Em abril de 2019, o mundo lamentou o incêndio repentino que destruiu parcialmente a Catedral de Notre-Dame, um dos pontos históricos mais importantes de Paris, na França. E, após cinco anos com as portas fechadas, o local finalmente será reaberto neste sábado (7).
O monumento gótico passou por uma restauração intensa nos últimos anos, chegando a custar cerca de 700 milhões de euros ao todo. O incêndio, cuja causa é desconhecida até hoje, mobilizou o mundo na época, fazendo as pessoas relembrarem a importância da preservação histórica e cultural — e, curiosamente, até como os videogames também podem fazer parte disso.
Isso porque, poucos dias após o acidente, muitos fãs de Assassin’s Creed se lembraram que uma réplica de Notre-Dame está presente em Assassin’s Creed Unity (2014), jogo da franquia que é ambientado em Paris, durante o período da Revolução Francesa.

Apesar de muitos acreditarem que o modelo digital da catedral de Unity foi usado como referência na reconstrução, a verdade é que o papel do game foi algo mais lúdico, mas não menos importante.
Além de uma doação de meio milhão de euros, a Ubisoft ajudou a reforçar o legado cultural dos videogames com seus próprios jogos. Por isso, a empresa convidou o NerdBunker para conversar com dois historiadores, Maxime Durand e Thierry Noël, que atuam na equipe de pesquisa e criação de mundo dos Assassin’s Creed.
Num papo histórico (trocadilho intencional, é claro), a dupla explica como as recriações de ambientação da franquia são feitas — e também reflete como Notre-Dame fez a própria Ubisoft perceber o que tem em mãos.
Sobre autenticidade
A recriação de um período histórico num Assassin’s Creed é um processo demorado, segundo Durant. O próprio Unity, por exemplo, teve um ciclo de produção de quatro anos, começando por pesquisas de equipes lideradas pelos historiadores, que costumam ser compostas por seis integrantes.
"Pesquisamos muito para reunir o máximo de informações no início e também tentamos entender o que o público já conhece sobre aquele período. [Tudo isso] para saber quais são as expectativas dos jogadores, e como podemos usar até concepções populares falsas a nosso favor. Com Unity, temos a Revolução Francesa, por exemplo, que define a França até hoje em termos de constituição e política. A partir disso, tentamos entender como esse fato aconteceu no passado e como ele é entendido atualmente. [...] Aí documentamos tudo e damos início à produção. Geralmente começamos com a criação de personagens e acontecimentos-chave da história para, então, mergulharmos em materiais mais específicos”, explica.
E a ideia para essa recriação de um período específico é ter “autenticidade” em vez de “fidelidade” como palavra-chave, reforça Noël.
Isso porque muitos elementos, monumentos e até locais da época da Revolução Francesa deixaram de existir com o tempo, então os desenvolvedores buscam por fontes históricas para preencher a lacuna com elementos fictícios que façam sentido: "É importante para um Assassin's Creed ter o enfoque histórico, porque é um salto para o passado. Mas nossa abordagem é ser autêntico, até mais do que ter uma fidelidade 100%. Queremos que seja uma experiência autêntica, o que nos dá espaço para criatividade”, completa.
A parte curiosa é que essa ideia persiste até com monumentos que ainda existem, e a própria Notre-Dame é um exemplo. Segundo a dupla, a recriação de Unity é uma mistura entre duas versões da catedral gótica — do século XIX e de antes do século XVIII — e levou cerca de cinco mil horas para ser concluída, a fim de transmitir a sensação que era frequentar o local naquela época.
Foi um dos monumentos mais desafiadores para os desenvolvedores, mas Durant e Noël contam que a Ubisoft só percebeu, de fato, a importância da recriação após o incêndio em 2019.
"Acho que antes não percebemos que estávamos criando um legado cultural. É algo que só percebemos, infelizmente, depois do incêndio em 2019. Percebemos que tínhamos uma versão digital, uma versão sobrevivente, que manteria viva a ideia de Notre-Dame, tornando-a acessível para as pessoas. [...] Afinal, jogos são uma maneira de descobrir história e culturas. Os jogos também são muito imersivos, de um jeito diferente de livros, museus e afins. Temos esse impacto. Mas é importante ser humilde, ainda é um jogo, então não é a maneira mais direta de aprender sobre história, mas não deixa de ser uma oportunidade, ou um convite para se interessar e saber mais”, explica Noël.
Por fim, Durant reforça que nunca tinha visto tantas pessoas voltando a atenção ao jogo, mesmo após cinco anos do lançamento.
Isso fez a Ubisoft ver a situação como uma oportunidade para incentivar a espalhar versões digitais de Notre-Dame, com atividades em VR, vídeos em 360 graus no YouTube e até disponibilizando gratuitamente Unity na época: “Acho que tivemos um papel importante de espalhar a palavra não só de Notre-Dame, mas também da importância de locais, monumentos e patrimônios históricos num geral. [...] Nunca imaginei que trabalharia com videogames, mas fico feliz em trabalhar em algo que transmite história e informações de uma forma que chama a atenção e entretém, porque os videogames realmente têm essa força!”.
Assassin’s Creed Unity foi originalmente lançado em 2014 e está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC.
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