O ano de 2017 está cheio de jogos de plataforma bons que foram aclamados pela crítica e pelos fãs, como Super Mario Odyssey, Sonic Mania e Crash Bandicoot. Por isso, quando a Microsoft e a Playful chegaram com Super Lucky’s Tale, fiquei empolgado com a ideia de conhecer o que eu acreditava ser uma nova mascote para o gênero com um futuro promissor.
Realmente, a raposinha Lucky, o mundo e os outros personagens, até mesmo os vilões, me pareciam todos muito caricatos e interessantes nos trailers. Isso sem falar que o próprio jogo dava a impressão de ser uma homenagem aos clássicos de plataforma. Mas eu estava muito errado.
Lucky quem?
O jogo é uma sequência de Lucky’s Tale, laçado em 2016 para Oculus Rift. No entanto, caso não conheça, sem problema, já que isso não é exigido em nenhum momento. Mas depois de jogar o novo título é improvável que você queira ver o anterior.
Na aventura controlamos Lucky, que é um jovem Guardião, parte de grupo de aventureiros que protegem o Livro das Eras, um poderoso artefato que caiu nas mãos do vilão felino Jinx. Agora cabe você, que foi preso dentro do livro, salvá-lo dos malfeitores que querem fazer... Alguma coisa com ele.
Esse é o primeiro problema. Em termos de visuais, os personagens são todos fofinhos, mas só. Não existe uma motivação clara para o que eles fazem e em nenhum momento o jogo dá qualquer razão para nos importarmos minimamente com qualquer um. Ainda mais sendo um produto “para todas as idades”, que deveria ser carismático.
Essa história e os personagens são apresentados de forma breve e bonitinha na introdução, que até conta com dublagens (inclusive em português do Brasil). Mas este e o final são os únicos momentos nos quais que os personagens falam algo, já que durante toda a aventura eles só fazem barulhos sem sentido. Exceto pelo Lucky, na verdade, que fala um irritante “Vamos” toda vez que aparece em uma tela nova e que fica insuportável bem rápido.
OK, mas esses detalhes não fazem muita diferença neste tipo de game, certo? Não é como se os primeiros jogos do Mario fossem bem nestas características. O que importa é ser divertido de jogar. Né?
O jogo é fácil, jogar não
Super Lucky’s Tale é um game bastante simples e, sinceramente, muito fácil. Seja para entender como resolver quebra-cabeças, superar obstáculos ou derrotar inimigos. No entanto, é na hora de executar estas tarefas que as coisas ficam difíceis. Não porque o jogo foi feito assim, mas porque ele tem uma jogabilidade horrível que falha em questões básicas.
Começando pela movimentação do personagem, principalmente seus pulos, que não são nada precisos. A câmera só atrapalha mais ainda, já que é fixa em três ângulos diferentes. Estes dois elementos são essenciais em um jogo de plataforma, especialmente em 3D, e o título falha miseravelmente nesta questão.
Em algumas fases totalmente em 2D isso melhora um pouco, mas não muito. O arco do pulo de Lucky é ruim de ser controlado e algumas vezes o personagem é lançado para o fundo da tela (quem jogou Donkey Kong Country Returns conhece essa mecânica), mas parece que os desenvolvedores se esqueceram dos objetos do plano frontal bloqueando a visão.
Falando no pulo de Lucky, esta é a única forma de derrotar inimigos. O personagem até conta com um ataque de cauda, mas este serve basicamente para interagir com objetos e atordoar adversários. Em outras palavras: pular na cabeça dos monstros em um ambiente tridimensional com câmera fixa é um pesadelo. E sim, você toma dano caso encoste neles.
Isso quando algum bug não decide atrapalhar de vez a brincadeira. Enquanto jogava, encontrei vários problemas de colisão que me impediam de atacar inimigos e parar em plataformas. Em determinado momento até mesmo atravessei o chão e fui jogado para o final da fase antes de completar um quebra-cabeça.
Pelo menos aturar essa jogabilidade pífia dura pouco, já que a aventura é bastante rápida. A campanha conta com apenas quatro mundos com pouquíssimas fases. Em cada uma delas precisamos coletar Trevos para desbloquear novos estágios e avançar na história.
Cada fase tem quatro Trevos para serem encontrados: um ao completar o estágio, um ao coletar 300 moedas, um escondido e um ao colecionar cinco letras que formam a palavra LUCKY. Tive que voltar poucas vezes em fases anteriores para encontrar os que faltavam, mas quando retornei foi uma tortura.
Entenda: toda fase começa com Lucky encontrando o chefe do mundo e um NPC que tenta dar o contexto do que o vilão está fazendo, como se você se importasse. O problema é que sempre que voltar lá, não tem escapatória: é necessário ver todas as cenas e diálogos de novo.
Por falar nos estágios, eles são aceitáveis na maioria, mas muitos são bem chatos e repetitivos. Alguns têm ideias muito legais, como um no qual as plataformas só aparecem em forma física se você estiver carregando uma lanterna, criando um labirinto de luz conforme Lucky avança. No entanto, faltou criatividade e empenho para torná-las realmente interessantes e divertidas.
Os chefes são ainda mais sem graça. Todos os quatro consistem em desviar de projéteis e inimigos (os mesmos que você encontra desde o começo do jogo, já que não há muita variedade) até o momento em que eles ficam abertos para levar dano. Repita o processo três vezes e pronto. Parabéns, você derrotou o tédio.
Uma aventura qualquer
Super Lucky’s Tale parecia ter o potencial de rivalizar diretamente com grandes franquias do gênero, em parte graças aos personagens fofinhos e visuais bonitos, mas acabou desperdiçando esta oportunidade.
O triste resultado é uma aventura medíocre com péssima jogabilidade, escolhas duvidosas de design, fases repetitivas e personagens desinteressantes. Em suma, um jogo dispensável e que erra em elementos básicos para qualquer título de plataforma.
Super Lucky’s Tale está disponível para Xbox One X e Windows 10. Este review foi feito com uma cópia cedida pela Microsoft.