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Cobra Kai - 5ª Temporada | Crítica
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Cobra Kai - 5ª Temporada | Crítica

Série se mantém deliciosamente cafona, mas flexiona os músculos com trama mais sombria e novas dinâmicas

Pedro Siqueira
Pedro Siqueira
09.set.22 às 16h43
Atualizado há mais de 1 ano
Cobra Kai - 5ª Temporada | Crítica

É bastante improvável que os espectadores de Cobra Kai esperem algo além de porradaria desenfreada em uma trama que te permite apenas desligar o cérebro ao longo dos 30 minutinhos de cada capítulo. Mas é justamente subvertendo essas expectativas que a série da Netflix chega com tudo ao quinto ano. Com novas dinâmicas e um tom mais sombrio, a nova leva de episódios vem como um golpe da garça bem no meio da cara e se firma como uma das melhores temporadas desde a estreia.

Não se engane, a série continua deliciosamente cafona. Os socos e pontapés permanecem, assim como o vai e vem rocambolesco de alianças e traições. Mas tudo vem temperado em uma trama mais madura, flexionando os músculos e apontando caminhos interessantes para o futuro.

Daniel LaRusso (Ralph Macchio) e Johnny Lawrence (William Zabka) brilham como pontas de lança do elenco. Os antes eternos rivais parecem ter deixado as diferenças de lado pra valer, movidos pela ameaça em comum de Terry Silver (Thomas Ian Griffith). O vilão aparece não só de volta ao dojo Cobra Kai, como comandando o lugar com punho de aço.

Macchio e Zabka protagonizam a dinâmica mais interessante da temporada, mas não pelo que se espera. Se nos acostumamos a ver Daniel sempre como o herói sábio, e Johnny o azarão trágico, os papéis são invertidos, trazendo um frescor muito bem-vindo ao drama adulto. O que torna uma pena que os dois tenham um tempo relativamente menor junto do que em anos anteriores.

Mesmo assim, não seria exagero afirmar que esta é a temporada mais sombria de Cobra Kai até agora, por dedicar atenção em mostrar como até o maior exemplo de retidão pode chegar ao ponto de ruptura. Daniel LaRusso aprende a duras penas que não se pode dar jeito em tudo, e que talvez as boas intenções só piorem o que já está rachado.

Em contrapartida, é um alívio ver Johnny Lawrence em total controle das rédeas da vida. Se antes o anti-herói emocionava pelo esforço quase sempre frustrado em ser um bom pai, um bom sensei e uma boa pessoa, agora ele finalmente se permite de fato a felicidade, largando mão do passado e buscando apenas ser o melhor Johnny que puder para aqueles que ama.

Para a alegria geral, Lawrence ainda protagoniza piadocas sobre como não foi feito para os novos tempos e coisas do tipo. Mas a série acerta ao destacar sua evolução. Se o Johnny dos quatro anos anteriores devolveria desaforos com os punhos ao som de um rock pesado, o de agora pode recorrer ao diálogo, oferecendo sabedoria a quem menos se espera.

A mudança também vem na forma de Chozen (Yuji Okumoto), agora também aliado de Daniel após quase matar o mocinho em Karatê Kid II (1986). O mestre das artes marciais rouba a cena e certamente vai fazer a festa dos fãs mais antigos nas interações com Johnny Lawrence.

Além do fan service, essa direção demonstra o quanto Cobra Kai ressignificou (ô palavrinha) o que tomávamos como sagrado da trilogia de filmes. Onde, em 1986, se imaginaria ver Chozen e Johnny Lawrence, inimigos mortais de Daniel-san, não só amigos, como ainda ajudando o protagonista?

O crescimento dos heróis é paralelo à subida de Terry Silver ao poder. Felizmente mais contido do que em Karatê Kid III (1989), Thomas Ian Griffith entrega uma interpretação poderosa, que transforma o outrora canastrão milionário dos anos 1980 na maior ameaça da série até agora.

O vilão torna-se ainda mais impactante se comparado ao John Kreese (Martin Kove) das temporadas passadas. Ainda que mantenha os elementos cartunescos, como as risadinhas de canto de boca e as cenas tomando uísque à beira da lareira, Silver extrapola a psicopatia do antecessor. E mete medo, de verdade.

É de Griffith que vêm os momentos de maior aflição da série, desde lutas muito intensas, até ser a causa da sensação de impotência que toma conta quando o líder do Cobra Kai leva a melhor contra os protagonistas. O que, no papel, poderia soar bidimensional e limitado (basta ver como o já citado Kreese não sai do canto praticamente desde o começo da série), ganha interessantes tons de cinza com a performance do astro. Talvez Griffith esteja motivado até a reparar a fama do inferior KK3, mostrando como as décadas só deixaram seu personagem ainda mais perigoso.

Se passamos mais da metade do texto focados nos dramas e conflitos do núcleo adulto de Cobra Kai, é o indicativo do que acontece com a turminha adolescente no novo ano. Miguel (Xolo Maridueña), Robby (Tanner Buchanan), Sam (Mary Mouser), Tory (Peyton List) e companhia continuam no mesmo lenga-lenga enfadonho de briguinhas por território e conflitos amorosos.

Não é nem que o roteiro não tente estabelecer alguma profundidade, já que pelo menos Miguel ganha uma historinha secundária em busca do próprio passado. Mas o resultado é tão desinteressante que você se pega torcendo voltar logo a Johnny, Daniel e os seus problemas de homem de meia-idade.

Até destaques que antes roubavam a cena, como o redimido Falcão (Jacob Bertrand) e o novato Kenny (Dallas Dupree Young), parecem presos em um loop de tramas que não vão pra frente.

Apesar disso, Cobra Kai segue cumprindo seu papel como uma diversão inconsequente com gostinho dos anos 1980 graças a sequências absurdas que encontram um jeito de funcionar. Mas nesta temporada, mais do que nunca, prova-se que as maiores surpresas realmente vêm de onde menos se espera. Fica a torcida para que os roteiristas sigam tomando mais riscos (ainda que controlados) nos próximos anos, porque do lado de cá da telinha, certamente há muitos bradando “sim, sensei!” a plenos pulmões com as empolgantes possibilidades abertas para o futuro.

Todas as temporadas de Cobra Kai estão disponíveis na Netflix.

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