Grande surpresa: Mario & Luigi, como tantas outras, é mais uma série clássica da Nintendo que sobe de nível ao chegar no Switch.
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Neste caso, Brothership leva a dupla de heróis titulares a um novo mundo, onde eles mais uma vez percebem a importância do companheirismo. É uma aventura apaixonante, que visivelmente esbanja o carinho envolvido na produção com coisas como personagens e vilões carismáticos, constantes surpresas e, acima de tudo, na atenção aos pequenos detalhes.
Alguns problemas de performance causam frustração, mas não o suficiente para ofuscar o charme do jogo que, como o primeiro RPG do Mario totalmente em português do Brasil, talvez seja a melhor opção que existe para apresentar o gênero aos jovenzinhos.
Irmandade

Engolidos por um vórtice misterioso, Mario e Luigi vão parar em um mundo acometido por uma tragédia incomum: as diferentes ilhas que formavam um continente foram separadas umas das outras, e agora boiam à deriva no mar. É o cenário ideal para uma aventura de reconstrução que tem como tema central a ideia de que somos todos mais fortes quando estamos unidos.
Se tivesse saído alguns anos atrás, na época que a Nintendo tinha decidido que a franquia Super Mario precisava ser a mais criativamente estéril possível, o mundo de Elétria provavelmente seria preenchido por Toads e Koopa Troopas genéricos.
Em vez disso, o cenário de Brothership serve como prova de que abandonar essa política tosca foi a decisão certa. Tematizado em torno de árvores capazes de gerar eletricidade, Elétria é povoado por criaturas que lembram fios elétricos e plugs de tomada. Da perspectiva da dupla de heróis, é como se fosse um mundo alienígena – o que motiva os jogadores a explorar cada canto de cada mapa.
Vários personagens pitorescos e carismáticos aparecem no caminho de Mario e Luigi, fazendo com que o jogador desenvolva um carinho por Elétria separado de qualquer apreço que ele possa ter pelo Reino Cogumelo. E todo esse processo apenas torna mais memoráveis as cenas em que alguns outros rostos familiares surgem mais pra frente na aventura.

Tão filho de Super Mario RPG quanto de Paper Mario, Mario & Luigi é centrado em um sistema de batalhas por turno com interação ativa. Selecionar o ataque “Pulo” no menu é apenas o início de um ataque: para potencializar o dano causado, o jogador precisa pressionar os botões correspondentes a Mario e Luigi, respectivamente, nos momentos certos. De forma parecida, é possível reduzir (ou evitar completamente) o dano sofrido de ataques inimigos – por exemplo, saltando sobre eles no momento certo.
É uma fórmula já bem testada, e que ainda funciona. A mecânica torna envolventes até mesmo as repetidas cenas de combate contra inimigos comuns.
A diferença entre Mario & Luigi e os demais RPGs da franquia está no fato de que os dois irmãos fazem tudo juntos. Quando Luigi vai dar uma martelada no inimigo, ele invoca a ajuda de seu irmão. Quando Mario salta sobre um monstro, ele se apoia em Luigi para repetir o feito.
O mesmo vale para as cenas de exploração. Ainda que o jogador controle primariamente o Mario, um mero pressionar do gatilho L dá ordens contextuais para Luigi. Há também habilidades desbloqueáveis como a do Ovnicóptero, em que os irmãos giram de mãos dadas para se transformar em um disco voador capaz de passar por cima de precipícios.
Simples, mas nem sempre

