Utopia | "O mundo da série é parecido com o real em alguns aspectos", afirma John Cusack

Utopia, nova série do Amazon Prime Video, é uma releitura da produção britânica de mesmo nome, lançada em 2013 pelo Channel 4. Gillian Flynn, autora dos livros Garota Exemplar e Objetos Cortantes (ambos lançados no Brasil pela Editora Intrínseca) foi quem encabeçou a produção do remake.

A trama acompanha um grupo de jovens, fãs de uma série de histórias em quadrinhos intitulada Distopia, que descobrem a continuação, Utopia, e suspeitam que o conteúdo mostrado na HQ é, na verdade, um anúncio do que acontecerá na vida real, como por exemplo, uma pandemia.

A produção conta com grandes nomes no elenco, como Rainn Wilson, mundialmente conhecido por viver Dwight em The Office, e John Cusack, em sua primeira empreitada em uma série de TV. A convite do Amazon Prime Video, o Nerdbunker participou de uma conversa com os astros para entender um pouco mais do universo construído por Utopia.

Personagens

Em Utopia, Wilson interpreta o Dr. Michael Stearns, um virologista que vive em um porão e tenta impedir que uma gripe letal descoberta por ele acabe causando uma pandemia. Portanto, ele é forçado a lidar com várias ameaças enquanto tenta achar uma cura para o vírus. Mesmo que a série seja baseada em uma produção já existente, o ator revelou que não utilizou o título anterior como inspiração:

Não assisti à versão inglesa, e ouvi dizer que este personagem não era realmente um cientista. Então, eu simplesmente não me preocupei em assistir, até porque eu não queria ser influenciado de forma alguma. Eu sabia que essa era uma trama totalmente nova que Gillian [Flynn] estava criando, e fiquei bastante empolgado por fazer parte do projeto.

Segundo Rainn Wilson, ele recebeu o roteiro e, incialmente, ficou um pouco cético quanto à produção. "Pensei que leria apenas o primeiro episódio, no máximo até o segundo. Quando eu fui perceber, já tinha lido o quinto, o sexto... E eu fiquei desesperado querendo saber o que acontecia no sétimo, oitavo! Liguei para Gillian implorando para descobrir o final!"

Fiquei realmente cativado pela série, achei o tom apresentado por ela realmente extraordinário. Foi emocionante ler os roteiros, cheguei a ficar com o coração acelerado! Eu amei o Dr. Michael Stearns como personagem, essa coisa de ser meio que um desconhecido, meio perdedor... E de repente: é empurrado para os holofotes e se vê preso em uma grande odisseia! Confesso que fiquei bastante empolgado para fazer parte disso.

Já John Cusack vive Dr. Kevin Christie, um especialista em biotecnologia que também é dono de uma grande empresa farmacêutica. Para ele, interpretar um personagem em uma série é bastante diferente de estrelar um filme. "Estou acostumado a viver alguém por cerca de duas horas em tela, agora são oito, nove horas. Muda muita coisa!".

Para essa estreia no mundo dos seriados, Cusack explica que a história e o desenvolvimento da narrativa foram cruciais:

Foi um sentimento dentro de mim, porque vi que a trama de Utopia, junto com os seus temas distópicos, me deixaram vidrado. Fiquei capturado, em um espécie de psicose e li até às 3h30 da manhã. O mundo da série é bem parecido com o real em alguns aspectos. Além disso, a escrita da narrativa de Utopia é bastante divertida, sofisticada, dramática e cômica. A história é repleta de reviravoltas, você nunca sabe muito bem para onde ela está indo, porque o que é apresentado no início, pode mudar tudo depois... Personagens voltam, enfim! Você percebe que tudo pode acontecer na série.

Ciência

É quase impossível assistir à Utopia e não traçar paralelos com o que vivemos no mundo real, como disse John Cusack, principalmente com a atual pandemia de COVID-19, afinal, a série retrata uma doença bastante perigosa e que pode afetar o mundo inteiro.

