Há mais de um século de diferença entre o lançamento do Nosferatu clássico, de 1922, e a nova versão de Robert Eggers (A Bruxa), que chega aos cinemas este mês. Só que, apesar dos óbvios e gritantes avanços do mundo em praticamente todos os aspectos, muita coisa permanece igual (para o bem ou mal).
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Tal aspecto da produção é destacado pelo elenco de peso, com estrelas como Willem Dafoe, Emma Corrin, Nicholas Hoult, Aaron Taylor-Johnson e Lily-Rose Depp, que falou em mesa redonda com o NerdBunker, a convite da Universal Pictures.
Se o Nosferatu de F.W. Murnau era, entre muitas coisas, uma alegoria à gripe espanhola, que assolou o mundo no início do século, a nova versão, curiosamente, também chega depois de uma grande pandemia, e no meio de discussões cada vez mais importantes sobre saúde mental.
Essa jornada é representada pela trajetória de Ellen, protagonista da trama e um vítima não só do vampiro Orlok, como de toda a sociedade que a condena, como explica Lily-Rose Depp:
“Hoje em dia, sabemos muito mais sobre muitas coisas, em termos de doenças, saúde mental, medicina… Ellen é uma vítima de seu tempo. No filme, ela está à mercê de pessoas que acreditam fazer o melhor para ela, mas não a entendem de fato. Ela chama a escuridão para si porque se sente muito sozinha com esses sentimentos.”

Na trama, a jovem vê a vida virar de pernas pro ar quando desenvolve uma estranha e doentia relação com o vampiro vivido por Bill Skarsgard. Enquanto o amor obsessivo dos dois destrói tudo e todos ao redor, Ellen encontra abrigo na amizade de Anna, com a sororidade empregando um papel importante na jornada das personagens.
“Há muitos tipos de amor no filme, e a amizade entre Ellen e Anna certamente é um deles. São quase opostos de luz e sombra, mas elas têm uma relação muito poderosa. Vemos como irmandade e amizade podem transcender esses horrores. Anna deixa as próprias crenças de lado e quer estar junto da amiga. É um amor sem julgamentos”, explica Emma Corrin.
Anna e o marido, Friedrich, vivido por Aaron Taylor-Johnson, representam um grau de “normalidade” na trama, como um casal que se vê sugado aos horrores de Orlok. Só que, tratando-se de uma trama de época, é claro que, mesmo com as melhores intenções, o homem da relação é parte de uma estrutura machista que representa mais um peso no drama da protagonista, como reconhece o próprio Taylor-Johnson:
“Friedrich é um cara muito racional e pragmático. Ele confia na palavra de médicos e outros homens e, mesmo sendo um cético, de certa forma, para ele, é mais fácil acreditar em um vampiro do que na independência e sexualidade feminina! [risos]”
A sombra do vampiro

É lógico que boa parte do apelo de Nosferatu é o grande vampiro. Numa manobra corajosa, o longa evitou expor o visual de Bill Skarsgard em trailers, cartazes e peças promocionais, mesmo com o visual de Orlok sendo, facilmente, um dos maiores pontos de venda do filme.
Falando ao NerdBunker, o elenco também faz mistério sobre o que veremos em tela, mas adiantam que, mesmo sob a fria luz dos bastidores, Skarsgard meteu medo até em quem já esperava se impactar. Nicholas Hoult explica:
“Nos primeiros encontros com Bill, você não vê muito ele. É sempre uma sombra, uma figura macabra. Até nisso ele consegue ser assustador, em grande parte por conta do brilhante trabalho de Bill. Orlok é intimidador, especialmente em muitas cenas em que estamos em locais mais apertados, e o jeito que muitas sequências foram filmadas.”
E Emma Corrin completa:
“Robert [Eggers] mandou Bill não interagir muito com a gente nos bastidores, e acho que ele entendeu o recado. A ideia era não deixar a gente se acostumar com a maquiagem e as próteses. Foi um trabalho muito desgastante pra ele, se cobrir de próteses da cabeça aos pés. Quando estávamos no set, o foco era total, queríamos fazer as cenas, tirar o que precisamos e a visão de Robert da melhor forma possível.”
Velhos parceiros, novos desafios

Nosferatu marca também o reencontro de Robert Eggers e Willem Dafoe após o claustrofóbico O Farol (2019). Aqui, o astro de Homem-Aranha (2002) vive o professor Albin Eberhart Von Franz, o representante da ciência e racionalidade (ainda que com um pezinho no oculto) na luta contra Orlok.
Mas é claro que há uma enorme diferença entre uma produção praticamente carregada por dois atores e um cenário, como O Farol, com algo no nível de ambição de Nosferatu, como explica Dafoe:
“É um aperfeiçoamento do que fizemos juntos em O Farol. Nosferatu tem um escopo muito maior. São 60 sets, muita coisa prática, feita com as mãos, cenários inteiros construídos do zero, fora as incríveis locações na Europa. O Farol era basicamente um show de duas pessoas, agora, temos muitas partes em movimento. Lembro de uma cena em que há pelo menos uns oito personagens importantes em tela, todo mundo com diálogo, movimento, e num mesmo plano. É uma pintura muito maior.”
E se começamos o texto tratando sobre como o mundo de 1922 não anda exatamente tão diferente quanto o de 2024, Willem Dafoe também brinca sobre como o médico excêntrico, levemente louco e conspiracionista se sentiria em casa nos tempos atuais:
“Ele teria um website! Um programa de TV! [risos] A verdade é que ele é um cientista antigo, que confia muito na experiência, em colocar a mão na massa e testar, mas também abre espaço para o instinto. Vemos isso na relação dele com Ellen. Ele tenta resolver as coisas de forma prática, mas também está disposto a encarar o lado mais oculto e subjetivo das coisas.”
Nosferatu chega aos cinemas brasileiros em 2 de janeiro de 2025. Siga de olho no NerdBunker para mais novidades. Aproveite e conheça todas as redes sociais da gente, entre em nosso grupo do Telegram e mais - acesse e confira.