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Anya Taylor-Joy e Ralph Fiennes dominam divertido suspense que ri da prepotência e excentricidade da elite

Arthur Eloi
Arthur Eloi
20.jan.23 às 18h03
Atualizado há mais de 2 anos
O Menu | Crítica
O Menu/Divulgação

Nos últimos anos, o cinema colocou os ricos na mira, e o horror é um dos poucos gêneros capazes de mostrar tanto a crueldade das elites, quanto a catarse de lhes dar uma boa rasteira. Filmes como Parasita, Casamento Sangrento, O Poço e muitos outros exploraram a brutalidade da desigualdade, e agora O Menu surge para rir da excentricidade do 1%.

A comédia de terror de Mark Mylod (Quem é Morto Sempre Aparece) reúne um grupo de endinheirados em uma ilha isolada, para prestigiar um verdadeiro espetáculo de culinária. Com entradas caríssimas, um jantar temático pelo chef Slowik (Ralph Fiennes) ganha ares macabros quando o conceito de cada prato envolve atos de violência e a revelação de podres de todos os convidados.

No meio disso tudo, Margot (Anya Taylor-Joy) se vê deslocada ao ter sido levada a contragosto por Tyler (Nicholas Hoult), seu parceiro obcecado pela vida e obra de Slowik. Sem medo de questionar e se recusando a participar da performance da noite, ela logo ganha a curiosidade do chef, que deixa claro que planejou um último jantar sanguinário.

O Menu soa inventivo mesmo com uma premissa que não é lá muito original. O grande acerto é nunca expandir além do necessário, mantendo a trama desenrolando em poucas ambientações, como a sala de jantar e a cozinha, que ocupam mais de 80% da duração do filme.

A partir disso, o longa desenvolve bem um clima de suspense, que convida o espectador a resolver as motivações do chef quase como se fosse um mistério de Agatha Christie. Ajuda que todos os personagens sejam altamente desprezíveis, e suas curtas interações demonstram prepotência e falta de empatia ou noção. Nesse caso, fica até difícil não torcer pelo plano de Slowik - o que é exatamente o que o filme se propõe a fazer.

O Menu é inteiramente povoado por ricos esnobes

Não é coincidência que tudo seja conduzido pelos olhos de Margot, a única que não se encaixa com os demais e, assim como o chef e os funcionários da cozinha, é “gente como a gente”, mais uma integrante comum da classe trabalhadora que estava no lugar errado na hora errada.

O Menu assume esse conflito de classes como sua força-motriz, criando caricaturas dos ricos e dando motivações palpáveis para os personagens trabalhadores, apesar de suas intenções cruéis. O resultado é um suspense empolgante em que cada prato traz a antecipação de uma armadilha de Jogos Mortais. Você até pode lamentar o destino dessas pessoas, mas sabe que ninguém é flor que se cheire.

Com uma trama simples, poucas peças em jogo e um ambiente de espaço reduzido, o elenco sustenta tudo nas costas. A dinâmica entre Taylor-Joy e Fiennes é a maior força do longa, com efeito quase hipnótico em todas as interações.

Em paralelo, Nicholas Hoult acerta em cheio ao retratar Tyler como um fanboy pedante, grosseiro e irritante, instantaneamente criando um vilão que tanto Margot quanto o público podem detestar juntos. Elsa (Hong Chau), a maître que passa os recados do chef e serve os pratos aos convidados, é outro destaque ao dominar todo momento em tela com passivo-agressividade e ameaças veladas em frases enigmáticas.

Porém, o suspense que dá vida ao filme também é o que o impede de alçar a grandeza. Sim, o longa pega fôlego, prende o espectador e segura até o final, mas parece que nunca sai da segunda marcha. Muito disso pelo fato de que os conceitos por trás dos pratos não são exatamente inventivos, e que não é muito desafiador justificar a presença de cada convidado no jantar.

Um desfecho morno e um pouco anticlimático também não ajuda a combater a sensação de que tudo é só decente, mas às vezes isso é tudo que um filme precisa ser. Na contramão dos ambiciosos pratos que serve, O Menu parece bastante confortável em servir um arroz-e-feijão bem feito: sem muitos segredos, sem muita ousadia, mas bastante saboroso e satisfatório.

O Menu já está disponível no catálogo do Star+

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