Grafite, animes, mangás e clássicos de plataforma. Essas são as principais referências por trás de RKGK (Rakugaki), jogo de estreia do Wabisabi Games.
Publicado pela Gearbox Publishing e contemplado pelo programa da Riot Games que auxilia e investe em criadores com pouca representatividade na indústria, o estúdio com sede no México é formado por 29 desenvolvedores, que compartilham não só o contexto social da América Latina, mas também a paixão por jogos e pela cultura pop japonesa.
Com uma proposta praticamente infalível pela junção entre os universos gamer e otaku, RKGK é mais que uma união de diferentes matrizes culturais. O jogo de plataforma 3D é uma experiência viciante, que motiva o jogador a superar os próprios limites em sucessivos desafios contra o tempo.
O poder do grafite

A história de RKGK se passa em Cap City, uma cidade que foi dominada por uma cruel corporação. Comandada pelo malvado Sr. Buff, a B Corp fez uma lavagem cerebral nos cidadãos, por meio de telas pretas, que ficam espalhadas por toda a capital.
Nesse contexto, Valah, uma jovem destemida e rebelde, luta para restaurar a liberdade de todos. Para isso, a personagem usa uma arte intrinsecamente urbana: o grafite. O jogador então assume o papel da protagonista e deve estampar sua própria arte nas perversas telas pretas do Sr. Buff.
RKGK possui diferentes referências, mas a principal é, inevitavelmente, o grafite. Isso porque a própria pronúncia do título do jogo – “Rakugaki” – é uma referência ao termo em japonês que significa "rascunho", ou "rabisco". Segundo os desenvolvedores, Rakugaki chegou a ser usado como um termo pejorativo para designar o grafite, mas passou por um processo de ressignificação e se tornou um símbolo de reafirmação da força desse tipo de arte urbana.
Outro exemplo é a palavra “buff”, que dá nome ao vilão do game. No contexto do grafite, o termo é usado para se referir às artes que foram apagadas. Dito isso, não há dúvidas de que RKGK é uma grande celebração a essa manifestação artística, e essa inspiração não surge ao acaso. Esse tipo de arte tem um papel extremamente forte na América Latina, especialmente no México, onde está a maior parte dos desenvolvedores por trás de RKGK.
Batalhas contra o tempo
A aventura de Valah possui seis capítulos, com aproximadamente cinco fases em cada (posteriormente, novos níveis são desbloqueados, conforme a história avança). Para iniciar a jornada de libertação de Cap City, o jogador pode optar entre dois níveis de dificuldade — “moderno” e “retrô”.
O primeiro é o mais próximo de uma experiência "padrão". Nele, Valah possui cinco vidas e, caso caia, a protagonista sempre surge na plataforma mais próxima. Já no modo “retrô”, há um maior nível de dificuldade, em que Valah tem apenas três vidas e, ao cair, retorna no último checkpoint. Jogadores acostumados com games de plataforma podem achar o modo "moderno" pouco desafiador no começo, mas já adianto que as cinco vidas — que certamente foram minha salvação — podem ser de grande ajuda na reta final, pois o último chefão é bastante desafiador.

Como esperado de um jogo de plataforma, é preciso se movimentar por diversas áreas da cidade. Para isso, é necessário pular, dar saltos duplos e encarar uma série de obstáculos. Cada fase possui conquistas específicas que envolvem o número de moedas coletadas, grafites deixados pelo caminho e inimigos abatidos, por exemplo. Alguns desses itens são importantes na hora de customizar as artes, as aparências da protagonista e de Ayo e até a cor das tintas usadas para surfar pela cidade.
Um aspecto interessante é que o tempo não tem um aspecto punitivo — independentemente dos minutos gastos para completar a fase, o jogador sempre poderá avançar no jogo. Contudo, quanto menor for a duração da corrida, mais chances de conseguir uma classificação melhor.
Apesar de não impedir o progresso na história, esse aspecto pode atormentar jogadores mais perfeccionistas. Em muitos momentos, me senti pessoalmente ofendida por deixar algumas conquistas para trás. Uma boa notícia é que é possível repetir todas as fases e melhorar o próprio tempo a qualquer momento. Para a felicidade dos speedrunners, ao repetir cada nível, o jogo ainda acrescenta um cronômetro que facilita bastante a vida dos apressadinhos.
Além disso, uma mecânica específica deixa a jogabilidade mais acelerada. É possível usar as tintas para surfar pela cidade — algo que aumenta a velocidade da protagonista. O cenário também oferece trilhos, ganchos e mais opções que, se usadas de forma estratégica, podem tornar as corridas bem mais curtas. Minha dica é fazer a primeira corrida de cada nível como uma forma de reconhecimento do cenário. Vale ressaltar, algumas telas e itens especiais ficam escondidos. Inevitavelmente, o jogador precisa repetir algumas fases específicas.

Além da velocidade e do tempo, outro aspecto importante é o combate. RKGK não possui uma diversidade tão grande de inimigos, mas vale a pena memorizar os ataques de cada um para evitar mortes desnecessárias. Os adversários são robôs, com ataques de curta e longa distância. Para derrubar a maioria das ameaças robóticas, basta um ataque básico. A preocupação maior fica com os robôs aéreos, que soltam projéteis e podem causar um grande dano. Em algumas situações, não é possível atacar os inimigos diretamente, e o jogador precisa “planar” acima deles para danificá-los.
Aqui, o grande segredo para se dar bem é ativar o “modo vandalismo” – que cria uma espécie de escudo e permite que a protagonista derrote uma série de inimigos de uma só vez, em alta velocidade. Outra dica importante diz respeito às telas pretas. Ao estampar um belo grafite, a arte automaticamente destrói todos os adversários e "coleta" recompensas que estiverem numa área próxima — algo que economiza um bom tempo.
Inicialmente, o combate pode não parecer tão desafiador, mas existe uma progressão de dificuldade coerente, que aumenta bastante nos últimos capítulos – principalmente nos chefões. A batalha final contra o Sr. Buff é uma luta exigente, em que o jogador precisa redobrar a atenção, memorizar padrões de ataque e desviar de infinitos obstáculos.
Experiência viciante
Apesar de não ser inovador, RKGK consegue proporcionar uma experiência completamente viciante. Algumas fases específicas, como a da água e da gravidade, são as mais divertidas, e a experiência é potencializada pelo visual colorido e batidas eletrônicas, que causam um sentimento maior de imersão.
Ao final da jornada, é quase impossível não sentir uma vontade de voltar ao game e superar os próprios limites — o que prova que a aventura de Valah, Ayo e companhia tem algo de único e encantador.
Esta review foi feita com uma cópia cedida pela Wabisabi Games. RKGK será lançado no dia 22 de maio para PC (via Steam).
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