Hilda é uma daquelas obras que conseguem nos tirar da realidade — é meio clichê definir algo dessa forma, "tal coisa nos tira da realidade", mas é igualmente maravilhoso quando simplesmente não há outra definição possível. Então, com licença que lá vem mais uma expressão batida, mas imprescindível para falar dessa série: Hilda nos transporta para outro lugar, é criativa, divertida e delicada. São minutos de aventuras simples, mas bem feitas, seres originais encantadores e um cenário maravilhoso, onde tudo o que conhecemos por fantasia coexiste com tudo o que conhecemos por realidade.
E também tem as cores, a música, as vozes originais, a peculiar cidade de Trolburgo, os elfos minúsculos e burocráticos, os espíritos do tempo, o corvo lendário, o homem de madeira, o dragão que cuida de um jardim, a poesia e o romance trágico dos gigantes...
A série baseada nos quadrinhos de mesmo nome de Luke Pearson, alguns publicados pela Cia das Letras no Brasil, não subestima a inteligência das crianças, não se prende à fórmulas de fácil aceitação no mercado, entrega algo original, mas que, ao mesmo tempo, gera uma sensação de aconchego, de algo familiar. Um mundo fantástico onde até os trolls têm suas razões para, bom... agirem como trolls, e os espíritos do tempo debatem furiosamente sobre assuntos peculiares, por que não?
São três crianças: a aventureira Hilda, o medroso David e a meticulosa Frida, com espaço para serem crianças, vivendo em uma realidade em que qualquer criança gostaria de viver: eu pelo menos adoraria ter tido um duende me servindo chocolate quente e não acharia nada de mau em dar um tempo da internet atualmente.
Hilda quase errou nos episódios finais, quando quis criar um conflito difícil de aceitar pela própria lógica estabelecida até então, e de se envolver. Ainda assim, é um deslize aceitável, diante de tantas qualidades. O único defeito imperdoável é que são apenas 13 episódios... Mas só por enquanto, porque uma segunda temporada já está confirmada, assim como a nossa passagem para outra realidade.