Desenvolvido pela Arkane Studios, Deathloop é um shooter que coloca o jogador preso em um loop com uma missão quase impossível — e consegue fazer com que essa ideia seja extremamente divertida na prática.
O protagonista é Colt, um homem que acorda com amnésia em uma ilha chamada Blackreef e logo percebe que está preso em um loop que dura um dia. Para quebrá-lo e voltar à realidade, é preciso eliminar oito pessoas ligadas aos mistérios do local, apelidadas de Visionários, dentro das 24 horas.
Se o tempo esgotar ou Colt morrer três vezes no mesmo dia, o ciclo será reiniciado e voltará ao início daquela mesma manhã. E quantas vezes ele terá que viver o mesmo dia depende totalmente de você.
Ouroboros com apetrechos
Blackreef é dividida em quatro distritos que podem ser acessados em diferentes períodos de tempo: manhã, meio-dia, tarde e noite. A ideia é explorar os locais para encontrar a melhor maneira de matar os oito Visionários em um único dia.
E os distritos realmente mudam de acordo com o tempo: os inimigos não aparecem nos mesmos locais, arquivos e missões se tornam acessíveis (ou inacessíveis) e até o visual dos cenários sofre pequenas ou grandes alterações.
Os NPCs têm uma agenda e, por sorte (ou não), Colt tem todo o tempo que quiser para reviver esse mesmo dia e desvendar tudo. É possível explorar o que quiser, quando quiser e na ordem que quiser.

Mas o jogo não te deixa completamente na mão. Existem mecânicas em Deathloop que oferecem vantagens para tornar o loop menos assustador.
Há uma maneira de infundir itens para evitar que Colt os perca entre os ciclos. Derrotar Visionários concede Placas, poderes sobrenaturais que vão de invisibilidade a dash rápido. Espólios de inimigos geram Berloques, aprimoramentos físicos que aumentam força, vida e coisas do tipo. De forma inteligente, o jogo oferece sistemas engenhosos que, se usados com cuidado e sabedoria, tornam a experiência mais fácil e divertida, transformando Blackreef em um playground.
As missões principais são ligadas à busca pelos Visionários e às habilidades de Colt, e podem ser acionadas para indicar o que deve ser feito em seguida. Mas há momentos em que o game não aponta o caminho e é preciso resolver quebra-cabeças por conta própria.
Além disso, por vezes existe mais de uma maneira para atingir um objetivo, e nem sempre o jogo vai alertá-lo. É preciso ser curioso para descobrir estes segredos, uma vez que há uma boa liberdade no gameplay para isso.
Há diversas atividades opcionais escondidas em Blackreef e elas são um completo mistério: é preciso ter todo o trabalho de encontrá-las e pensar em como resolvê-las. Elas podem ser curtas ou longas e, muitas vezes, esbanjam humor e maluquice, o que adiciona uma camada de profundidade ao universo, oferecendo um conteúdo diferente e mais descontraído fora da história principal.

Toda a experiência é auxiliada pela interface, que esbanja estilo e praticidade. As informações encontradas por Colt ficam disponíveis no menu, o que pode parecer um detalhe pequeno, mas é extremamente importante para um jogo em que “conhecimento é poder”.
Com tanta coisa acontecendo em Blackreef ao mesmo tempo, o jogador sempre está correndo atrás de objetivos diferentes e usando as informações que já sabe a seu favor, o que contorna a sensação de repetitividade e faz com que Deathloop não seja um jogo puramente de tentativas. A cada ciclo algo novo é descoberto.

