Entre uma avalanche de demissões e um futuro incerto, a indústria de games passa por um momento assustador. Para uma série como Mythic Quest, comédia ambientada dentro de um estúdio de jogos, isso poderia ser uma complicação, já que ninguém arriscaria brincar com um momento tão conturbado. De alguma forma, a série consegue, e sem soar desrespeitosa.
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“O desafio é encontrar o alvo certo”, explicou Megan Ganz, cocriadora do seriado, em entrevista ao NerdBunker. A produtora principal, que também é uma das roteiristas-chefe, explica que o programa não teme cutucar a ferida, desde que esteja rindo do absurdo da situação, e nunca dos funcionários no chão de fábrica: “Até dá para comentar notícias infelizes se você garantir que encontrou a abordagem correta”.
“Por exemplo, há muitas notícias sobre demissões em massa, e obviamente não é nada engraçado tirar sarro de pessoas que perderam seus empregos. Mas é engraçado colocar David [Brittlesbee, o chefe do estúdio fictício] em uma posição em que precisa defender a empresa ter demitido um monte de gente porque eles 'perderam' US$ 4 bilhões — só para acabar escutando de Rachel: ‘Nós ainda lucramos US$ 56 bilhões no ano’”, completou.
Em Alta
Se os videogames passam por águas turbulentas, Mythic Quest, por outro lado, está curtindo um mar tranquilo. Com o quarto ano em exibição, a série parece ter atingido o ápice de popularidade, já que cada dia mais e mais espectadores descobrem a comédia da Apple TV+. Além disso, ganhou também a derivada Side Quest, que chega já em março, com histórias isoladas sobre os fãs impactados pelo game do seriado. No cenário altamente competitivo do streaming, em que a maioria das produções é cancelada nos primeiros anos, o programa teve grande sorte.
“Esperava que fizesse mais sucesso, na real”, brincou David Hornsby, roteirista e intérprete de David Brittlesbee. “Mas nem sempre temos o que queremos, somos pé-rapados e vamos continuar pegando as pessoas de surpresa com nossas boas histórias e personagens, com sorte”, finalizou.
Brincadeiras à parte, o sucesso e continuidade do projeto parece ter pego todo o elenco de surpresa. “Eu começo qualquer coisa com baixíssimas expectativas”, disparou Jessie Ennis, atriz da intensa assistente Jo. “Qualquer sucesso é sempre empolgante, bem-vindo e muito inesperado. Não esperava nada e fiquei chocada quando fomos renovados. Espero que a gente continue, mas todo desdobramento é empolgante”.
É bom dizer que as baixas expectativas dos atores não significa falta de confiança no projeto, mas sim noção do quão caótico é o mundo da televisão. Na verdade, o elenco parece entender muito bem as várias qualidades da série, como cita Naomi Ekperigin, que vive Carol, a chefe do RH do estúdio: “São personagens fáceis de se relacionar, e um elenco muito diverso em uma série que não é sobre isso, sabe? Há muita gente diferente para todo tipo de público se conectar de formas variadas”.
“É uma série sobre videogames, com muito coração e uma pegada meio The Office, com reviravoltas e episódios isolados que são tipo filmes”, complementou Jessie Ennis, fazendo alusão aos aclamados capítulos isolados, que já são uma tradição do seriado. “Sinto que, por conta de tudo isso, conseguimos um público muito diversificado”.
O fim dos horrores
Se existe alguém que entende de turbulência, é a equipe de Mythic Quest, que não só soube como lidar com o caos das indústrias dos games e da TV, como também atravessou a pandemia da COVID-19 com a série no ar — e fez questão de incorporar isso à trama.
Além de um episódio gravado remotamente na segunda temporada, a terceira temporada também dividiu o elenco em núcleos menores, como forma de ter menos atores no set por vez. Hoje, em um cenário felizmente melhor, a quarta temporada pode reunir todo mundo mais uma vez.
“Nos conectamos de forma anormal durante a pandemia, já que éramos as únicas pessoas que podíamos ver”, relembrou Jessie Ennis. “Isso nos juntou, e encaramos um momento muito difícil como um time. Agora, passamos tanto tempo juntos que há uma camaradagem entre elenco e equipe, que torna muito divertido voltar a cada temporada”.
Como muito bem lembrado por Naomi Ekperigin, a pandemia não foi a última crise enfrentada por Mythic Quest. A série, como todas as demais produções norte-americanas, foi paralisada em 2023, por conta das greves dos atores e roteiristas de Hollywood. O elenco (que ocasionalmente escreve e dirige, também) aderiu em peso às greves, e tudo isso só reforçou o entrosamento de todos.
“É bom lembrar que houve um hiato entre as temporadas por conta das greves, então ficamos muito tempo sem nos ver — com exceção de nos vermos nos protestos, mas não era a mesma coisa que uma filmagem”, relembrou Ekperigin. “Quando enfim nos juntamos, foi como se a vida tivesse voltado.”
A quarta temporada parece refletir a experiência de ter passado por tudo isso, já que o tema central da trama é a busca por equilíbrio entre trabalho e vida pessoal no momento caótico da indústria dos games. O elenco de Mythic Quest, porém, apenas torce para que o projeto continue crescendo — talvez sem tantas emoções de vivenciar momentos e crises históricas, né?
“Não estou surpresa que continuamos de pé”, declarou Imani Hakim, que vive a desenvolvedora Dana (ou, para os saudosistas, a Tonya de Todo Mundo Odeia o Chris). “Sou muito fã dos nossos roteiros e elenco, e espero que a gente continue porque é uma boa série!”
A quarta temporada de Mythic Quest é transmitida semanalmente pela Apple TV+, todas às quartas. As temporadas anteriores estão no catálogo do streaming.
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