Uma resenha para os apressados: Em Ritmo de Fuga (Baby Driver) vale cada centavo do seu salário suado (ou mesada) e cada segundo do seu tempo na sala de cinema. Fecha a conta, abre outra aba aí e você já pode passar para o próximo texto aqui do site.
Mas se quiser saber por que eu falo com tanta certeza, continue.
Baby Driver (vamos chamar de Baby Driver porque Em Ritmo de Fuga é uma das piores escolhas possíveis) arranca aplausos durante a exibição. E não é figura de linguagem: em alguns momentos, eu bati palmas! Claro, nada que fosse atrapalhar a experiência de outras pessoas na sessão, mas é que, simplesmente, não teve outro jeito. Também soltei alguns "Caramba, não é possível!", "Não vai ter corte?", "O-lha-es-sa-ce-na-aí!", etc. Peço desculpas se fui um mala.
O começo do filme é arrebatador. A música se move com o filme ou o filme flui como a música. Uma acorde, um bater de porta, uma batucada na lateral do carro, um plano-sequência incrível: você está fisgado. Não existe corte brusco em Baby Driver, a cena anterior prepara para a próxima e assim você segue assistindo, ouvindo, antecipando como vai ser surpreendido no momento a seguir. As transições fluidas usam objetos e recursos diversos, a câmera vai, volta, e estamos em outro lugar — sem nem piscar os olhos.
Você "vê a mensagem", entende o contexto, compreende quem é cada personagem. Ele não precisa dizer o que é: ele mostra. É o recurso de grandes escritores, de grandes histórias e é o recurso que ele usa em Baby Driver — porque ele é, antes de tudo, um grande contador de histórias.
E assim você descobre sobre Kevin Spacey (Doc), que até brinca de Frank Underwood, Jamie Fox (Bats), um lunático/justiceiro/sociopara, Jon Hamm (Buddy) e Eiza González (Darling) interpretando um casal criminoso com bastante fogo, Ansel Elgort (Baby), o protagonista que gera empatia imediata, Lily James (Debora) que saiu, com toda certeza, de um filme antigo especialmente para atuar no filme de Edgar Wright.
Em determinado momento, atônito, é provável que você pense: "Eu não sei como esse filme vai terminar!". E é tão bom se sentir assim, no meio de tantas produções que a gente senta e assiste só esperando pelo fim ou pelo recurso "salvador", o superestimado plot twist, que finalmente nos tira da linearidade de uma obra (que você vai esquecer minutos depois). Em Baby Driver, você não espera nada: o acordo que o diretor e roteirista propõe nos primeiros minutos é mantido até o final, "Confie em mim" — ele diz — "vai valer tanto a jornada, quanto o desfecho. Esse não é só mais um filme". (Ele não fala isso, de fato, mas foi o que escutei).
O que ele realmente disse em uma das centenas de entrevistas que fez para divulgar o longa: "É um filme de perseguição de carros guiado pela música". E é mesmo uma maneira excelente de resumir tudo — se você precisa colocar no verso do Blu-Ray. Como esse não é o caso aqui, a gente pode falar um pouco mais: Baby Driver é um filme de ação, com direção ousada e longe de ser preguiçosa. Roteiro inteligente, sagaz, de humor refinado, sem prescindir de elementos pop e de fácil identificação para o público: o romance (tão louco quanto bonito), o passado complicado e triste e a superação de todos os desafios. Mas não é por isso que trata a audiência de forma idiota — não mastiga e enfia goela abaixo soluções simples e personagens lineares.
Se você não ligar para nada disso que falei acima, não se importar com a belíssima cena na lavandeira ou com a loucura que acontece ao som de Tequila, do grupo The Champs, ou com os momentos sarcásticos e emocionantes ao som de Easy (em duas versões, com Commodores e Sky Ferreira), se não reparar nas transições criativas e sutis, ou não rir das piadas colocadas em momentos inacreditáveis, ou até mesmo nem quiser saber sobre as atuações de um elenco que se encaixou perfeitamente na proposta... Se você não ligar realmente para nada disso, Baby Driver ainda é um excelente filme de ação! Então, sem medo de errar, repito: quebre seu cofrinho e vá assistir. Por-que-va-le-ca-da-cen-ta-vo!