[Aviso: spoilers abaixo!]
Embora não tenha sido bombástico como muitos esperavam, o primeiro episódio da última temporada de Game of Thrones, Winterfell, funcionou ao resolver boa parte dos reencontros e apresentações pendentes, promover avanços na trama e preparar o terreno para o que está por vir. Parece pouco para a abertura da última temporada de Game of Thrones, mas convenhamos: era tarefa impossível satisfazer todas as expectativas dos milhões de fãs que aguardaram ansiosamente pelo retorno da série durante quase dois anos. Sempre comprometidos com sua visão, os showrunners David Benioff e D. B. Weiss não se furtaram a adotar uma abordagem pragmática em termos de storytelling, mesmo tendo isso resultado em um episódio que possivelmente dividirá opiniões.
O roteiro de Dave Hill procurou a todo instante explorar um aspecto tolkieniano da obra de George R.R. Martin: em meio a um conflito de proporções gigantescas, envolvendo monarcas, guerreiros e seres sobrenaturais, é o drama pessoal que move a narrativa. Por exemplo, a chegada de Jon (Kit Harington) e Daenerys (Emilia Clarke) no Norte, com a longa comitiva, o poderoso exército e os dois dragões, foi um espetáculo e representou uma conquista na luta contra os Caminhantes Brancos. Todavia, a consequência imediata foi apenas intensificar o racha entre Jon, sua família e seus compatriotas, uma vez que nem Sansa (Sophie Turner) nem os lordes aceitaram a estrangeira, colocando o herói em um dilema entre o dever e a causa.
Por sinal, o tão aguardado momento em que ele finalmente montou em um dos “filhos” de Daenerys foi muito mais do que um passo importante rumo à batalha final — a dança dos dragões selou de vez o relacionamento do novo casal, desde o clima de desafio no início até o pouso em um lugar afastado, onde eles poderiam “ficar por mil anos”. Não à toa, o vôo foi testemunhado por Tyrion (Peter Dinklage), sor Davos (Liam Cunningham) e lorde Varys (Conleth Hill) pouco depois de o trio ter discutido a respeito de um estratégico matrimônio entre “uma mulher justa e um homem honrado”. Resta saber qual será a reação dos demais ao envolvimento dos dois e o quão acertada foi a observação da Aranha de que “nada dura”.
Outro exemplo de questões íntimas sobrepondo-se ao quadro geral, conduzindo assim os eventos, foi a sequência em que Samwell (John Bradley) revelou a Jon que ele é o legítimo herdeiro do Trono de Ferro. Ainda sob o impacto da notícia de que seu pai e irmão haviam sido executados, o ex-aprendiz de meistre astutamente iniciou seu argumento perguntando se, nesse caso, o amigo teria tomado a mesma decisão que a rainha; e encerrou com um paralelo, indagando se Daenerys, a exemplo de Jon, também renunciaria à coroa para proteger seu povo. Igualmente movido à emoção, o rei do Norte reagiu rejeitando a noção de que seu “pai” teria mentido, referindo-se a Ned (Sean Bean), o homem que o criou como filho bastardo. A informação ameaça estremecer a relação do casal — afinal, conhecendo a honestidade de Jon, é praticamente certo que ele contará a verdade à mãe de dragões.
O perfil dos personagens também foi muito bem utilizado como recurso expositivo na forja de Winterfell. Em vez de simplesmente mostrar a variedade de armas que podem ser construídas com vidro de dragão, o local foi cenário de dois reencontros importantes para Arya (Maisie Williams): sua reconciliação, cheia de uma divertida animosidade, com Sandor Clegane (Rory McCann), agora dono de um machado para caçar Outros, e seu quase flerte com Gendry (Joe Dempsie). Obviamente, a pergunta que fica é: do que se trata aquele projeto que a garota Stark entregou ao ferreiro?
Mas, sem dúvida, o principal acontecimento do episódio ocorreu em Última Lareira — cuja importância, aliás, já foi sugerida na nova abertura, quando o castelo da família Umber apareceu bem no caminho da onda de gelo vinda da Muralha. Lá, Tormund (Kristofer Hivju) e sor Beric (Richard Dormer) se reuniram com Edd Doloroso (Ben Crompton) e a Patrulha da Noite; juntos, descobriram uma macabra mensagem do Rei da Noite: o cadáver do pequeno lorde Ned e pedaços de outros corpos, formando uma espiral. O misterioso símbolo já havia sido visto anteriormente na série: desenhado por uma porção de cabeças de cavalo encontradas pelos selvagens (S03E03); composto de rochas, durante o ritual em que o primeiro Caminhante Branco é criado (S06E05); e entalhado na caverna de obsidiana, em Pedra do Dragão (S07E04). Qual será seu significado?
O cliffhanger ficou por conta da chegada de Jaime (Nikolaj Coster-Waldau) a Winterfell, logo deparando-se com Bran, que aparentemente aguardava o “velho amigo”, conforme havia mencionado a Sam. Embora o olhar entre eles tenha sido sugestivo, considerando seu fatídico encontro anterior, é difícil imaginar que o jovem Stark guarde algum tipo de rancor — desde que se tornou o Corvo de Três Olhos, ele vem se mostrando cada vez mais frio e desinteressado de assuntos pessoais. O mais provável é que o Regicida ainda tenha um papel importante na história e Bran queira se assegurar de que ele irá desempenhá-lo. Quem sabe assassinar outro rei (ou rainha)...
Recheado de informações, o episódio trouxe outras duas questões que valem ser mencionadas. A besta usada por Tyrion para matar seu pai, que Qyburn (Anton Lesser) entregou a Bronn (Jerome Flynn), talvez seja um indício de que o anão realmente será vítima da “justiça poética”, já que, até agora, o arco dramático do mercenário não parece envolver qualquer tipo de redenção. E o modo como Cersei (Lena Headey) reagiu à fala de Euron (Pilou Asbæk) a respeito de “pôr um príncipe em sua barriga”, somado ao fato de ela beber vinho longe da vista de seus irmãos, parece sugerir que a gravidez da rainha não passe de mais uma mentira estratégica.
Que venham os próximos cinco!