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Não Se Preocupe, Querida | Crítica
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Não Se Preocupe, Querida | Crítica

Impulsionado por polêmicas, filme sabota as próprias ideias em um suspense insosso

Gabriel Avila
Gabriel Avila
20.set.22 às 17h29
Atualizado há mais de 2 anos
Não Se Preocupe, Querida | Crítica

Nos meses anteriores ao lançamento, Não Se Preocupe, Querida passou a chamar atenção por diferentes razões. O longa chegou às manchetes pelo prestígio de ter sua estreia mundial no Festival de Veneza, e também por conta das várias polêmicas de bastidores. Infelizmente, todo esse falatório voltou os holofotes a um filme que não tem muito a oferecer e fica aquém de toda essa expectativa.

Em seu segundo longa na direção, Olivia Wilde decidiu se afastar da comédia, gênero em que brilhou no divertido Fora de Série (2019), em favor de um suspense com toques de comentário social. Infelizmente, a ambição da cineasta é prejudicada por um roteiro que sabota as próprias ideias – que, por sua vez, passam longe de ser originais.

O longa acompanha Alice (Florence Pugh) e Jack (Harry Styles), casal que aparenta viver a vida dos sonhos em uma comunidade experimental que lembra a década de 1950. A paz da dona de casa é abalada quando coisas estranhas levam a suspeitas a respeito de segredos que a empresa do marido parece esconder.

Com essa premissa, Não Se Preocupe, Querida comete um erro fatal para a construção de seu suspense. Escrito por Katie Silberman (também de Fora de Série) com base em um rascunho de Carey e Shane Van Dyke, o texto abandona qualquer sutileza para estabelecer a tensão. Ao invés de sugerir e provocar o espectador com a dúvida, o longa entrega a resposta rápido demais e passa boa parte de sua duração tentando despistar o público em vão.

Se torna impossível investir no mistério quando parte da solução já foi apresentada, especialmente quando a construção dele é tão derivativa. Por mais que o espectador fuja de comparações, são várias as situações que remetem a outros filmes que, em sua maioria, executaram os mesmos eventos com mais graça. Não ajuda que a montagem seja picotada ao ponto de tirar qualquer impacto ou que a trilha sonora se contente em tentar forçar um pavor que nunca foi conquistado de verdade.

É uma pena pois, na teoria, a trama de Não Se Preocupe, Querida reúne questões que poderiam trazer um sabor próprio ao suspense, um gênero tão revisitado. Infelizmente, cada boa ideia acaba prejudicada por um texto com pouca sofisticação e aborda cada uma dessas de maneiras rasas e óbvias.

Essa falta de sutileza não é vista na direção de Wilde, que explora a rotina de sua protagonista para estabelecer uma claustrofobia que começa mesmo enquanto tudo vai bem. Nesse ponto, o design de produção de Katie Byron (Dirk Gently's Holistic Detective Agency) se torna uma das maiores forças da produção, ao usar a luxuosa ambientação de uma comunidade suburbana dos sonhos para construir um labirinto tão belo, quanto opressivo.

Unindo forças com a cinematografia de Matthew Libatique (Cisne Negro), Wilde conduz Não Se Preocupe, Querida com competência. É uma pena que toda a plasticidade das cenas adicionem muito pouco à proposta de causar angústia e curiosidade ao público. O mesmo vale ao elenco, especialmente à sempre excelente Florence Pugh, que dá vida a Alice com uma intensidade que quase compensa os fracos diálogos que precisa executar. Outro destaque é Chris Pine, cuja presença magnética se torna um grande chamariz sempre que entra em cena.

Dito isso, é interessante perceber que Não Se Preocupe, Querida não chega a ser um desastre inassistível. É um longa mediano que erra mais do que acerta no que se propõe, mas que certamente passaria batido se não fosse a pretensão em levá-lo a festivais cultuados e as polêmicas que o envolvem.

Nesse ponto, o filme lembra a lenda de Ícaro: poderia voar tranquilamente pelos céus da mediocridade sem muita turbulência. Mas ousou um voo alto demais para asas fracas que não sustentam, causando uma queda digna de preocupação.

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