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Moonfall: Ameaça Lunar | Crítica
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Moonfall: Ameaça Lunar | Crítica

Filme catástrofe resgata inocência na ficção científica sem medo da galhofa

Gabriel Avila
Gabriel Avila
03.fev.22 às 15h00
Atualizado há mais de 1 ano
Moonfall: Ameaça Lunar | Crítica

Um evento de proporções catastróficas coloca a vida na Terra em perigo, obrigando a humanidade a tomar medidas desesperadas para sobreviver e, com sorte, salvar o planeta. Premissa básica de qualquer filme catástrofe, essa descrição cai como uma luva em boa parte dos projetos de Roland Emmerich, responsável por alguns dos mais memoráveis do gênero. O diretor volta ao desastre com Moonfall: Ameaça Lunar, que usa a galhofa a seu favor no resgate de um olhar mais inocente na ficção científica.

O armagedom da vez é causado pela queda da Lua, que sai de órbita após ser atingida por uma força oculta. A última esperança é a inusitada parceria entre os ex-astronautas da NASA Jo Fowler (Halle Berry) e Brian Harper (Patrick Wilson) com o duvidoso pesquisador K.C. Houseman (John Bradley).

Moonfall não escapa dos clichês das catástrofes, gênero que lentamente entrou em uma zona paradoxal. Se por um lado, os avanços de efeitos visuais proporcionam cenas de destruição mais ricas e impressionantes a esses filmes, por outro a fórmula dessas histórias se tornou tão batida que o enredo se torna mais do que previsível. Felizmente, o longa tem uma equipe experiente que sabe usar a receita a seu favor.

Diretor e co-roteirista de Independence Day, 2012 e O Dia Depois de Amanhã, Roland Emmerich constrói a trama a partir de recursos que utilizou indiscriminadamente antes. A diferença é que, dessa vez, há uma autoconsciência fundamental para que chavões – como o famoso caso do cientista que não é ouvido pelas autoridades – sejam interessantes o suficiente para levar a jornada adiante e garantir a imersão.

Essa mesma autoconsciência dá a Moonfall a coragem de se jogar na galhofa sem um pingo de vergonha. A história conta com boas doses de pseudociência, soluções milagrosas e frases de efeito ao ponto de, por vezes, cair na comédia involuntária. A mistura coloca a produção em uma situação divisiva, podendo irritar o espectador menos disposto a aceitar esses momentos absurdos.

Embarcar na viagem é opcional, mas faz parte da experiência que o longa conduz na busca de resgatar o lado esperançoso da ficção científica. O gênero sempre foi terreno fértil para alegorias sobre problemas enfrentados pela humanidade, e os caminhos tortuosos que a realidade tomou nos últimos anos deu matéria prima para que criadores bolem sátiras e críticas cada vez mais cortantes. Não é acaso obras como Black Mirror e Não Olhe Para Cima surgirem como fenômenos instantâneos.

No momento em que a realidade toma caminhos absurdos e revoltantes, essa vocação tem aparecido de forma cada vez mais grave e ácida. Há quem diga que histórias focadas em conspirações e verdades escondidas perdeu a graça, já que esse tipo de pensamento aos poucos ganhou legitimidade ao ponto de comandar narrativas que podem levar ao engano e à morte no mundo real. E é nadando contra a correnteza que Moonfall mira na retomada de um entusiasmo inocente que não se vê há um tempo.

Seguindo obras do gênero lançadas na virada, o longa aposta todas as fichas na jornada de pessoas desacreditadas que buscam triunfar ao fazer o que todos ao redor julgavam impossível ou tolo, deixando a velha mensagem de que a união é capaz de salvar a humanidade. E faz todo sentido resgatar teorias de conspiração, desconfiança nas autoridades e até um pouco de horror cósmico nesse caminho, um manifesto de que a ficção pode focar puramente em diversão.

É claro que a ingenuidade tem seu preço, deixando o discurso de Moonfall raso e inconsistente. O que não chega a ser problema porque não há o menor interesse em aprofundar qualquer paralelo que possa ser feito com o mundo real. A grande estrela aqui é o espetáculo do desastre.

As cenas de destruição são constantes e grandiosas, unindo a urgência da fuga dos sobreviventes com uma admiração que se justifica em uma produção cujo grande chamariz é justamente a catástrofe. E embora elas sejam um ponto-chave, o filme as distribui em meio a missões e obstáculos que garantem um ritmo consistente que foge do tédio.

Mas o espetáculo cobra seu preço. Grandiosos nos momentos de exploração espacial e de catástrofe, os efeitos visuais aparecem desleixados nos vários momentos em que o caos ainda não está a caminho. É especialmente frustrante que o chroma key (popularmente chamado de “tela verde”) salte tanto aos olhos durante um simples passeio de moto logo após retratar com detalhes uma enchente de proporções bíblicas.

Também é impossível ignorar a atuação medíocre de quase todo o elenco, que com exceção de Patrick Wilson, John Bradley e Michael Peña parece perdido. Sobra até para Halle Berry, que aparece no piloto automático e se vale por performances ainda piores de colegas como Charlie Plummer e Eme Ikwuakor.

Mesmo com problemas pelo caminho, Moonfall: Ameaça Lunar diverte justamente por não se levar a sério. Sem a pretensão de ser um novo marco dos filmes catástrofe, a produção mergulha de cabeça no exagero com honestidade o suficiente para conquistar quem estiver disposto a celebrar uma fantasia caótica que se importa mais com a diversão do que com a lógica.

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