Rainn Wilson explica que se trata de uma coincidência, pois a produção acabou em setembro do ano passado, meses antes do coronavírus aparecer:

Ficamos chocados, é claro, porque tínhamos feito uma série sobre uma pandemia que estrearia no meio de uma pandemia. Mas em março, quando a doença realmente começou a se espalhar, a produção estava já em processo de edição.

Para o ator, agora é a hora de acreditar na ciência e dar o seu devido valor. "Eu interpreto um cientista, essa profissão que tem sido tão desafiada ultimamente... As pessoas dizem que tudo é uma farsa! Há uma porcentagem importante de americanos, por exemplo, que acredita que o coronavírus é uma farsa, mesmo com mais de duzentas mil pessoas morrendo desta doença. A ciência é muito importante hoje em dia! As mudanças climáticas existem e metade do mundo está em chamas."

John Cusack revela que também se impressionou com a triste coincidência: "Certamente não sabíamos que viveríamos uma pandemia global quando começamos, e não dá para simplesmente ignorar isso".

Teorias da Conspiração

Um assunto que também é bastante explorado na trama são as teorias da conspiração. "É realmente interessante falar disso, das ideias malucas, das grandes corporações, do papel do governo, dos bilionários! E Utopia apresenta bastante disso", diz Wilson.

Espero que com tantas coisas trágicas acontecendo no mundo, a série consiga entreter as pessoas. Não é exatamente uma fuga, mas espero que essas conspirações, por exemplo, divirtam o público. Espero que as pessoas aproveitem essa obra de ficção.

O ator entende que vivemos também uma "pandemia de conspirações", assim como é retratado na série.

Fãs

Os fãs exercem um papel bastante importante em Utopia, afinal são eles que descobrem uma estranha ligação entre o mundo real e a história apresentada nos quadrinhos. E se tem uma coisa que Rainn Wilson parece entender bem, é de fandom: o ator é muito querido pelos fãs de The Office e revela amar como o público lida com Dwight até hoje, anos depois do fim da sitcom.

Os fãs de The Office são loucos e acham o Dwight em tudo! Se eu espirrar aqui, agora, alguém vai dizer: você viu isso? Ele espirrou do mesmo jeito que espirrou na quinta temporada, no episódio 13! Eu brinco, mas eu adoro.

Para ele, a internet ajuda muito os fandoms e, assim como na série, facilita a comunicação e a troca de ideias. "É um fenômeno tão novo e que surgiu nos últimos 10 anos. Você tem os fãs DC contra os fãs da Marvel, os fãs de Sailor Moon e, claro, os fãs de k-pop. E este é um dos benefícios das redes: todos se encontram."

O ator, que revelou ser muito fã da banda REM quando jovem, diz que a sua vida teria sido muito mais fácil caso esse fenômeno tivesse acontecido quando jovem. "Fui encontrar pessoas como mesmo gosto que eu apenas em uma loja de discos, puxando assunto com os outros compradores. Hoje, eu poderia apenas procurar no Google..."

Acredito que Utopia terá os seus próprios fãs, assim como The Office. E não vejo a hora de ver pessoas vestidas de Dwight e de Dr. Michael Stearns durante o Dia das Bruxas.

Gillian Flynn

A showrunner Gillian Flynn é unanimidade entre os atores. A autora de livros best-sellers, também criadora e responsável por Utopia, foi muito elogiada pelo elenco. "Ela é uma grande líder, trouxe muitas contribuições para a narrativa. [...] Se houver uma segunda temporada, ficarei muito feliz de trabalhar ao lado dela novamente", revelou Wilson.

Para Cusack, Flynn foi uma ótima pessoa para estar junto e fazer a sua estreia em uma série. A showrunner escolheu especificamente John Cusack para o personagem, e ele não pôde recusar.

A oferta foi feita por ela, que é uma excelente escritora, e é claro que é bom ser desejado para um papel, mas o fato de ter sido ela em especial, me fez não negar. Eu não tenho experiência com TV, e tive muita sorte de trabalhar com ela.

Ainda não se sabe se a série ganhará uma segunda temporada. Enquanto isso, todos os mistérios de Utopia podem ser encontrados nos oito episódios do primeiro ano, disponíveis no Amazon Prime Video.