No entanto, há um problema em relação ao salvamento. O progresso é salvo automaticamente, mas só quando Colt deixa um distrito. Então, se o jogo fechar, acontecer uma queda de luz ou um crash por exemplo, todo o progresso feito no local será perdido.
A jogabilidade é o segredo
Apesar de ter uma história instigante, com mistérios e personagens excêntricos, Deathloop é um daqueles jogos que comprovam um velho ditado: “o que vale é a jornada, e não o destino”. E isso é graças à jogabilidade, que é variada, frenética e imensamente divertida.
Deathloop é um FPS com uma movimentação fluida e ritmo acelerado, em que atos aparentemente banais como correr, pular e deslizar são muito prazerosos.
Colt usa armas de fogo e poderes sobrenaturais para lutar, e o jogador precisa montar builds (combinações de equipamentos) para determinadas situações. Por exemplo, terá momentos em que furtividade é o melhor caminho, então usar invisibilidade, arma de pregos e passos silenciosos é a chave. Mas também há momentos em que uma escopeta, dash rápido e porradaria dão melhor conta do recado.

Há tantas armas, poderes e aprimoramentos que faz com que exista muita liberdade para o jogador brincar com as mecânicas, testando várias combinações e deixando as situações de combate diferentes uma das outras.
É possível escolher entre abordagem furtiva ou confronto direto e isso não traz consequências no futuro, ao contrário de outros títulos da Arkane. E acredite: os dois estilos são bem diferentes, mas igualmente divertidos, então é difícil querer usar apenas um deles.
No entanto, a inteligência artificial dos inimigos é simples e até relativamente fraca. Eles sempre repetem os mesmos comportamentos e diálogos, esquecem rápido o jogador depois de avistá-lo, não ouvem companheiros sendo mortos nas proximidades e até ignoram sons de explosão.

Estilo em cada canto
Muito do combate é intensificado pela trilha sonora, que dita o ritmo do jogo o tempo inteiro com músicas que apresentam toques de jazz.
A exploração conta com uma trilha mais calma, que ficará agitada se uma luta começar subitamente, só para combinar com a freneticidade da porradaria. É algo que pode passar despercebido, mas diverte e incentiva quem está com as mãos no controle. Tudo isso contribui para um elemento presente em todo canto em Deathloop: estilo!
Da interface aos figurinos dos personagens, a estética do jogo é convidativa e segue uma linha de distopia com elementos retrô dos anos 60, com uma ambientação que reflete justamente essa ideia.
Os cenários são coloridos e destruídos ao mesmo tempo, contando com arcades barulhentos, máquinas excêntricas, computadores velhos e equipamentos abandonados por todo lado. Essa mistura é chamativa e funciona, tornando Blackreef em um lugar com estilo e personalidade.

Esse aspecto ainda é refletido no tom descontraído de Deathloop, que conta com bom humor nos diálogos — e muitas piadas saindo da boca de Colt.
Os mesmos elogios não podem ser dados à dublagem em português brasileiro, no entanto. Com atuações fracas do protagonista e dos Visionários, as vozes oscilam entre entonações ora forçadas demais, ora pouco inspiradas, o que prejudica um pouco a imersão.
Um loop viciante
O ciclo de Deathloop é contagiante. É aquele tipo de experiência em que dá vontade de fazer anotações, quebrar a cabeça com puzzles e pensar em estratégias até quando nem está jogando.
Com sistemas bem pensados, o jogo torna o loop, algo que afasta com facilidade muitos jogadores, em algo convidativo e a seu favor. Existem segredos e detalhes escondidos em todos os lugares de Blackreef e, antes mesmo de perceber, eu já estava iniciando mais um loop depois de finalizar a história por sentir que havia mais a ser descoberto por ali. E realmente havia!
Apesar de não ser o jogo mais complexo da Arkane, definitivamente é o mais diferente e descontraído do estúdio. Cair de cabeça nesse universo é uma experiência maluca, divertida e recompensadora, que torna Deathloop em uma excelente pedida para quem gosta de misturar boas risadas com mistérios, desafios e crises existenciais.
Deathloop será lançado para PC e PlayStation 5 no dia 14 de setembro, sendo exclusivo temporário do console da Sony. Este review foi feito com uma cópia cedida pela Bethesda.
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