Em teoria, The Acolyte tinha tudo na mão para ser não só uma excelente produção por si só, mas também um bem-vindo respiro de inovação em toda a franquia Star Wars. O pano de fundo de um período até então inexplorado nos filmes e séries da saga, aliado a um elenco excelente e uma criadora competente, poderiam nos levar a escrever sobre mais um triunfo da safra que nos deu Andor. Mas nem só de boas intenções se faz um sucesso, porque o resultado é mais uma pedra na estrada bastante esburacada da saga.
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Situada séculos antes dos eventos do Episódio I - A Ameaça Fantasma (1999), a trama explora o período da Alta República na galáxia, com os Jedi no auge dos poderes como guardiões da paz, e os Sith supostamente extintos há milênios.
Descendente de um clã de poderosas bruxas da Força, a jovem Osha (Amandla Stenberg) se vê no meio de um delicado conflito quando sua gêmea, Mae (também vivida por Stenberg) parte numa onda de assassinatos a mestres Jedi pela galáxia. A investigação traz à tona feridas do passado das irmãs, e abala a crença nos Jedi como sábios arautos da bondade.

Longe de Skywalkers, mandalorianos e Estrelas da Morte, a criadora e roteirista Leslye Headland (Boneca Russa) emprega uma espécie de “CSI: Investigação Criminal espacial” no tom detetivesco que eleva os primeiros episódios da série.
O começo promissor, no entanto, logo dá lugar a uma história morna contada em um ritmo inconstante, que expõe as fragilidades de um projeto que parece pouco pensado para o formato em que foi exibido.
Sim, há muitos outros fatores além de duração que definem o que é filme e o que é série. Mas a maneira arrastada como The Acolyte se desenrola, mesmo com uma trama bastante objetiva, não deixa escapar o pensamento de que tudo se resolveria em um longa de duas horas. Se, com apenas oito episódios, você termina com a impressão de ter visto algo muito mais longo, há uma perturbação na Força.
O poder de um, o poder de dois, o poder de muitos
The Acolyte encontra ao menos duas tábuas de salvação que tornam a jornada, ao menos, entretente. A primeira é o elenco, em especial Lee Jung-Jae (Round 6), que, com seu Sol, já cavou um lugar no panteão dos grandes mestres Jedi, ao lado de Yoda, Obi-Wan Kenobi e Qui-Gon Jinn.
O ator coreano leva à tela a dualidade e o peso de um homem disposto a fazer o que acredita que é certo, mesmo sem pensar nas consequências, e um exemplo de que, mesmo antes dos tempos de Anakin Skywalker e companhia, os cavaleiros Jedi já tinham falhas bastante preocupantes.
Ainda assim, o astro transmite carisma e compaixão numa performance singular, que fica ainda mais impressionante considerando que Jung-Jae não fala inglês e se dedicou a aprender foneticamente todas as falas de seu mestre Sol. O veterano é acompanhado com louvor por Carrie-Anne Moss (Matrix), numa participação curta, mas eficaz, e Dafne Keen (Logan), crescida como a padawan alienígena Jecki.

Protagonista da história, Amandla Stenberg (Jogos Vorazes) se desdobra em jornada dupla como as gêmeas Osha e Mae, mas ainda assim não convence nem como heroína, nem como vilã, restando a sorte de contracenar com um deliciosamente dissimulado Manny Jacinto (The Good Place), como o contrabandista Qimir.
A segunda redenção vem pela coreografia das empolgantes batalhas e duelos de sabre de luz espalhados ao longo da temporada. Se Star Wars estava, criminalmente, devendo nesse aspecto desde projetos como Ahsoka e até mesmo a trilogia mais recente dos cinemas (você ainda nos paga, J.J. Abrams), The Acolyte traz um bálsamo de combate, levando inspirações até de filmes de artes marciais orientais às lutas pela galáxia.
Num certo sentido, The Acolyte está mais próximo, não só cronologicamente, da trilogia prequel de George Lucas, mas sem o charme e a imaginação do velho diretor. É fato que Star Wars não é exatamente conhecido pelos diálogos profundos, mas o texto da série se esforça numa auto importância que, por vezes, seria cômica não fosse a valorização do elenco.

No fim das contas, a era de Star Wars da Disney pariu mais um projeto que dificilmente atrairá novos públicos, ainda que, ao menos em espírito, tenha tudo o que faz da saga a franquia cativante que permeia a cultura pop há quase cinco décadas. O problema é que, de boa intenção, a galáxia está cheia.
Todos os episódios de The Acolyte estão em streaming no Disney+. Siga de olho no NerdBunker para mais novidades. Aproveite e conheça todas as redes sociais da gente, entre em nosso grupo do Telegram e mais - acesse e confira.