberg. O jovem domina o filme de forma sutil, com uma composição natural que se agiganta nos momentos em que é necessário. Elogios que servem também a atores como Judd Hirsch, David Lynch e a jovem Julia Butters, que brilham no pouco tempo de tela que lhes é dedicado.

Minha vida dava um filme - O filme

O outro lado da moeda de Os Fabelmans é a investigação de como um dos maiores nomes de Hollywood teve contato, se apaixonou e passou a trabalhar com cinema. Nesse ponto, Steven Spielberg reúne suas influências e experiências para ministrar uma verdadeira aula prática de cinema.

De forma quase didática, ele destaca a importância de vários aspectos técnicos da sétima arte, incluindo montagem, som, trilha sonora, storyboard e mais, enquanto relembra a própria experiência em descobrir tudo isso. Um aprendizado que começa com a forte imagem do pequeno Sammy literalmente colocando o cinema na palma das mãos para projetar seu primeiro filme caseiro.

Mateo Zoryan como o pequeno Sammy Fabelman em Os Fabelmans de Steven Spielberg Sammy Fabelman, a versão fictícia de Steven Spielberg, projeta um filme caseiro nas mãos

Essa camada ganha profundidade conforme o filme avança e a metalinguagem fala mais alto. Em Os Fabelmans, Spielberg se mune da experiência adquirida em mais de 60 anos de carreira para colocar cada uma dessas ferramentas em ação. A forma encontrada é usar a linguagem do cinema para transformar momentos cotidianos comuns em um verdadeiro espetáculo.

E a produção não se contenta em usar ao máximo as possibilidades do audiovisual em um filme sobre a descoberta pelo amor ao cinema. Ela vai além e faz tudo isso em meio a um dos retratos mais críveis da complexa dinâmica familiar. É assim que o longa se torna caloroso, engraçado, triste e até doloroso, utilizando o audiovisual para mostrar o que não se pode ser traduzido em palavras.

Os Fabelmans e o convite de Spielberg

Chega a ser impressionante, mas não surpreendente, que Steven Spielberg transforme um filme sobre a própria juventude em uma carta de amor ao cinema norte-americano. Se o roteiro abandona qualquer sutileza na hora de defender a utilidade da arte, o diretor materializa essa reverência com diferentes homenagens à bagagem que lhe empurrou na direção da carreira.

São tributos singelos que fazem a alegria de cinéfilos mais experientes, mas não se tornam proibitivos para quem está chegando agora. Quando mostra cenas de outros filmes ou apresenta personalidades de Hollywood sem parar para explicar do que se trata, Spielberg faz um convite para que o público se aventure no mundo do cinema.

Esse é o chamado que encerra a aula prática de cinema proposta em Os Fabelmans. Devoto do cinema, Spielberg finaliza o belo drama sobre as próprias memórias com uma convocação para que os sonhadores e amantes da arte se juntem a ele na realização desse sonho universal. Um presente daquele garoto que tomou o cinema na palma das mãos e resolveu passar esse tesouro adiante.

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