Em muitos aspectos, Brothership representa um retorno às raízes para a franquia Mario & Luigi. As cenas de combate são muito mais “pés no chão” do que as de seus predecessores imediatos, com a dupla de heróis utilizando poderes mais básicos para dar cabo de seus oponentes – seus primeiros ataques especiais envolvem simples cascos verdes e vermelhos, por exemplo.
Até a premissa da história é menos viajada, e evita elementos no estilo de “os irmãos viajam no tempo e encontram suas formas bebê” ou “os irmãos vão parar dentro do Bowser”.
Mas Brothership faz questão de abandonar a simplicidade em um elemento específico: a construção de mundo. Elétria é fascinante, o que torna muito satisfatório o processo de reconstruí-la e vê-la mudando na medida em que Mario e Luigi cumprem seus objetivos.
Na prática, o que os heróis precisam fazer é religar os faróis de cada ilha isolada para reconecta-las à Ilha Nauta, que serve como embarcação e base de operações. Para tal, eles precisam visitar todas as ilhas – e descobrir que cada uma delas tem uma identidade própria, com mecânicas de exploração, minigames, tipos de inimigos e vários outros fatores exclusivos.
Há, por exemplo, uma ilha com plantas que florescem com a ajuda da dança, e, de quebra, um NPC viciado em gel de cabelo que é especialista em fazer “o passinho” – nas palavras da excelente localização para o português do Brasil.
O jogo tem uma grande preocupação em contextualizar todos os seus elementos para fazer com que Elétria pareça ser um mundo vivo e pulsante, por menor que seja. Ao fim de cada conversa com NPCs fora de seus postos na base, por exemplo, é possível vê-los andando de volta. Quando os faróis são ligados, todos os personagens que o jogador encontra nas ilhas ao redor reagem ao ocorrido na cutscene. Até mesmo a mecânica que avisa quando você tem missões secundárias a serem cumpridas é contextualizada na forma de um trio de tias fofoqueiras que ficam sabendo de tudo o que rola nas ilhas.

E por falar em missões secundárias, é importante constatar que Mario & Luigi: Brothership tem uma tonelada de conteúdo opcional, e que aqueles que se debruçarem para fazer 100% provavelmente terão uma experiência melhor do que jogadores que fizerem apenas o caminho crítico da história.
Orgulhosos do mundo que criaram, os desenvolvedores conceberam um ritmo de progresso que, de propósito, cria janelas perfeitas para que o jogador intercale entre missões obrigatórias e opcionais.
Em tempo real, a Ilha Nauta está sempre flutuando por correntes marítimas representadas em uma carta náutica. E enquanto a próxima ilha da história não chega no horizonte, Mario e Luigi são livres para revisitar mapas já previamente encontrados em busca de itens colecionáveis, histórias adicionais, ou até mesmo de mais pontos de experiência. É uma mecânica que faz com que o jogador sinta que até os momentos de “grinding” são parte integral da experiência narrativa.
Igualmente engenhosas são as batalhas contra chefes. Particularmente longas, elas fazem o jogador trabalhar para alcançar seus objetivos, obrigando-os até mesmo a utilizar o cenário a seu favor. Em momentos-chave das lutas, Luigi pode ter uma Luigideia – um lampejo de criatividade que costuma resultar em um ataque poderoso capaz de quebrar momentaneamente as defesas de seus oponentes.

Mario & Luigi tem uma tradição de direção de arte única dentro da franquia Super Mario, e Brothership não deixa a peteca cair: ainda que o jogo abandone de vez a pixel art de seus predecessores, ele brinca com cores aquareladas e animações exageradas no estilo desenho animado para diferenciar sua linguagem visual dos vários outros jogos Mario do Switch.
É uma pena, portanto, que a experiência tropece por conta de constantes problemas técnicos. Como tantos outros jogos do Nintendo Switch nos últimos anos, Brothership parece ter ambições que o velho tablet já não consegue mais comportar, e sofre com constantes problemas de performance. As quedas de frames não são dramáticas como as de Zelda: Echoes of Wisdom, mas são o suficiente para tirar um pouco do brilho das belíssimas animações e dos coloridos cenários.
Outra limitação técnica do Switch que atrapalha o ideal que Brothership almeja é a duração das telas de carregamento. Seja nas transições entre campo e batalha, ou entre as diferentes ilhas, as interrupções constantes quebram o ritmo de um jogo que claramente foi programado para ser muito mais fluido do que o hardware permite.

Com o fechamento do AlphaDream – o estúdio que criou Mario & Luigi –, não era apenas a qualidade da série que estava em dúvida, mas sim a própria existência dela. Mas a Acquire, conhecida pela série Octopath Traveler, soube muito bem expandir o escopo dessas aventuras tradicionalmente portáteis para um console de mesa.
Em menos de um ano, o Switch recebeu remakes brilhantes de Super Mario RPG e Paper Mario: The Thousand-Year Door – e, agora, Mario & Luigi: Brothership fecha essa trinca com chave de ouro.
Esta review foi feita com uma cópia digital do jogo cedida pela Nintendo.
Mario & Luigi: Brothership é exclusivo do Nintendo Switch, e estará disponível a partir do dia 7 de novembro.