Stray é um daqueles jogos que precisa de apenas um trailer para apresentar a premissa inusitada, e chamar a atenção da comunidade.
O título se tornou um dos indies mais esperados do ano, com a ideia de colocar o jogador no papel de um felino em uma ambientação cyberpunk. O game chegou ao topo da lista de mais aguardados do Steam e até ganhou o apelido carinhoso de “jogo do gato”.
Mas Stray está longe de ser apenas um game fofo em que você controla um gatinho de rua.
Além das bolas de pêlo
Desenvolvido pelo estúdio francês BlueTwelve, Stray é um jogo com foco em exploração e quebra-cabeças de ambiente, que apresenta um universo com conceitos próprios.
A história é situada em uma sociedade aparentemente esquecida, povoada por robôs que foram criados para servirem aos humanos. Com o tempo, eles ganharam consciência própria e as pessoas simplesmente desapareceram, deixando muitos mistérios para trás.
O protagonista é um gatinho laranja que, por azar de um pulo mal feito, é separado de seus irmãos e se vê perdido no meio da cidade dos robôs. O felino, então, decide ajudar as máquinas, enquanto busca um caminho de volta para “casa”.
A trama é bem construída e cheia de reviravoltas, que acontecem ao decorrer do jogo. Muitos mistérios, dúvidas e questionamentos são estabelecidos a todo momento, deixando o jogador intrigado por aquele universo e curioso em saber o que diabos está acontecendo ali.

A jogabilidade de Stray é limitada, mas de forma proposital – afinal, estamos controlando um gatinho. Você precisa analisar o ambiente pela perspectiva de um felino na hora de explorar e resolver enigmas, o que é divertido e inusitado. Os comandos são intuitivos e fáceis de aprender para auxiliar essa ideia, então o que é possível fazer (ou não) está sempre bem claro. Andar por cenários imensos e se sentir minúsculo, ter o “poder” de escalar lugares muito estreitos e até sentir uma estranha vontade de derrubar objetos no chão são sensações constantes!
Há um porém, no entanto. Os quebra-cabeças são simples e até fáceis demais, então o jogador não se esforça muito para resolver problemas ou desvendar segredos nos cenários. Além disso, há poucas tarefas e coletáveis secundários, o que não incentiva explorar mais do que o necessário para progredir na história.
Com isso, o título ganha um aspecto mais contemplativo, com uma cadência lenta. Isso pode ser tanto algo bom, quanto ruim, dependendo se quem está com as mãos no controle gosta ou não de uma aventura mais “calma”. Seja como for, ter um ritmo próprio conversa com a proposta de Stray, que não se baseia naquela ideia comum entre os jogos mais populares, em que o personagem precisa se tornar mais forte ao progredir. Aqui não há árvores de habilidade, necessidade de combate ou algo do tipo. Você é simplesmente um gatinho de rua do início ao fim e tem que se virar com suas limitações.
Mas isso não significa que não há nenhum momento focado em ação. O jogo conta com sequências de perseguição e até furtividade contra inimigos perigosos, que dão uma leve mexida na dinâmica do gameplay. São poucas vezes, mas todas oferecem uma dose de adrenalina.

A roupa que o gatinho laranja usa é para carregar um pequeno droide chamado B/12, que serve como NPC companheiro durante o game. Ele possibilita que o jogador possa conversar com robôs, ler placas e bilhetes espalhados pelos cenários e até hackear terminais e computadores.
Além disso, B/12 tem um papel importante na história. O droide sofreu amnésia e, ao decorrer da aventura, passa a recuperar suas memórias que dão mais informações sobre o que aconteceu no passado do universo de Stray. Mas vamos parar por aqui para não estragar nenhuma surpresa.
Beleza bem pensada
A estética de Stray é focada em cenários com um visual deteriorado (que reflete a ideia de uma sociedade mal cuidada), mas há um contraste com a aposta em fortes cores neon. O resultado é uma ambientação com toque cyberpunk, que esbanja estilo e impressiona pelo cuidado em detalhes.
E essa mistura de cores não está ali apenas por estilo. Há um motivo na própria narrativa para tanto neon espalhado por todo lado, o que faz com que os cenários contem histórias por si só.
Além disso, a paleta é usada para auxiliar no gameplay, oferecendo pistas visuais para indicar o caminho certo ao jogador. Assim, tudo funciona de forma orgânica, além de ser belíssimo esteticamente!

A trilha sonora é sutil, mas constante para estabelecer o tom de momentos específicos, como a sensação de curiosidade ao entrar em uma nova área para explorar ou quando o gatinho está em perigo. Os recursos do DualSense acompanham tal sutileza, gerando um feedback leve com detalhes, como pequenos tremores com gotas de chuva, arranhões em tapetes e miados e ronronados que saem diretamente do controle.
O game está totalmente localizado em português brasileiro, contando com texto e legendas traduzidos para nossa língua, que acompanham o tom sério da narrativa.
Uma miau-ventura!
Stray não apresenta uma perspectiva diferente apenas por ter um protagonista sem traços antropomórficos, mas também por oferecer uma distopia única que aborda temas muito atuais de forma sutil, como totalitarismo, inteligência artificial e empatia.
No entanto, o título é relativamente curto e dura entre 5 e 8 horas. Também não há muito conteúdo opcional ou extra que incentiva uma segunda jogada. É uma aventura direta ao ponto, seja para bem ou mal.
No fim, Stray é um jogo com bastante personalidade, e um dos indies que mais me encantaram neste ano. Além disso, se você é dono de um felino certamente dará risadas ao ver os trejeitos e as esquisitices dos bichanos sendo perfeitamente reproduzidos na tela.
Este review foi feito com uma cópia cedida pela Annapurna Interactive.
Stray será lançado para PlayStation 4, PlayStation 5 e PC no dia 19 de julho.