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M3GAN | Crítica
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M3GAN | Crítica

Divertido e absurdo, grande trunfo da comédia de horror é estabelecer um novo ícone do cinema

Arthur Eloi
Arthur Eloi
19.jan.23 às 09h00
Atualizado há cerca de 2 anos
M3GAN | Crítica
M3GAN/Divulgação

Se algo merece ser resgatado dos escombros do ano turbulento que foi 2022, é a tendência de ótimos filmes de terror originais que surgem do nada, chocam o público e conquistam bom desempenho na bilheteria.

Após títulos como Sorria e Terrifier 2, os estúdios começaram a perceber o potencial de investir alguns trocados na produção de gênero e dar liberdade para que os cineastas surtem. O resultado é uma série de produções capazes de fazer bonito com crítica e público, mesmo sem grandes astros ou franquias estabelecidas.

A  aguardada chegada de M3GAN ao Brasil no início do novo ano é indicativo que o horror não deve perder o fôlego em 2023 - mesmo em um filme que troca a tensão pela bizarrice.

No longa, a garotinha Cady (Violet McGraw) perde os pais em um acidente de carro, e se vê obrigada a morar com a tia, Gemma (Allison Williams) - uma engenheira de brinquedos meio reclusa.

Na tentativa de lidar com o desafio da maternidade repentina, e ainda se dar bem no trabalho, Gemma apresenta à garota uma nova invenção: a robô M3GAN, um andróide pensado para ser o melhor amigo de crianças, ao mesmo tempo que ajuda os pais com ensinamentos importantes. A diretriz da robô, porém, é se aperfeiçoar e proteger a garota a qualquer custo, e essa combinação eventualmente se prova fatal.

O horror da estranheza

M3GAN é tipo uma combinação bizarra entre Chucky e RoboCop

M3GAN é um filme de terror, mas não espere um banho de sangue ou sustos de pular da cadeira. Sim, há um pouco de ambos os elementos, mas o foco da produção é divertir o espectador através de suas estranhezas.

O longa abraça a galhofa, e é repleto de piadas ácidas desde os primeiros minutos, seja cutucando a insensibilidade da publicidade para crianças, ou a falta de ética da indústria de tecnologia. Tudo bem rir disso, das falas da robô, ou do quão inusitado tudo é. Essa é a ideia.

O sucesso se dá graças ao texto de Akela Cooper, que rapidamente se estabeleceu como uma das roteiristas mais interessantes do gênero por seu trabalho em Maligno (2021). O filme que escreveu para James Wan ficou conhecido pela sequência de absurdos, tom brega e por criar um monstro bastante memorável.

Aqui, Cooper repete a fórmula de sucesso - inclusive, mais uma vez com a colaboração de Wan no roteiro -, só que em um projeto que incorpora muito mais de seu humor sarcástico. Isso é especialmente visível na própria M3GAN, o grande destaque do filme.

Com voz metálica e sacadinhas secas, quase como uma mini-GlaDOS de Portal, a andróide é uma fonte constante de bizarrice e diversão. Ela comanda todo momento que está em tela. Seja pelo olhar frio e medonho, ou então por sua personalidade atrevida, sempre entrega algo imprevisível e divertido.

Ícone instantâneo

Com personalidade de adolescente malcriada, M3GAN é a parte mais memorável do filme

Pelo visual desconfortável e personalidade de adolescente malcriada, M3GAN é memorável ao ponto de já ser considerada uma nova ícone do cinema de horror. O status é merecido pelo carisma, e não há dúvidas de que sua figura será muito bem explorada em continuações, mas a falta de violência faz falta para realmente colocá-la no patamar de um Chucky ou Annabelle da vida.

Há momentos em que a andróide mostra sua força, e parte para cima de possíveis ameaças para a vida de Cady. Em um dos destaques, ela arranca a orelha de um garoto, o persegue como se fosse um animal raivoso, e o derruba na frente de um carro em movimento de forma que deixaria Esther, de A Órfã, bastante orgulhosa.

Infelizmente, esses momentos são espaçados demais para a consagrar como uma ameaça de peso. Esse talvez seja o maior calcanhar de aquiles do longa. O horror é bastante flexível, e a antagonista é macabra o bastante para se encaixar perfeitamente no gênero, mas o filme com certeza se beneficiaria de um tiquinho a mais de agressividade, até para estabelecer o poder de M3GAN.

Muito disso se dá pela baixa classificação indicativa, já que a produção é para maiores de 14 anos. Akela Cooper já afirmou que o longa seria mais sangrento antes, mas foi capado durante a edição para manter tudo mais “família”. Até rolaram refilmagens para dar um grau na tensão, mas o que pode ser visto nos cinemas ainda não é lá muito assustador ou angustiante. Eventualmente, uma versão sem cortes será lançada, segundo a roteirista, mas o que foi apresentado até agora já dá confiança de que a robô só deve crescer - e matar mais - no futuro.

Mesmo sem a matança, M3GAN é entretenimento puro. A direção de Gerard Johnstone (Houseband) não traz nada de especial, mas é funcional o bastante para criar a aura de uma história fofa de amadurecimento, como um típico filme infantil - apenas desvirtua isso com muita acidez e momentos absurdos.

Os puristas mais sanguinários talvez se incomodem, mas quem aprecia uma boa comédia de horror - como A Morte Te Dá Parabéns, ou mesmo as piadinhas de Chucky na saga Brinquedo Assassino - com certeza sairá com um sorriso no rosto.

Entre Maligno, M3GAN e escalada para escrever A Freira 2, Akela Cooper já estabelece como uma das vozes mais divertidas do horror moderno. Seu trabalho mais recente ainda não é o seu melhor, mas é tão carismático e apresenta uma vilã tão memorável que já nasce como um queridinho cult.

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