Apesar da tradição nos cinemas e na cultura pop, Indiana Jones é uma daquelas sagas que ainda não conseguiu se destacar no mundo dos videogames — o que é curioso, uma vez que é fonte de inspiração para franquias icônicas como Uncharted e Tomb Raider.
A intenção da Bethesda, no entanto, é justamente mudar essa percepção com Indiana Jones and the Great Circle, um jogo de aventura que traz uma história inédita e propostas ambiciosas, desde câmera em primeira pessoa até estrutura semilinear.
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Seja pelas ideias inusitadas ou trailers grandiosos, The Great Circle lentamente se tornou um dos games mais aguardados da reta final de 2024. Por conta disso, viajamos até São Francisco, nos Estados Unidos, para jogar quase três horas da nova aventura do arqueólogo e alinhar as expectativas pelo que está por vir. E podemos confirmar: espere por muitos quebra-cabeças, mistérios e porradas com chicote!
Boa saída da biblioteca
Ambientado em 1937 — ou seja, entre os acontecimentos dos filmes Os Caçadores da Arca Perdida e Indiana Jones e a Última Cruzada —, a ideia de The Great Circle é apresentar uma história canônica, com muitas referências aos fãs, e uma jogabilidade única com o chicote (que logo falaremos sobre).
Durante o teste, jogamos dois trechos distintos, com o início do jogo e uma área mais focada em conteúdo opcional, que, curiosamente, nos deram impressões diferentes.

O começo de The Great Circle estabelece o tom cinematográfico do game, com uma estrutura linear e maior foco narrativo, estampando o rosto de Harrison Ford a todo momento. Quem empresta a voz a ele é Troy Baker, o Joel de The Last of Us, que até mesmo imita o timbre do Indiana original, reforçando a ideia de se aproximar dos filmes.
O que mais chama a atenção logo de cara é o visual, que oscila de qualidade com frequência. Algumas cenas são mais trabalhadas do que outras, que acabam pecando em polimento, com texturas inacabadas e má sincronização labial. Não é nada que estrague a experiência como um todo, mas causa certa estranheza.
Esse trecho é ambientado na clássica Universidade Marshall e nas ruas do Vaticano, que destacam uma direção de arte minimalista e um design de fases direto e simples. Isso inicialmente traz uma sensação de linearidade bem-vinda, como se literalmente estivéssemos jogando um dos filmes da saga.

Um dos pilares de The Great Circle é a presença de quebra-cabeças de ambiente, com direito a análise de relíquias antigas, inspeção de pegadas e pistas, leitura de mapas e engenhocas arcaicas em tumbas e afins, o que é um imenso acerto ao construir uma boa atmosfera aventuresca. Exploração, consequentemente, acaba sendo um dos focos, instigando a curiosidade do jogador a todo momento.
Essa experiência é complementada pelo combate, que é dividido em sequências de furtividade e confrontos diretos com armas de fogo e golpes corpo a corpo, que apresentam pouca variedade, mas funcionam na prática.
Nocautear silenciosamente um adversário com qualquer objeto que encontrar pelo chão, por exemplo, é simples, mas bem satisfatório. A inteligência artificial dos inimigos está afiada o suficiente para tornar essa tarefa levemente desafiadora: eles têm visão periférica, ouvem movimentos mais bruscos e sentem falta dos coleguinhas abatidos.
E partir para o “mano a mano” traz confrontos com cadência lenta, que exigem ter uma boa noção de quando e em qual direção você precisa se inclinar para defender e contra-atacar — algo similar a Kingdom Come Deliverance. Dominar os comandos é um processo demorado, mas eles adicionam profundidade ao sistema de combate. Há ainda as armas de fogo, como o próprio revólver do Indiana e rifles que podem ser temporariamente “emprestados” de inimigos, que alertam e atraem mais adversários para sua posição.

