O ano de 2021 está marcado na carreira de Zack Snyder, pois finalmente o seu tão querido e esperado Snyder Cut de Liga da Justiça chegou ao público. Pouco tempo depois, o seu mais novo filme, Army of the Dead – Invasão em Las Vegas, foi lançado pela Netflix.
Com duas grandes estreias tão próximas uma da outra, é de se esperar que os fãs de Snyder fiquem empolgados, mas também é possível que aconteça o inverso com aqueles menos adeptos à carreira do diretor. Com tantas revelações, entrevistas, anúncios e eventos, a imagem de Zack Snyder ficou saturada, fato que pode acarretar uma espécie de má vontade naqueles que se aventuram em seu novo longa.
O título mostra Las Vegas sendo infestada por zumbis, e isso acontece depois que um comboio transportando um zumbi originado na Área 51 sofre um acidente e o morto-vivo escapa. O governo dos Estados Unidos age rapidamente e isola a cidade, permitindo que quem tenha ficado para fora do lugar siga vivendo normalmente.
Então, somos apresentados a Scott, um ex-militar que recebe uma proposta milionária para "resgatar" o dinheiro em um cofre de um dos cassinos. Ele reúne um time especializado para o trabalho, mas existe um porém: eles têm apenas 32 horas para concluir o trabalho, porque o perímetro será bombardeado pelo exército para dar um fim nos mortos-vivos.

Para se divertir ao assistir Army of the Dead – Invasão em Las Vegas é preciso deixar de lado eventuais preconceitos e também ideias já formadas sobre a obra do cineasta. Isso porque, mesmo já tendo um filme de zumbi em sua carreira, Madrugada dos Mortos – remake do longa de 1978 de George A. Romero –, o seu novo trabalho tem pouca ligação com o título de 2004. Enquanto em Madrugada dos Mortos o foco está nas tentativas de sobreviver aos ataques dos zumbis, em Army of the Dead – Invasão em Las Vegas os monstros são mais uma dificuldade a ser superada para se chegar ao objetivo final: o dinheiro. Deste modo, o filme se aproxima mais de Guerra Mundial Z (2013), de Marc Forster, do que do longa do próprio Snyder.
O tom do filme é estabelecido durante os quinze minutos inicias, com cenas coloridas, sequências dinâmicas, uma versão dramática da música "Viva Las Vegas" e, como não poderia faltar em um filme de Zack Snyder, câmera lenta. A introdução nos mostra como começou a infestação de zumbis, uma decisão acertada pois já insere o espectador na trama e não se preocupa em fazer muitas explicações sobre a origem dos mortos-vivos durante o desenrolar da narrativa.
A apresentação dos personagens do grupo que entrará em Las Vegas é bem interessante e faz com que o espectador acabe se importando com boa parte deles, mas é justamente com os indivíduos que o roteiro começa a pecar. A inserção de tramas paralelas não acrescenta em nada na narrativa e elas ficam sem conexão com o resto da história, como quando uma das pessoas chamadas para participar do roubo é introduzida para, segundos depois, desistir de participar. Se Army of the Dead – Invasão em Las Vegas se atentasse a seguir apenas a trama principal, ele seria muito mais bem sucedido.
Com duas horas e meia de duração, o filme não se aprofunda realmente em nenhuma de suas tramas e utiliza diverso clichês já bastante conhecidos do gênero, então quando quer apresentar reviravoltas em sua narrativa, elas não surpreendem mais.
Um dos pontos altos do filme é seu elenco: além de Bautista e Purnell, Ana de la Reguera, Omari Hardwick, Matthias Schweighöfer, Nora Arnezeder, Tig Notaro e Raúl Castillo estão muito bem, afiados nas piadas e levam a sério os diálogos, por mais bregas que ele possam ser. Eles também fazem ótimas coreografias de lutas, sejam corporais ou de tiroteios. Uma pena, porém, que suas histórias não ganham profundidade, pois os personagens são realmente bons.

Zack Snyder tentou adicionar elementos de drama, aventura e comédia em um filme que não precisava ter todas essas diferentes camadas, então ele se perde e acaba não fincando o pé em nenhum dos gêneros, ficando em um limbo. No entanto, essa característica pode ser usada a seu favor, pois aqueles que conseguirem assistirem ao filme sem expectativas de ver um tipo ou outro, serão apresentados a uma obra diversa que, no final das contas, entretém.
Em Army of the Dead – Invasão em Las Vegas, Zack Snyder deixa de lado a estética escura e o realismo, duas características sempre presentes em seus trabalhos recentes. Agora, o cineasta parece ter feito as pazes com as cores e o lúdico, mesmo que ainda tenha muito o que explorar destes elementos. Com um final aberto, o cineasta deixa a brecha para um continuação e, quem sabe, o início de uma franquia que pode ser bastante frutífera daqui para frente.