Assim que um jogo de Indiana Jones foi anunciado com uma câmera em primeira pessoa, a reação inicial dos fãs foi de confusão. Como assim, uma jogabilidade que se baseia em exploração e num chicote como arma, não é em terceira pessoa?
A ideia é, no mínimo, curiosa, mas acaba resumindo o que Indiana Jones e o Grande Círculo faz de melhor: usar propostas inusitadas ao seu favor.
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Com desenvolvimento pelo estúdio MachineGames, conhecido por títulos da série Wolfenstein como The New Colossus e Young Blood, o jogo do Indiana Jones apresenta uma história original que é situada em 1937 — portanto, entre os acontecimentos de Os Caçadores da Arca Perdida (1981) e Indiana Jones e a Última Cruzada (1989).
Logo nos primeiros minutos, O Grande Círculo estabelece o tom da experiência ao recriar com impecável fidelidade a clássica cena de abertura do primeiro filme da franquia. A intenção é fazer com que o jogador se sinta dentro de um dos Indiana Jones antigos, mas com um toque de frescor - o que realmente consegue.
“É professor para você”
Apostando numa história original, mas canônica, Indiana Jones e o Grande Círculo apresenta um novo mistério que faz o arqueólogo viajar pelo mundo em busca de respostas e artefatos roubados, enfrentando fascistas no Vaticano até perigos nas pirâmides do Egito e no frio congelante do Himalaia.
O que mais se destaca em termos de narrativa é como o jogo consegue replicar (e muito bem) o sentimento de uma boa história de aventura — e de todos os elementos característicos de um Indiana Jones, desde situações imprevisíveis até o humor zombeteiro.

Algo que mexe com a dinâmica da história é a presença corriqueira da jornalista Giuliana, personagem original de O Grande Círculo, que funciona como uma parceira do crime para Indy, graças às similaridades inusitadas entre os trabalhos da dupla. Ela é mais do que uma “sidekick”, ajudando no combate e adicionando peso à trama com aparições na campanha e missões secundárias.
Isso nos leva ao fato de que a força aventuresca também aparece com intensidade nas atividades opcionais. Apesar da estrutura previsível da campanha, na qual você é levado a mundos semi abertos em sequência ao progredir, o jogador fica livre para explorar as áreas, que são recheadas de coletáveis (como gibis e cartas de tarô), quebra-cabeças, segredos, baús escondidos, locais fotografáveis e missões variadas — um belo desvio da rota principal.
Ter áreas abertas com conteúdo opcional é uma ideia relativamente simples, mas inteligente e funcional para o gênero, ainda mais quando o próprio jogo instiga a curiosidade ao oferecer uma lista de afazeres. Completar tudo é bem satisfatório, já que é acompanhado de recompensas significativas como melhorias passivas e habilidades que aprofundam a jogabilidade. Além de render momentos em que você se sente um verdadeiro arqueólogo ao solucionar puzzle para encontrar um artefato há muito esquecido numa tumba arcaica.

A exploração, no entanto, não é tão fluida quanto poderia ser, graças a uma escolha de design relativamente ultrapassada. Itens de atividades secundárias só aparecem quando a missão relacionada é ativada, o que desmotiva explorar às cegas. Um exemplo é que você pode trombar numa prisão e tentar procurar pela chave das celas, mas ela não vai aparecer até a missão ser ativada, prejudicando a experiência.
Chicotadas bem dadas
Heranças de Wolfenstein guiam a jogabilidade, proveniente das semelhantes que acompanham a câmera em primeira pessoa, mas com uma chicotada bem dada de Indiana Jones. Brincadeiras à parte, o combate em primeira pessoa é focado em socos, bloqueio e contra-ataques.
Há um incentivo silencioso, no entanto, para o jogador pender à furtividade na maior parte do tempo. Afinal, sabemos que Indy não é um lutador nato, então abater inimigo na surdina com uma arma improvisada é bem mais a cara do arqueólogo. Apesar disso, há opção do uso de um revólver para quem preferir mais ação.
Curiosamente, o chicote não é o elo da jogabilidade, mas ajuda a alcançar locais específicos nas alturas e desarmar os adversários. Acredite: não há nada mais satisfatório do que chicotear a mão de um fascista e usar a própria arma dele para dar o que ele merece no meio da fuça.

Tal jogabilidade, porém, também tem seus percalços. Uma delas é a repetitividade a longo prazo que, apesar do desbloqueio de habilidades e melhorias ampliarem o leque de combate do Indy, o alicerce de estratégias é o mesmo do início ao fim: se esconder, encontrar uma arma improvisada e abater um atrás do outro, ou sacar o revólver e o chicote para confrontos diretos.
Seja como for, você naturalmente se vê fazendo as mesmas estratégias a todo momento, uma vez que não importa a combinação para ter o mesmo resultado.
Outro problema, e provavelmente o maior deles, é a inteligência artificial dos inimigos, que é bem rasa. Eles rapidamente esquecem a posição do Indy e nem escutam objetos caindo ou o coleguinha sendo abatido a dois passos de distância com uma panela. Além disso, situações bizarras, como o Indy usar uma tirolesa no meio da cidade enquanto usa vestes de padre, não alertam nenhum guarda. Assim, O Grande Círculo aposta muito na “licença poética” de ser um jogo e deixa o realismo de lado, o que não é necessariamente negativo, mas quebra um pouco a imersão.
Epítome de um jogo de aventura
Indiana Jones e o Grande Círculo não é um jogo perfeito, e o charme dele está justamente nisso, em não tentar ser algo extremamente ambicioso ou revolucionário, mas uma experiência que faz jus ao gênero e à franquia criada por George Lucas.

Assim, o mais novo título da Bethesda cumpre o objetivo com uma aventura irresistível aos fãs da saga, que oferece cerca de 40 horas de conteúdo ao todo — o suficiente para se manter ocupado até Indy retornar às telonas.
Indiana Jones e o Grande Círculo está disponível para Xbox Series X|S, PC e Game Pass.
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