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I Did Not Buy This Ticket é um jogo surreal em todos os sentidos | Review
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I Did Not Buy This Ticket é um jogo surreal em todos os sentidos | Review

Visual novel brasileira entrega uma experiência profunda, aterrorizante e única, que mistura terror psicológico e surrealismo de forma impecável

Tayná Garcia
Tayná Garcia
13.abr.23 às 10h30
Atualizado há quase 2 anos
I Did Not Buy This Ticket é um jogo surreal em todos os sentidos | Review
I Did Not Buy This Ticket/Time Galleon/Divulgação

Todos nós já lidamos com aquela voz interior que, repentinamente, parece nos sabotar com pensamentos intrusivos, sejam dúvidas sobre si mesmo ou questionamentos sobre o passado. Com ar catártico, I Did Not Buy This Ticket é um jogo brasileiro ao estilo visual novel que explora a ideia de como seria uma materialização dessa voz inquietante.

Dentro deste contexto, o título mistura terror psicológico e elementos surrealistas de forma inteligente, apresentando uma experiência profunda, aterrorizante e totalmente única – que, acredite, é muito difícil de ser esquecida.

Bilhete (in)desejado

A história de I Did Not Buy This Ticket acompanha Candelária, uma jovem que cultiva o hobby excêntrico de fazer uma grana extra por chorar em velórios, fingindo que conhecia o finado. Assim, ela faz inúmeras viagens de ônibus entre cidades para atender os clientes.

Um dia, a protagonista chega na rodoviária e percebe que está com um bilhete de uma viagem que não comprou. Ao entrar no ônibus, ela se vê em uma jornada que distorce o que é realidade e fantasia, forçando-a a enfrentar seus maiores traumas.

O destino (e as paradas) da misteriosa viagem de Candelária dependem de você, uma vez que a trama não é linear e conta com vários desfechos. São suas escolhas que ditam o ritmo, a ordem e o desenrolar da narrativa, então tenha cuidado! Há muitos mistérios que envolvem principalmente o passado da personagem.

O jogo também brinca com a ideia de "tirar" o controle do jogador, como ter opções repetidas em certos momentos que não são mera coincidência (Imagem: I Did Not Buy This Ticket/Captura de tela)

Com uma pegada similar ao clássico cult Milk inside a bag of milk inside a bag of milk, o jogo é uma experiência psicológica que opta pela simplicidade para gerar uma atmosfera inquietante – e acerta em cheio. Mas I Did Not Buy This Ticket torna-se realmente único pela maneira como seus elementos conversam e se encaixam.

O surrealismo está enraizado em cada característica do game, que brinca com elementos bizarros para fazer você mergulhar na psique da protagonista. Tudo isso é feito no ônibus que, de forma genial, é um cenário simples e complexo ao mesmo tempo, que proporciona cenas cheias de emoções e reviravoltas.

Muitos destes momentos são diálogos bem construídos com personagens secundários, que cutucam o passado de Candelária e apresentam aparências… bem, peculiares. O cobrador, por exemplo, casualmente mostra que tem um olho dentro da boca para ficar de olho nos passageiros.

Nunca se sabe o que você encontrará a bordo do ônibus. Quem sabe não tem um passageiro clandestino embaixo do banco? (Imagem: I Did Not Buy This Ticket/Captura de tela)

Com isso, a ambientação apresenta um tom de suspense e desconforto a todo momento, intensificada pela trilha sonora que preza o silêncio e foca em efeitos sonoros que acompanham os acontecimentos da história, como a respiração aliviada da protagonista ou um toque do celular.

Muito da atmosfera também se deve à estética de I Did Not Buy This Ticket que, para combinar com a narrativa, explora um estilo sombrio que contrasta com cores vivas e fortes para destacar os elementos surrealistas. O resultado é chamativo e deslumbrante, estabelecendo um tom de desassossego a cada cena – conversando diretamente com o que Candelária está sentindo.

De forma criativa, a arte ilustrada pela artista Lírio Ninotchka usa minimalismo e cores para destacar os sentimentos (e toda a confusão) da protagonista (Imagem: I Did Not Buy This Ticket/Captura de tela)

Apesar de ter uma duração curta, I Did Not Buy This Ticket ainda impressiona por encontrar espaço para abordar temas delicados como luto, morte e perdão, graças à construção cuidadosa do roteiro de Tiago Rech, conhecido por No Place for Bravery e Dodgeball Academia. Assim, a história consegue oferecer sensibilidade no meio de assuntos pesados e elementos de terror.

Parada obrigatória para fãs de terror

Sendo o título de estreia da desenvolvedora e publicadora brasileira Time Galleon, I Did Not Buy This Ticket é uma experiência única, profunda e horripilante. No melhor sentido possível!

É um jogo que aproveita ao máximo as características de visual novel para construir uma atmosfera impecável de terror psicológico, mostrando como o gênero do horror pode (e deve!) ter mais camadas e ir além do "jumpscare". Além de ter uma história densa e relativamente complexa, que conversa diretamente com seus elementos interativos.

Se você é fã de terror, faça um favor a si mesmo e compre um bilhete para I Did Not Buy This Ticket. Este ônibus definitivamente é uma parada obrigatória.


Esta review foi feita com uma cópia cedida pela Time Galleon.

I Did Not Buy This Ticket está disponível para PC.

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