E, é claro, temos o chicote do Indiana Jones, que funciona tanto para pancadaria quanto exploração. A ideia de ter câmera em primeira pessoa para uma jogabilidade cuja arma primária é um chicote é, no mínimo, curiosa, mas faz sentido ao ver que o projeto está nas mãos do estúdio MachineGames, que ficou conhecido por jogos com essa perspectiva, como alguns títulos da franquia Wolfenstein no passado.
A proposta dá certo e não causa estranheza, sendo possível usar a arma do arqueólogo para puxar as pernas dos inimigos ou desarmá-los, dependendo de onde você mirar, servindo como um bom suporte, além de ajudar na transição entre plataformas e locais altos. O resultado é bem divertido, e podemos afirmar que é viciante sair chicoteando tudo por aí!
Outros detalhes são que as animações de movimento do Indiana são idênticas às do filme, e existe o humor característico da franquia até no meio do gameplay. O protagonista, por exemplo, pode usar um mata-moscas de plástico para nocautear alguém (o que nos arrancou boas risadas), além de soltar frases de efeito ao derrotar adversários, como “É ‘professor’ para você!”.

Assim, toda essa parte inicial, desde a estrutura linear até a atuação de Baker e o tom descontraído, ressoa em uma imensa homenagem aos filmes antigos da franquia, levando o jogador para uma nova aventura clássica do arqueólogo. Algo curioso, no entanto, é que tivemos a sensação de estar jogando um game de uma geração passada, tanto pelo sentimento nostálgico quanto pela simplicidade — o que pode ser positivo ou negativo, dependendo do ponto de vista.
Cobras pelo caminho
O segundo trecho do teste se passa em um momento mais avançado da história, em uma área semiaberta em Gizé, uma das maiores cidades do Egito. Aqui, o senso de linearidade se perde, mostrando que o jogo também quer apresentar uma boa quantidade de conteúdo opcional.
Há missões secundárias escondidas, e até os próximos passos da campanha precisam ser descobertos pela curiosidade do jogador. Encontrar mais de uma solução para as tarefas também é algo recorrente, o que incentiva quem está com as mãos no controle a investigar cada cantinho. Por exemplo, roubar um traje inimigo para usar de disfarce faria com que a infiltração numa base fosse bem mais tranquila, não?
Apesar da ideia de liberdade não ser algo negativo, o problema aparece no design de fases da ambientação, que faz a experiência ficar levemente confusa e bagunçada. A sensação é que a sequência em Gizé fica em um único tom, caindo em repetitividade e longas caminhadas cansativas para transitar entre pontos A e B.

Outro problema encontrado é o próprio desempenho de The Great Circle. Com uma área relativamente maior, travamentos em cutscenes e inimigos começaram a pipocar com frequência, além de quedas de frames no meio do gameplay.
É importante ressaltar, no entanto, que os desenvolvedores reforçaram que o que jogamos não reflete a versão final do jogo, então é possível que os problemas sejam consertados até o lançamento.
Chicotada bem dada?
Faz 15 anos que não temos um novo jogo de Indiana Jones, o que automaticamente adiciona uma pressãozinha nos ombros de The Great Circle. Mas a MachineGames faz um bom trabalho em não se deixar atrapalhar por isso, apostando em propostas ambiciosas e inusitadas para fazer o jogador mergulhar nesse universo mais uma vez.
A ideia funciona, e o game cumpre a tarefa de traduzir a atmosfera dos filmes no gameplay e na história inédita, apesar de alguns tropeços aqui e ali. O que mais preocupa, no fim, é que a demo do evento foi finalizada há poucos dias, segundo o diretor de design Jens Andersson, então reflete bem o estado atual do projeto em desenvolvimento — que não está tão longe assim do lançamento.
Só nos resta esperar para ver se os parafusos soltos serão apertados a tempo, uma vez que há bastante potencial para a entrega de uma experiência divertida e carismática para os fãs da franquia.
Indiana Jones and the Great Circle será lançado no dia 6 de dezembro para Xbox Series X|S e PC. O jogo chegará ao Game Pass no dia 9 e, posteriormente, ao PlayStation 5 em 2025.
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